Há mais de um mês que não oiço nenhum disco novo. Às vezes pura e simplesmente não apetece. Às vezes a mais simples descrição do imaginário da banda, ou do contexto, ou do percurso, ou até da urgência que aquela gente comporta (tudo coisas que normalmente despertam a tal curiosidade) é desculpa suficiente para fazer ouvidos moucos. Às vezes só precisamos de um clássico. De um dos nossos, não dos que vêm nos manuais. De um daqueles discos que sabemos que vão estar sempre lá, sem pressas. Um daqueles discos que ainda não foi acabado sequer. Que pomos a tocar e fechamos os olhos, esperando pacientemente por aquela frase, por aquele pormenor que nunca tinhamos ouvido. Adventure, o segundo dos Television é um desses. Não é a obra-prima que é Marquee Moon, e ainda bem que assim o é. Tem também as maravilhosas (adjectivo que só existe exactamente para adjectivar estas composições) canções de Tom Verlaine e as guitarras (ia dizer maravilhosas mas agora já não posso) de Verlaine e Lloyd. Mas aqui as guitarras não têm a explosão do primeiro disco, em vez de se degladiarem e surpreenderem uma à outra, dançam, flirtam, até se deixarem enlear uma na outra. Há mais dedo de produção e depende menos da química da banda. É um disco bonito como poucos, romântico em toda a sua dolência. Não é um daqueles discos que levam as pessoas a quererem fazer música, muito pelo contrário, desencoraja-as (pelo menos aos mais fracos de espírito). Porque faz tocar guitarra parecer a coisa mais difícil do mundo, e a mais bela. Aí em baixo estão as 3 primeiras faixas do disco de seguida. A segunda, Days, é capaz de ser a canção mais bela que já passou por este blogue. É fechar os olhos.