Há dias assim, em que um gajo acorda e já não consegue estar adormecido. De repente apercebe-se que há muito que não há areia por cair na ampulheta. E que em vez de construir pontes, chegou o dia das destruir. Mas um país é um questão de amor. É preciso aplicar o correctivo e não ceder, é preciso saber dizer não. E não cair na sweet talk. Esta aí em baixo vai direitinha para as ruas do Cairo (e não, não são os Jáfumega).
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
sábado, 29 de janeiro de 2011
Todo o burro come palha
Novo marcador a reter aqui para estes lados. Delicioso blogue com contribuitores aqui da colina e com um só objectivo, singelo por sinal, estar para a gastronomia nacional como a Bica está para o meio audiovisual português. Agora tenho de ir, tenho uns vol-au-vent de pato no forno que devem estar quase no ponto para a fotografia.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Contabilidade I
Segundo o código de conduta da blogosfera, fazer balanços (de qualquer tipo) do ano anterior nesta altura do campeonato, embora altamente desaconselhável, ainda se encontra dentro do prazo limite consagrado a tal actividade. Assim sendo, balancemos num instante.
O ano passado não foi realmente brilhante ao nível dos discos, tal como o cinema. Aliás, foi um ano que não deu ares de ter sido particularmente brilhante em quase nada, mas quando se pára para pensar um bocado, enfim, percebe-se que não foi assim tão pouco produtivo e darmos por nós a conjugar copiosamente "primeiro" só pode ser bom sinal. Mas adiante, voltemos aos discos. A My Dark Twisted Fantasy do Kanye West é unânime, e só podia mesmo ser, é escusado gastar mais latim no gajo (quem não percebe que desampare a loja). Deerhunter também não levanta grande discussão, Halcyon Digest é dos melhores do ano sem dúvida nenhuma e o universo dos caçadores de veado continua a expandir-se. Os Black Mountain voltaram, o que só por si já é bom (e os doutores dos festivais já os traziam cá), mas Wilderness Heart não é o disco que podia ser (embora tenha uma das capas do ano). Before Today de Ariel Pink tem muita pinta e dá esperança a gente pelo mundo todo. É a prova provada que qualquer gajo que oiça obsessivamente a história da pópe, por mais bizarro ou passado dos caretos que seja, pode sempre fazer grandes discos. Lembro-me de curtir à brava os LCD e o seu This is Happening nos idos da Primavera. Também me lembro de ter sido muito positivamente surpreendido por Archandroid da Janelle Monáe, foi quase como se tivesse gasto toda a pouca paciência para coisas novas em 2010 neste disco. Falando em pouca paciência, Twin Shadow e Hot Chip tiveram grandes singles com Slow e I Fell Better (e grandes vídeos para esses mesmos singles) mas discos nem por isso. O mestre Sufjan deve ter querido provar qualquer coisa com The Age of Adz, mas a mim só me provou que o All Delighted People EP foi bem melhor (desconfio que a já referida falta de paciência teve a sua quota parte de responsabilidade neste processo e sou gajo para me vir a arrepender disto). Os Gorillaz têm neste momento o condão de me irritar ao primeiro acorde de qualquer canção (em Plastic Beach são todas), o que é duplamente irritante porque sempre admirei o Damon Albarn. Irritante também é o mínimo que se pode dizer de Fight Softly, dos Ruby Suns (coração partido neste). Viajar na companhia da M.I.A também já não é o que era, e seguimos cada um o seu caminho. Sei também de um sítio muita fixe onde os Broken Bells podem enfiar o disco deles. National e Walkmen (que se lixem os the's) são duas bandas que neste momento meto no mesmo saco, primeiro fui incondicional das duas, depois quando rebentaram passei a ser aquele fã armado ao pingarelho que explica a toda a gente que o seu disco favorito é exactamente aquele antes da explosão, que não por acaso, em ambos os casos é o disco mais roque (é um cliché indie mas é verdade, Alligator e Bows and Arrows ainda são os meus favoritos), agora sou o gajo que tem inveja de quem adorou High Violet e Lisbon porque eu acho-os uma chatice e não tive pachorra para os ouvir mais que um par de vezes. Por falar em pôr bandas no mesmo saco, chegamos aos Vampire Weekend e aos Arcade Fire. Relação parecida com ambas também, grande primeiro disco para as duas bandas, ambas muito boas em concerto, discos seguintes a pagar a factura das soberbas estreias, Contra e The Suburbs incluídos (mas há diferenças, Contra parece-me claramente um caso de um disco menos inspirado, já os Arcade não é o caso, o disco parece-me de bom nível, eu é que estou algo cansado do épico à canadiana). Crazy for You dos Best Coast, os tais do campeonato de Verão, têm um disco que é um grower, e gosto cada vez mais dele, tal como os Beach House que estão à espera que me passe a pica mais roque para voltar com outra calma a Teen Dream. No capítulo das roquenroladas (inconsequenetes como só as roquenroladas conseguem ser) os Harlem com Hippies e os Strange Boys com Be Brave marcaram pontos e estoiraram tímpanos. Não cheguei a conseguir entrar de verdade em Brothers, dos Black Keys, mas derreti-me por Never Gonna Give You Up (uma das minhas canções favoritas do ano). Ainda uma palavra para Congratulations dos MGMT, responsáveis pelo momento Syd Barrett do ano, e outra para Odd Blood, dos Yeasayer, o álbum desiquilibrado do ano (com outra das minhas favoritas do ano, Madder Red). O El Guincho esteve bem no sophomore effort com Pop Negro (depois da pérola Alegranza! de há uns anos). Cá pelo burgo, os melhores foram o animalismo colectivo de vivenda do Fachada (ainda não fui ao novo à séria mas não parece prometer muito), o roque com pêlo na venta e no peito dos Feromona (gente desóludida sempre fez boa música) e V do Guillul (o primeiro e único disco do séc.XXI parido neste país), mas ainda não me fiz ao dos Linda Martini. A estreia do Paus é simpática qb. Foi também um ano que passei a suspirar por novo disco dos Clap Your Hands Say Yeah, especialmente quando ouvia algumas das linhas de baixo chatísssimas que se fizeram este ano. Onde não tive esse tipo de problemas foi nos meus dois discos do ano: At Echo Lake (a belíssima Time Fading Lines toca aí em baixo) dos Woods e King of the Beach dos Wavves. O Woods deram os tons quentes a 2010, a melancolia, as guitarras bonitas, os versos ainda mais bonitos, os pores-do-sol, as imperiais nas esplanadas no final de tardes solarengas, o encontrar os amigos, o encontrar as miúdas. Os Wavves deram a loucura a 2010, o excesso, as guitarras distorcidas, os versos ainda mais distorcidos, as bebidas brancas nos finais de noites camabaleantes, o não saber onde é que deixamos os amigos, o perdermos as miúdas. Assim de repente, é tudo. Está musicalmente balançado.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Do tablado
Claro que há muitas coisas importantes nesse tão nobre quanto egoísta objectivo de tornar a passagem por um palco prazenteira, tanto para quem o pisa como para quem o visa, mas há que nunca perder de vista que as mais importantes não importam para nada.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Novamente nas minhas sete quintas (ou na nova nuvem)
"Passava-se isto na zona Leste dos Estados Unidos e no género de lugar onde a maior parte de nós vive. No lugarejo sem administração própria de B......., com uma população de talvez duzentos casais, todos com cães e crianças, e muitos deles com criados; a semelhança, mas é só um modo de falar, com uma cidade castreja estava em que os enfermos, os descoroçoados e os pobres não conseguiam subir a íngreme vereda moral que constituía a sua defesa natural, e qualquer um dos seus habitantes, assim que ficasse infectado pela infelicidade ou pela insatisfação, apercebia-se da desesperança da existência em tamanhas altitudes espirituais e ia viver para a planície. A vida era incomparavelmente confortável e tranquila."
em A carrinha de mudanças escarlate, de John Cheever
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
É aparecer
Amanhã pelas 23:00, C de Croché e Os Naperãos no Offbeatz (Musicbox). Roque quadrado, grátis. Duvido que alguém tenha melhor programa para uma quarta-feira à noite.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Às vezes (a aventura)
Há mais de um mês que não oiço nenhum disco novo. Às vezes pura e simplesmente não apetece. Às vezes a mais simples descrição do imaginário da banda, ou do contexto, ou do percurso, ou até da urgência que aquela gente comporta (tudo coisas que normalmente despertam a tal curiosidade) é desculpa suficiente para fazer ouvidos moucos. Às vezes só precisamos de um clássico. De um dos nossos, não dos que vêm nos manuais. De um daqueles discos que sabemos que vão estar sempre lá, sem pressas. Um daqueles discos que ainda não foi acabado sequer. Que pomos a tocar e fechamos os olhos, esperando pacientemente por aquela frase, por aquele pormenor que nunca tinhamos ouvido. Adventure, o segundo dos Television é um desses. Não é a obra-prima que é Marquee Moon, e ainda bem que assim o é. Tem também as maravilhosas (adjectivo que só existe exactamente para adjectivar estas composições) canções de Tom Verlaine e as guitarras (ia dizer maravilhosas mas agora já não posso) de Verlaine e Lloyd. Mas aqui as guitarras não têm a explosão do primeiro disco, em vez de se degladiarem e surpreenderem uma à outra, dançam, flirtam, até se deixarem enlear uma na outra. Há mais dedo de produção e depende menos da química da banda. É um disco bonito como poucos, romântico em toda a sua dolência. Não é um daqueles discos que levam as pessoas a quererem fazer música, muito pelo contrário, desencoraja-as (pelo menos aos mais fracos de espírito). Porque faz tocar guitarra parecer a coisa mais difícil do mundo, e a mais bela. Aí em baixo estão as 3 primeiras faixas do disco de seguida. A segunda, Days, é capaz de ser a canção mais bela que já passou por este blogue. É fechar os olhos.
domingo, 23 de janeiro de 2011
sábado, 22 de janeiro de 2011
Madrugadas Cartesianas II
Ela sabia que nada naquele processo sabia a casual. Ele só fingia que não sabia. O telefonema, os licores em cima da mesa, os amigos que não chegavam, os poucos dias passados desde o fim de ano, tinham um travo textual. Ele só sorria. Ela imaginava-o a sorrir durante todo aquele longo ano que não se viram. Ele só queria que ela abdicasse do cachecol acanhado que lhe sufocava o pescoço. Ela inspirou fundo e por fim, sorriu também. Ele só conseguia pensar na pele marmórea que ela usava para agasalhar o corpo e retribuia-lhe o sorriso enquanto tentava recordar-se do toque dos seus ombros. Ela retirou o cachecol num movimento coreografado. Por entre dois sorvos adocicados, alguém murmurou: "Tu sabes que eu tenho um método..."
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Basic cable is the sheeet!
A tv é uma cena fixe, pelo menos a que chega via cabo. Sim, há muito que há o Conan, o Jon Stewart, uma série ou outra que vale a pena gravar, mas já não é só isso. A televisão já não estupidifica, como tão comummente se popularizou dizer, muito pelo contrário, integrou e absorveu as pessoas estúpidas que ela mesmo criou (as mais talentosas, claro) e transformou-as em puro entretenimento, não poucas vezes, de nível elevado. E para além disso, também educa.
Foi a graças a ela que percebi finalmente o que é que se passa num campo de futebol americano (e o que lá se passa é do caraças), o que não podia ter vindo em melhor altura já que já estamos à porta de nova Super Bowl, que pela primeira vez na minha vida vou poder ver desfrutando de algo mais do que aquela parte quando as cheerleaders entram em campo. Foi também graças a ela (na mesma noite em que me tinha acabado de deliciar com um monumental New York Jets vs. New England Patriots - e os Jets são a minha primeira equipa favorita desta cena) que tive a oportunidade de rever Big Mário, aquele que estava sempre deitado no sofá no primeiro Big Brother e que depois foi preso (penso que por essa mesma razão), num espectacular programa de um canal nortenho, naquela noite dedicado à soap opera à la CSI protagonizada pelo mais recente português a viver o sonho americano: Renato Seabra.
Momento da noite? Foram dois: Mark Sanchez a desempatar o seu particular choque de titãs com Tom Brady (a primeira grande vantagem do futebol americano é que todas as equipas, grandes ou pequenas, têm um nº 10, um artista à séria) no terceiro período com um fabuloso passe de 30 jardas (sim, agora trabalho a jardas) e, last but not least, Big Mário a explicar a um advogado, e passo a citar: "o problema é que o sistema judicial americano não compreende a psicologia do que é crescer em Cantanhede". I rest my case.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Holidays
Houve aqui claramente um gap do último postal para este, não há como escondê-lo. Basta atentar nas datas. Se razões para a ausência tenho muitas, para o regresso tenho mesmo só uma: o genuíno prazer que ainda tenho em escrever aqui. Não sei se são as míudas aí ao lado de naperãos na cabeça (ando há séculos para fazer um restyling disto, mas a verdade é que não consigo), se é a sensação de partilha, se é a sensação de privacidade, ou se, como me disseram no outro dia (merecidamente aliás, a velha estória dos telhados de vidro...), "isso é só porque não tens facebook". Pelo meio houve de tudo, de figuras tristes a enlevos auto-induzidos, de efemérides a funerais, mas acima de tudo, o Natal, o Revelhão e as holidays que os mesmos justificam, ou melhor dizendo, a família, os amigos, e o roquenrole na garagem.
Filipe da Graça continua a dar-me cabazadas na nossa competição privada de quem dá a prenda mais fixe (o gajo está cada vez melhor nisto, mas volto a prometer desforra e para o ano é que é); os velhotes não só já não se queixam de receber prendas como já nem sequer conseguem esconder a ansiedade se não lhes toca logo qualquer coisita; foi dado o primeiro passo rumo ao antigo projecto de C de Croché e Filipe da Graça de oferecer música pelo Natal (a estreia coube à prima Sabrina e pode-se ouvir aí em baixo); Peckinpah aos molhos, porque nada é balanço e resolução ao mesmo tempo como Peckinpah (ou como uma caminhada final e uma troca de sorrisos loucos podem ser uma e a mesma coisa); jams à moda antiga e aquele momento irrepetitível quando se toca pela primeira vez com alguém e se sabe que um dia vamos fazer alguma coisa juntos; a condição humana de que somos todos reféns; a dimensão humana de pedir desculpa por não ter tido condições (lá está a tal condição humana) de interagir mais com as "pessoas"; o surf via LeRoy Grannis e Takeshi Kitano; perceber que um amigo afinal não é o bicho-do-mato que pinta ser, escolheu foi outras praias para frequentar, o que só se pode respeitar (mesmo que se sinta a areia a escorrer de vez pelo meio dos dedos); fechar com arroz de pato extraordinaire e abrir com um mergulho purificador, mesmo que não tenha sido responsável por nenhum dos dois (e ficam aqui os sentidos parabéns aos chefes); rever o sorriso de um puto que merece tudo (e que pelos vistos já anda à procura).
Espero que tenham tido um Bom Natal, um grande Revelhão e que 2011 vá de vento em popa.
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