terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Licença poética

Um gajo querendo, encontra poesia em qualquer lado. Há quem a encontre de pé, no meio do quarto, olhando através da janela para uma bomba de gasolina. Há quem vá caminhar para o meio da natureza à procura dela e depois a encontre na auto-estrada no regresso a casa. Tinha um amigo na secundária que a encontrava numa música dos Pearl Jam em específico. Prefiro não me lembrar qual. Tive um professor que jurava que se cruzava com ela todos os dias, algures no metro. Tive um outro, antes desse, não muito distante geograficamente mas a quilómetros de espírito, que a encontrava nos artigos de opinião do João César das Neves. Porra, se até há quem a consiga encontrar no cinema do Iñárritu, tem que haver em todo o lado. O que retira algum mérito aos artífices. A não ser que os artífices sejam os sentidos de quem a apreende. Mas aí somos todos poetas. E eu conheço muita gente que de poeta não tem nada. Aliás, fui educado na convicção de que um poeta é alguém que vê algo que escapa à maioria e o transmite de um modo que continua a escapar à maioria mas que toca uns quantos de tal maneira, que são deles para sempre. Ora, isto não se encaixa, nem de perto nem de longe, na descrição da maior parte das pessoas que conheço. Se calhar, há mas é por aí muitos mentirosos, pelo menos em relação à quantidade de poesia que têm nas suas vidas. Ou então não são mentirosos e fazem o que podem, como todos nós. É incrível a quantidade de desculpas que as pessoas arranjam para não abrir um livro de poesia.