quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Velho provérbio algarvio

"Via tudo tão grande, tão grande, que se assustou com a pequenez."

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Para o Vôo dos Gambinos, essa instituição maior do humor de violas português

Gambino, os Yuck? Claro, meu amigo, estão é no Mac...  e aqui em baixo.
Bro, um aviso para ti que és um gajo que sobe e desce escadas como um maluco: doucement daqui para a frente ao subir a escada dos Cunhasarméses, em especial ao passar pela porta do segundo andar, ao que parece, o melómano anda mal-disposto...
Está um belo feriado: S.Pedro colabora, contribuindo com a necessária chuva para as filmagens de logo à noite (senão lá teríamos de pagar aos bombeiros para vir fazer chover em cima de Filipe da Graça, o que elevaria o orçamento deste teledisco para o nível Kanye West), está menos frio, e até voltei a coexistir na mesma dimensão espacio-temporal com este blogue, ao escrever o postal de hoje, nem mais nem menos do que hoje.

 

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O talento separar-nos-á

Por estes dias releio O Diabo e o Bom Deus, o meu livro preferido de Jean-Paul Sartre. Dos que li, é o que melhor representa o ideal humanista sartriano. A acção da peça desenrola-se na Alemanha do séc. XVI e tem como personagem principal, Goetz, um fascinante senhor da guerra que, através das suas escolhas morais, vai evoluindo do absoluto para o relativo, do Mal para o Bem. Goetz não quer, verdadeiramente, acreditar nem em Deus nem no Diabo, a sua verdadeira ambição é praticar absolutamente o Mal, ou absolutamente o Bem, para ser ele mesmo Deus ou o Diabo. A sua escolha pelo Bem, só se dará quando se apercebe que o Mal só existe na dependência do Bem, que só se define a partir do Bem, não podendo ser, portanto, absoluto.
A grande questão que fica depois de o ler é: por que raio é que Sartre nunca ganhou um Nobel? Ah, já me lembro! Recusou, mas não o fez sem oferecer aquela que é quanto a mim, a mais singela e  brilhante fundamentação para a recusa de um prémio, fica aqui um excerto (pouco aconselhável a quem sofre de comichões marxistas):
 
"Quando digo "um homem feito de todos os homens", vale para mim como para todos e significa, consequentemente, uma tal comunidade, em profundidade, entre as pessoas, que, verdadeiramente, o que as separa é o que as diferencia; dito de outro modo, acho que é melhor realizar em si, de forma radical, a condição humana, na medida do possível, do que apegar-se a enormes diferenças específicas que chamamos, por exemplo, de talento..."
        

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O possível

Este postal é dedicado a duas das principais razões para cá andarmos: miúdas, e bandas que sabem que um disco é tão melhor quando maior for a faixa final. Isto é o que se arranjou.

 

domingo, 5 de dezembro de 2010

Nabi japonard

 Pierre Bonnard "Nu à contre-jour" (1908)

sábado, 4 de dezembro de 2010

A bit chilly

Não gosto do frio. Nasci e cresci nos mares do sul. Não há volta a dar. Podia viver vinte anos acima do Círculo Polar Árctico, que todos os dias acordaria a queixar-me que está "um bocadinho fresquinho". Mas o frio tem coisas boas. Um homem não consegue sair à rua, quando estão quarenta graus, de calções, t-shirt e chinelos, e sentir-se uma fortaleza inexpugnável, sentindo que aquilo é uma batalha entre ele e o seu Deus. Isso só é possível saindo à rua com o tal casaco que repousa pacientemente durante dez ou dez meses e meio do ano no roupeiro, cachecol, luvas e mais tudo o que couber debaixo do casaco (eu não uso gorros nem cenas na cabeça em geral) para enfrentar aquelas brisas finlandesas que colam cadeiras à calçada e empalham cães à sua passagem. Com o frio, as miúdas besuntam-se de batom para o cieiro. Alguns sabem bem. Aprecio particularmente os que sabem a frutas. Não precisam de ser coisas muito exóticas, afinal de contas não é Verão, é Inverno. Manga, maracujá ou goiaba já é um bocado demais. Um clássico como morango. Frutos vermelhos, vá. As garrafas de vinho do Porto e outros líquidos com mais de vinte graus de álcool reaparecem de repente nas prateleiras dos bares e tascas e irradiam calor só de olhar (embora alguns amigos me jurem que estão lá o ano inteiro). Num fenómeno inverso, as velhas e as cervejas bem geladas são submetidas a um qualquer recolher obrigatório e desaparecem. O que só não é mais triste porque no coração fica-nos a certeza que as cervejas vão voltar sãs e salvas quando as temperaturas subirem.
       

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Daltonismo

Anda tudo com medo de ser mal-entendido e a evitar dizer aquilo que é há muito evidente. Como até tenho vários amigos que não costumam ter papas na língua nestas coisas, andava à espera que um deles se chegasse à frente, mas não aguento mais e está mais que na hora de alguém dizer isto: O KANYE WEST NÃO É PRETO! Sim, My Beautiful Dark Twisted Fantasy é uma obra-prima, sim, ele é o novo Michael Jackson, mas não, ao contrário do que todas as críticas aos seus discos tentam insinuar, ele não é o preto mais cool do mundo (esse título pertence ao Snoop Dogg para aí desde que aprendeu a abanar o tronco). Não o é, volto a repetir, pelo simples facto de não cumprir umas das premissas base mais importantes para ser o preto mais cool do mundo: ser preto! Aliás, o Kanye West não só deixou de ser preto logo ao segundo disco, Late Registration, como já se deu ao luxo de fazer algumas canções que mais parecem saídas da cabeça de um branco ressabiado. Isto é o quão preto ele não é! Atenção, que também não é branco. Naturalmente que não é branco. O Kanye West não tem cor, o que é muito diferente de ser preto, branco ou arco-íris, e coisa que só está ao alcance de quatro ou cinco seres humanos contemporâneos com cuja obra eu já tenho tido o prazer de contactar. A grande vantagem do Kanye West em relação ao Michael Jackson é que, por ser um produto do séc.XXI, pode dar-se ao luxo de, embora não tendo cor, ter uma cor de pele, e assim evitar ter de andar a fazer operações até conseguir que a cor da sua pele corresponda à sua verdadeira cor (o que, como pudemos tristemente testemunhar no caso do Rei morto da pópe, não é possível, o ideal mesmo era o homem ter nascido vinte anos mais tarde, mas aí, o séc.XXI de que falo, provavelmente não existiria).
Alguém pode honestamente dizer que esse gajo vestido de vermelho contra um fundo branco que está a cantar aí em baixo é um preto? O homem até nos fez a papinha toda e convidou um verdadeiro preto para aparecer só uns segundos para percebermos a diferença.


 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Trabalhosamente

Alguém se deu ao trabalho de contar os advérbios de modo que utilizei em vários dos meus postais para com esses dados fundamentar uma teoria que, trocada por miúdos, defende que a qualidade dos mesmos postais é proporcional ao número de advérbios de modo neles utilizados. Acrescenta ainda, "para meu deleite", pormenores estatísticos tão impressionantes como a demonstração de que o número desses advérbios por mim utilizados "aumenta exponencialmente em dobro" ao número de linhas do postal. Não sei responder a isto. Mas desde pequenino que me apaixonei pela ideia de alguém se dar ao trabalho de seja lá o que for por minha causa.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ansiosamente, aguardo

Sou, por estes dias, um homem extremamente ansioso. Espero uma chamada de um senhor que está a sujeitar  o meu mac a uma baterias de testes, cujos pormenores preferi não saber (mas que desconfio que sejam invasivos em último grau) para não correr o risco de nunca mais o olhar, quanto mais tocar, da mesma maneira. Será o conteúdo dessa chamada a decidir a velocidade (sim, que isto é inevitável) com que receberei cá em casa uma coisa de cor tangerina e um outro aparelho a válvulas destinado a amplificar o ruído, ora popular, ora pedra, emitido por essa mesma coisa que, nunca é demais voltar a referir, é tangerina.
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vermelhidão

Recentemente fui acometido de uma vermelhidão, uma irritação vá. Todos têm as suas. Mais ou menos cutâneas. Mais ou menos consentâneas (com a sua personalidade, entenda-se, e também porque aprecio deveras rimas). Há os que optam por reagir e os que não o fazem. Dentro dos que reagem existem dois sub-grupos fundamentais, ambos muito eficazes em termos do efeito espectacular, visualmente falando, que provocam: os que evitam o contacto com a fonte de irritação e os que, optando publicamente por não evitar o contacto com essa mesma fonte, conspiram nas suas costas com outros amigos médicos falhados, vulgo "dermatologistas", para tentar  aniquilar a fonte da irritação, com pomadinhas subtilmente aplicadas, sem que ela dê por isso. Hoje vou-me alongar sobre a primeira estripe acima referida, por ser a minha favorita: os que reagem evitando o contacto com a fonte de irritação (sobre as outras, aviso já, não faço ideia quando me irei alongar, mas alongar-me-ei inevitavelmente).   
Estas pessoas, à primeira vista, parecem tomar a atitude mais inteligente (no sentido básico da coisa, estilo queimei-me por isso não ponho mais as mãos no fogo, mas já lá vamos) e menos confrontacional. Puro engano. Os seus amigos e simpatizantes geralmente defendem-nos recorrendo ao argumento de que são seres humanos justíssimos e cheios de princípios, mais humanos que os outros, portanto, uma espécie de fiéis depositários da indignação do mundo (não podemos censurar os amigos porque, realmente, não é fácil arranjar argumentos, tirando uma malformação congénita, que justifiquem tantas rugas na testa, sobrolhos franzidos e lábios alvitados). Estas pessoas são facilmente identificáveis pelo uso mais que abusivo de expressões como "detesto hipocrisias", "não estou para cinismos" ou, a minha favorita, quando aparentemente se medem pela quantidade de goma em si aplicada, "tenho a personalidade muito vincada". Começam também muitas vezes as suas intervenções com a expressão "é assim", acompanhada de um movimento assertivo de uma das mãos na direcção do interlocutor (o que por vezes se torna assustador, mas só até nos apercebermos que faz parte do tal efeito espectacular desejado). Na verdade, estas pessoas são praticantes de uma espécie de medicina pró-activa. Não no sentido mais comum de prevenção das ditas irritações mas mais no sentido de definirem antecipadamente quais os organismos que lhes causarão irritação para só depois passarem à fase de fundamentação da dita. Isto, sem nunca se aproximarem sequer da suposta causa da sua suposta irritação. Um ambiente controlado, portanto, ideal para uma patologia auto-infligida. Há duas grandes desvantagens em nos darmos socialmente (sexualmente ou assim, não há problema) com estas pessoas, uma de ordem física e outra de ordem psicológica, muito especialmente se formos assumidamente também amigos ou pelo menos conhecidos da causa da irritação (facto que muitas vezes, os amigos destas pessoas tentam, inteligentemente diga-se,  esconder a todo o custo). A desvantagem de ordem psicológica é que sendo amigo/conhecido da causa da irritação, passamos a ser unicamente um veículo privilegiado para estas pessoas sacarem informações ou fomentarem pequenos mal-entendidos linguísticos que venham reforçar, ou melhor validar, as suas teorias previamente elaboradas em casa (regra geral no sofá, de luzes apagadas, com a lareira a crepitar, passando a mão pelo pêlo do gato). E não vale a pena alimentarem a esperança que numa determinado ocasião isso não acontecerá, porque mais tarde ou mais cedo este tipo de  pessoas arranja sempre maneira da conversa descambar na sua causa de irritação (persistência é outras das suas qualidades). E quando isso acontece, qualquer hipótese de mudar de assunto está mais que posta de parte (e subtileza não é uma das suas qualidades). A desvantagem de ordem física é que este tipo de discurso com que nos brindam não é retórico (é quase, mas, infelizmente, não totalmente), e exige de quem assiste, ou por vezes até, de quem está só de passagem (se for inteligente), um constante e regular abanar de cabeça, que está para estas pessoas, em termos de validação, como um artigo/entrevista no ípsilon para um aspirante a artista cá do burgo. Atenção, que este gesto que vos pode parecer simples, quando repetido ad eternum é altamente desgastante para o pescoço (o abanar de cabeça, não o artigo/entrevista ao ípsilon), e só um treino ao nível de um piloto de F1 vos permitirá sair mais ou menos ileso de uma conversa à séria com uma destas pessoas (nalguns momentos mais sinuosos da conversa podem chegar a ter de suportar forças superiores a 2G's). Vão por mim, que já vi muito pescocinho bem intencionado ceder inapelavelmente.
                     

domingo, 28 de novembro de 2010

Do contorno

Louis Anquetin "Avenue de Clichy" (1897)

sábado, 27 de novembro de 2010

O universo dos caçadores de veado

É um universo grande, tipo o outro, aquele mais mainstream, de que se fala mais. Em nenhum dos dois é o número que impressiona, mas o facto de estar em constante expansão, e a atracção que isso exerce, um renovado convite para os confins das suas fronteiras, só para lá chegarmos e percebermos que o comboio há muito que seguiu viagem. A diferença é que neste universo não há cá big bangs, só pequenas implosões, controladas, cirúrgicas. Não, definitivamente os universos não são só um grande desperdício de espaço.



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Copia Conforme

No já longínquo ano de 1992, um emocionado Kiarostami recebeu o Prémio Internacional Roberto Rossellini pela realização de E a Vida Continua. Em 2010, é Kiarostami quem retribui a honra, convocando Viaggio in Italia para pano de fundo de mais um desconcertante ensaio ao seu estilo, ou seja, sobre a arte, sobre a vida, mas disfarçado de filme. Desta feita, com o pormenor genial de usar esse jogo que faz entre o filme de Rossellini e o seu, como uma metáfora gigante para a questão central do filme: o mérito da cópia perante o original.  Mas não o faz por oposição, porque isso seria muito simples (a dada altura, a personagem de Binoche deixa escapar qualquer coisa como "não há nada de simples em ser-se simples"), fâ-lo antes mergulhando também o espectador na dúvida, largando-o de cabeça no cerne da discussão das personagens, como quem ridiculariza a questão. Tal como Rossellini  em tempos, também Kiarostami nunca nos deixa esquecer que a vida e arte não são dissociáveis. Cada uma insufla sentido na outra.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Naperãos (a banda)

Os Naperãos não são a banda mais coesa do mundo (não ensaiam o suficiente) nem ensaiam o suficiente (não gostam muito de mim), e nem sequer gostam muito de mim (por causa das músicas que os faço tocar). Os Naperãos usam penas às cores no cabelo, não por serem pavões (embora por vezes se pavoneiem) mas porque gostavam de ser uma espécie de Julian Casablancas, se o mesmo fosse filho bastardo da Patti Smith (o que até não é assim tão improvável) e do Keith Richards (menos provável, desconfio do efeito que uma vida de calças tão justas terão na fertilidade dum homem). Os Naperãos não acreditam que a cantiga seja uma arma mas que baquetas e guitarras o são certamente. Um dos Naperãos usa regularmente uns ténis all-star dos The Who, desconfia-se que para fazer pendant com a t-shirt dos The Who a que outro Naperão também dá uso regular. Que se saiba, nenhum d'Os Naperãos gosta dos The Who. Os Naperãos não são uma banda de trad-roque e fogem como o diabo da cruz dessa ideia. Os Naperãos por vezes dispensam a minha presença para tocar a minha música. Os Naperãos esperam ansiosamente a manhã de nevoeiro em que chegarão triunfalmente, e por esta ordem,  D.Sebastião e o FMI. Os Naperãos não gostam de pessoas a olhar para eles enquanto tocam. Os Naperãos estiveram muito empenhados na campanha presidencial de Fernando Nobre até perceberem que ele não é "o gajo da EMI" e não lhes vai arranjar um contrato discográfico.  Os Naperãos decidiram então votar Obama. Os Naperãos são uma boysband roque. Os Naperãos são Filipe da Graça, Didi e Nuno Pontes, e se amanhã à noite houvesse uma recriação da Segunda Guerra Mundial no Maxime, Os Naperãos soar-vos-iam como as V-1 alemãs mergulhando sobre Londres.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Das facturas caídas em esquecimento

Pequena canção escrita à luz da vela. A ideia é ir-se repetindo e subindo de intensidade até o problema estar resolvido.

Cortaram-me a luz
Deixaram-me na escuridão
Tenho de ir à loja
À loja do cidadão
Mas lá tratam-nos mal
Como atrasados
Ao que parece, a luz
É só para seres iluminados

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sorte madastra

Uma feliz conjugação de factores permitiu-me chegar quase ao fim de 2010 sem ter alguma vez ouvido, ou pelo menos sem ter noção de ter ouvido (o que ainda tem mais valor), Florence and the Machine.
Uma infeliz conjugação de factores permitiu-me chegar quase ao fim de 2010 sem ter alguma vez ouvido, e não é possível que o tenha ouvido sem que tenha tido noção disso, Nuggets: Original Artyfacts From the First Psychedelic Era 1965-1968, que é capaz de ser para aí a melhor compilação de sempre para se oferecer no Natal (a alguém que ainda não tenha o Abba Gold ou o Queen Gold, claro).

 

domingo, 21 de novembro de 2010

O suíço pouco neutro

Cuno Amiet "Selbstbildnis in Rosa" (1907)

sábado, 20 de novembro de 2010

Acerca de escudos

Stanley Motss: The President will be a hero. He brought peace.
Conrad Brean: But there was never a war.
Stanley Motss: All the greater acomplishment.

em Wag the Dog, argumento de David Mamet e Hilary Henkin a partir de American Hero, de Larry Beinhart

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Conto de fadas

Na península coreana, a norte do paralelo 38, continua o conto de fadas. O jovem Kim Jong-Un continua a ser preparado pelo pápá para o suceder no trono comunista da Coreia do Norte e o mundo comove-se perante estas públicas demonstrações de afecto e carinho de Kim Jong-Il para com o seu filho. O homem mostra que por trás daquela expressão de vilão de banda desenhada existe um coração, e um coração que não é de pedra. Um coração que não tem medo de gritar para quem quiser ouvir: "O meu filho cresceu e estou muito orgulhoso dele. Está um homenzarrão. Não confiaria em mais ninguém para continuar a matar à fome o nosso povo. Este puto é lindo!(apertando-lhe a bocheca)". Depois das primeiras aparições públicas ao lado do pápá babado e da meteórica carreira militar que o tornou general em uma semana (parece que o pai tem cunhas no exército), eis que chega agora o momento da emancipação e do rapaz cumprir essa ancestral versão comunista de ritual de passagem à maioridade: a sua primeira purga. E como vítimas, nada melhor que os oficiais do exército que foram fiéis toda a vida ao seu pai, tudo gente de quem o rapaz cresceu rodeado, ou seja, o que os Kims apelidam de amigos (nas purgas como em muitas experiências de vida, é sempre mais fácil a primeira vez ser entre amigos, ajuda a diminuir o nervosismo).
Espero que algures em Hollywood alguém esteja a preparar um argumento desta comovente estória de amor. E que Baz Luhrmann seja o realizador escolhido para o projecto. Se o homem conseguiu incutir o glamour e a grandiosidade que se viu nos aborígenes australianos nem quero imaginar o que será capaz de fazer com estes selvagens.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Da loucura do mundo moderno

Dizem que somos cada vez mais informados mas sabemos cada vez menos. É mentira. Há é muita coisa que gostávamos de não saber. Dizem que se chama a isso crescer. Também é mentira. Crescer é só um dos resultados possíveis. Às vezes escolhemos não o fazer. Mas somos curiosos. Como gente crescida. E  sabemos que a curiosidade só mói. De tão natural o caminho, achamos que a estrada é que nos percorre. Não nos desviamos do caminho. Não nos conseguimos desviar do caminho. Quando nos desviamos é bruscamente. Às vezes precisamos de capotar. Sabemos que não vamos morrer. Isso é só depois de vivermos. Seja como for, isto do viver nunca acabou bem para ninguém. Conhecemos bons homens. Conhecemos boas mulheres. Conhecemos mais bons homens que boas mulheres. Talvez porque sabemos medi-los melhor. Mas não confundimos as leis dos homens com a Lei do Sangue. Aceitamos a sua violência. Abraça-mo-lá até. Dá-nos paz. Quando vemos um muro derrubado, reconstruímo-lo. Temos que sentir como é derrubá-lo. Lamentamos se sentimos muito. Sentimos muito se lamentamos.  Acreditamos na palavra. Acreditamos na palavra amizade. Acreditamos no amor. Mas não na palavra amor. Sabemos menos do que achamos saber. E queremos saber mais sobre isso. Levamo-nos muito a sério. Mas não damos importância nenhuma a isso. Gostamos de gozar com os outros. Gostamos de gozar connosco próprios. Dizem que se chama a isso humor. Também temos disso.



quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O teledisco, pt.2

Foto de Fred Montagne

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O fogo que tudo consome


Foi um zapping completamente displicente - um daqueles em que a televisão só lá está para receber o olhar vazio, por uns breves instantes desviado do ecrã do computador, enquanto se matuta noutra coisa - que me levou a um grande plano de um homem que parecia em pleno processo de implosão. A câmera tremia como varas verdes (não escondia a zoomada, muito pelo contrário) e o boné e casaco a condizer denunciavam a filiação desportiva do homem. O olhar intenso denunciava a presença de mais alguém na sala e homem algum provoca uma implosão daquelas noutro, só uma mulher. Indícios portanto de estar a decorrer um diálogo veemente, a vulgar discussão, entre um casal. Uns segundos depois, poucos mas de invulgar estoicismo da câmera que perscrutava cada milímetro da cara daquele homem (ou talvez a simples atracção pelo desastre iminente), uma voz chegava finalmente de fora de campo, feminina, seca, magoada. Não era bem um diálogo, era um monólogo entrecortado por trejeitos e esgares e um olhar que oscilava entre o fulminante e o cabisbaixo, que ora projectava ora procurava o seu reflexo na alcatifa em que o homem raspava energicamente os pés. Quando o silêncio se instalou, por um segundo que ressoou pela eternidade fora, tornou-se audível o palco de batalha que era agora o corpo daquele homem. De um lado, a rigidez do maxilar e dos lábios engelhados, e do outro, o carácter que espreitava ao fundo da garganta, recusando-se a ceder às repetidas deglutições em seco. O combate terminou com uma meia vitória do carácter (já vão perceber), e o homem disparou com a força de quem se liberta de  anos de agrilhoamento: "mulher alguma fala assim comigo". E tão depressa o disse como lhe virou as costas (não há vitória possível quando se tem de virar as costas a uma boa mulher). Depois mudei de canal. Não me pareceu nada bonito da minha parte estar a partilhar  um momento tão íntimo daquele casal sem primeiro os conhecer melhor. Mas a geografia estava já bem demarcada e aquele calor húmido, aquele cheiro a terra queimada não enganava. Estávamos no território de Tennessee, de Faulkner, de O'Connor. Estávamos no Sul.
Assim conheci Coach Taylor e a sua mulher. Assim entrei em Friday Night Lights. Que, naturalmente, como qualquer coisa bem escrita, é tanto sobre high school football como o The Wire era sobre polícias e ladrões.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

As garotas não sabem playar

No outro dia, uma amiga fez-me um reparo. Disse-me a garota, que as músicas, que por vezes adornam os postais deste blogue, deveriam estar devidamente identificadas e o respectivo play deveria estar colocado no início do postal para que mais eficazmente cumprissem o propósito a que ela as julga destinadas: banda-sonora para acompanhar a leitura do mesmo. Ao que eu respondi: já agora também têm de ter a duração que eu preveja que tu leves a ler o postal, não?
Uma hora, quatro cervejas (tá bem, tá), e muitos paninhos quentes depois, dei por mim a fundamentar a minha opção e a, inevitavelmente, regressar à estaca zero (em termos de paninhos quentes): a música não está identificada porque eu sei perfeitamente qual é, o play está no fim do postal porque é quando a escolho para ouvir enquanto vou ler outros blogues bem mais fixes do que o meu, o que, convenhamos, não é o caso do teu, pois não?
Para melhor deglutição, minha cara, aviso que há um play no fim deste postal, que o som que reproduzirá serão os Deerhunter a tocar a Strange Lights ao vivo (ou a rebentar com um palco, mas isto já sou eu), sugerindo ainda que que leves exactamente 7:29 a ler este postal. Beijinhos.

 

domingo, 14 de novembro de 2010

Les XX

Georges Lemmen "La Vue de La Tamise" (1892)

sábado, 13 de novembro de 2010

A noite do santo não mártir II

No postal de ontem (eheheh) esqueci-me de referir um dos efeitos secundários mais recorrentes (em mim, pelo menos) depois do consumo de uma actuação de Samuel Úria solo style e do qual também já não tinha memória: a compulsiva escrita de letras novas. Ainda o homem não tinha acabado de tocar e já eu sacava do telemóvel para tentar dar vazão à torrente que começava a formar-se na minha cabeça. Se valem alguma coisa ou não, já é outra questão completamente diferente. Parece que o talento inspira e o importante é ter fé (proteste ela ou não).

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A noite do santo não mártir

Ontem foi noite de S.Martinho, o que por estes dias não quer dizer absolutamente nada, tirando o facto de ser mais uma desculpa para se embarcar em noites que não acabam. Um bocado como a passagem de ano sem a rua cheia de pessoas com flutes de plástico na mão e sem imagens de foguetes a rebentar nos céus de Sydney ao meio-dia (e que, dada a proximidade, aproveito para voltar a explicar que é a melhor altura do ano para um gajo se pirar para o estrangeiro, coisa que infelizmente só percebi há poucos anos, mas felizmente antes de ter putos para me impedirem de ir para o estrangeiro ou para me multiplicarem a factura de ir para o estrangeiro, ou até para, como me confessam alguns amigos mais saudosistas, tirarem a piada ao estrangeiro) ou como os santos populares, sem os manjericos e aquela coisa lisboeta de sociedade feudal que se está a cagar para as classes sociais por uma noite. É que já quase ninguém finge sequer que está interessada em comer castanhas ou em beber vinho, cuja principal qualidade nesse mesmo dia é ainda não ser vinho. Mas adiante.
Quis a boa gente do Botequim (qualquer dia levo para lá o mac e tal e faço daquilo a minha sala) e quis o Samuel Úria que tivéssemos direito a uma desculpa bem melhor para celebrar o Yom Kipur ou lá o que era aquilo ontem: nada mais nada menos que um concerto sem amplificação do próprio, no dito espaço. Ora, nenhuma pessoa com dois ouvidos, ou até mesmo só com um, poderá discordar do facto de que isto são excelentes notícias e garante de uma noite melhor passada do que a maioria das que compõem as suas tristes e vazias vidas. Mas a verdadeira excelência de tais notícias só me chegou algures durante a própria actuação, por entre as doses abismais de talento e clássicos absolutos que o bom homem ia destilando, graças a uma palavrinha que não me saía da cabeça: saudade*. Porque, quase sem que me apercebesse disso, há já largos meses que não via um concerto Sami sem banda, o que sem qualquer desprimor para aquela belíssima gente que o acompanha, é a sua verdadeira praia. Digamos que é aquela praia onde o flor-caveirense faz nudismo à moda antiga, sem medo dos olhares ou do escaldão. Diz o povo que a mais genuína saudade é aquela que nos apanha desprevenidos. A ser verdade, fui atropelado por um camião de saudade e nem lhe vi a matrícula.
Enfim, poderia ficar aqui o resto do dia com metáforas mais ou menos rebuscadas para descrever o talento do tondelense mas não o faço por uma razão muito simples: a amizade que nos une. É que a paixão que tenho pelo talento do homem é de tão elevada grandeza que não me responsabilizo pelos elogios que me possam fugir dos dedos, e depois ainda calha ele ler isto e fica uma tensão homoerótica perfeitamente dispensável numa relação de amizade entre dois machos à moda antiga. E para isso já basta a malha aí em baixo.
Ah, e não é que, ao fim da noite, ou melhor, hoje de manhã, não fui para a cama, ou melhor, não comecei o dia, sem comer as ditas castanhas? Cortesia de um espaço que não sendo um bar, tem sido paragem obrigatória nos últimos tempos. Este ano só me faltou mesmo o vinho ainda não vinho. Para o ano é que é.


* Para quem não estiver familiarizado com o conceito, passo a explicitar: saudade é aquele palavra que as bandas de roque estrangeiras eram obrigadas, por contrato, a dizer quando vinham cá ao burgo tocar para mais de 1.000 pessoas, nos anos noventa. E tinha de ser dito com ar de quem já cá tinha estado antes e dado o melhor concerto das suas vidas. Opcionalmente podia ser seguido por um "I missed you?" ou por "This afternoon I went to Bairro Alto and listened to some Fado".

P.S. - Também não me estico mais porque já é terça e tenho de ir escrever o resto dos postais que queria ter escrito nestes últimos dias, fingindo que foram escritos nos próprios. Porque se isto é para existir, é para manter a disciplina do postal diário. E a disciplina é fundamental, como diz o pastor. Assim pelo menos já vou namoriscando com o conceito. E por falar em conceito, nessa mesma noite, sugeriu-se que alguns produtos (é o que chamo aos que são pagos) e conceitos (é o que chamo àqueles em que perco guito), nos quais tenho a minha quota parte de responsabilidade, seriam algo farsolas. Desminto-o categoricamente e sinto-me até ofendido que me achem capaz de tal abjecta falta à verdade. Agora vou escrever o postal de sábado que já é quase quarta.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Postal para a Margarida II


Outra atracção venezuelana do maior interesse sociológico é, sem dúvida, a afamada maternidade de Misses Universo. Fruto do labor de uma vida do Alfredo da Costa deles, que, mais do que proporcionar melhores condições ao nível da assistência materno-infantil às venezuelanas, sonhava um dia poder oferecer uma Miss Universo a cada venezuelano. O edifício, situado bem no centro de Caracas, merece por si só uma visita, destacando-se o efeito espectacular provocado pelas frases de ordem inscritas por todo o interior e exterior do edifício, como: "World Peace" ou "End Hunger in Africa", que, como se sabe, têm tido um efeito tão devastador nas futuras Misses Universo como os escritos nas paredes da estação de metro da cidade universitária têm nos futuros licenciados pelas faculdades da zona.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Em vias de extinção

Sarah: I know he wasn't happy. That doesn't tell you much. I'd no idea how bad it was. I think he purposely wanted to cut off from all of us because he was so unhappy with where he was at.
Nick: Hm.
Karen: Is that true, Chloe? Did you feel that?
Chloe: I don't know. We had some good times. I haven't met that many happy people in my life, how do they act?
Nick: Mm hm.

em The Big Chill, argumento de Lawrence Kasdan e Barbara Benedek

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Coco

Voltou ontem, e a vast wasteland voltou a ser um vibrante meio de expressão cultural. Mesmo que seja via net. Antes da meia-noite, claro. O novo marcador, aqui.

 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Postal para a Margarida

Sabaneta, uma pequena cidade que é a capital do município Alberto Arvelo Torrealba (foi poeta e político, uma espécie de Manuel Alegre lá do sítio, mas sem a experiência radiofónica em Argel). Não só alberga aquela que é unanimemente considerada uma das piores prisões do mundo, La Sabaneta, onde só nos últimos anos morreram mais de 1.000 pessoas (não consta que nenhuma fosse documentarista, pelo menos de profissão), como ainda pariu o mais famoso de todos os venezuelanos (depois de Carolina Herrera e Gustavo Dudamel), Hugo "El Presidente" Chávez. Um must.

domingo, 7 de novembro de 2010

Lá na Escócia

Duncan Grant "Self-Portrait" (1920)

sábado, 6 de novembro de 2010

Vai buscar

Desarmado, percebi
Finalmente toda a estória (não era grande espingarda)
Mas num recanto da minha cabeça
Vislumbrei a glória
Mas não estava escrito assim
No turbilhão da separação
superaste-te em libertação
Não há por aí, um espaçinho para mim?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Nuberu Bagu

Vi recentemente Noite e Nevoeiro no Japão e nele descobri um Nagisa Oshima que não conhecia. O filme data de 1960 e é um dos quatro que Oshima realizou entre 1959 e 1960. É uma portentoso retrato político de uma nova geração de japoneses que se rebelava contra a amorfa e americanizada sociedade saída do trauma da segunda guerra mundial e, descubro agora, um dos filmes chave da Nuberu Bagu, o novo cinema japonês, que foi buscar o seu nome à tradução directa da Nouvelle Vague franciú. 
Mas ao contrário de todas as outras vagas de cinema novo que surgiram por todo o mundo inspiradas na francesa, o movimento japonês tem a particularidade de ter surgido ao mesmo tempo, se não mesmo antes. E salvo as devidas distâncias, podemos arriscar dizer que Oshima foi o seu Godard. A mise en scène, os diálogos e os movimentos de câmera que os introduzem não enganam, são políticos até ao tutano. Oshima tem é uma outra relação com a carne, com o sexo. Em Oshima, o sexo não é usado para validar a entrega, a paixão, a urgência dos personagens como em Godard, funciona antes como expressão do turbilhão interior de cada personagem, e é um exercício de libertação social, política pura portanto. E não falo só de sexo, falo de tudo o que é sexual. Há uma violência latente em cada toque, em cada olhar, que leva o filme para um patamar de intensidade que chega a roçar o cruel. 
Apaixonado, vou agora à procura de Contos Cruéis da Juventude.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Uma questão de corpo

Halcyon Digest passará à história como o momento em que nos apercebemos que aquilo que se vinha desenhando à frente dos nossos olhos desde o primeiro dia, passando por Atlas Sound e Lotus Plaza, era o mais impressionante body of work dos últimos anos. Psychedelic, kraut, dreamy, indie, pop, shoegaze, à la juventude sónica, à la colectivo animal, you name it. E que nunca exigiu muito para ser desfrutado em toda a sua plenitude: um ou dois ouvidos no mínimo estado de conservação e uns bons auscultadores.

 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Postal para o maralhal

A todos os que a mim se abraçam de olhos embargados na rua (os fãs nacionais), a todos os que me entopem a caixa de correio com desesperados pedidos de actualização (os fãs internacionais), a todos os que me incitam a não desistir da luta e me relembram o papel social de qualquer blogue gritando espectaculares frases de apoio (os amigos de esquerda), a todos os que compreendem que tudo tem um fim e não há almoços grátis (os amigos de direita), a todos os que me enchem a caixa de correio com bilhetes e notas românticas (na sua maioria mulheres), a todos os que têm obstruído a porta da minha casa com coroas de flores, velas, bilhetes de condolências e música do Elton John (gente que eu não conheço), a todos os que não têm paciência para mais que ler em diagonal se o postal tiver mais de cinco linhas mas que acham simpático que isto continue a existir (o meu irmão), a todos aqueles que não deixo de ler mesmo que não escreva (os amigos com mãos de fada), mas acima de tudo, a toda aquela maioria silenciosa que por aí se arrasta cabisbaixa, demasiado desanimada para sequer se manifestar, eu digo: Calma!
Até amanhã.


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Mano a Mano"


Interrompo a minha licença sabática para não correr o risco de privar alguém de pousar os olhos neste belo cartaz. Levemente inspirado no papel de parede de uma sapataria Charles onde apanhei valentes secas em miúdo. Infelizmente, o brilhantismo do cartaz ofuscou-me de tal maneira que me convenci de que merecia mais que este palco e vai daí, decidi partilha-lo no myspace. Não foi nada boa ideia. Um simples ok dado a algo que não li foi o suficiente para estropiar (irrevogavelmente, dizem-me os entendidos) a minha, até aqui, singela mas eficaz página no myspace (e isto não é só uma desculpa para linkar  a dita cuja, alguém pode sinceramente dizer que isto é um sítio onde apeteça ficar mais que cinco segundos?). É para aprender a não ser garganeiro.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A geografia da cidade

Quanto mais para norte e mais afastada do rio, maior a tendência para a pessoas verdadeiramente boas serem tratadas na melhor tradição seropositiva. É só elogios mas tocar-lhes, tá quieto.

domingo, 5 de setembro de 2010

Modéstia campestre

Robert Bevan "Mare and Foal" (1917)

sábado, 4 de setembro de 2010

Como num bom western

Retribution time - pode demorar mas chega sempre. E ao pôr-do-sol.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Moloch revisitado

Se inclusive o Todo-Poderoso se tinha dado ao trabalho de explicar a Moisés que o culto a Moloch não era boa ideia - algures lá pelo Levítico, não me perguntem é números - não foi por falta de aviso, não é verdade? E o enquadramento legal qu'Ele sugeria na altura também era bem menos simpático: menos estabelecimento prisional, mais lapidação. É darem graças a Ele por não estarem num qualquer Irão.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Do comprimento do roquenrole

Ele: Oh, young pretty hair. How'd you grow there?
Ela: What it is? What it is?
Eles: Ain't no wonder at all

 

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O teledisco, pt.1

Foto de Fred Montagne

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Actor de método

The whole experience of getting people to do things was incredible. There was a guy named David Pokotilow that we used a lot; one of the people who hadn't acted before. He played the boyfriend and was a chess player and a violinist. He did the first party scene and said "Listen, that's it." And, as you know, that can't be it. "You have got to do this!" He said, "No, I don't want to do this." So he promissed me he'd do a scene running through the park. He didn't show up. We were standing out there in the park. I knew where he lived and I ran over to his house with a couple of other guys. "John, I'm with a girl for Chrissake. I'm not a actor, God, I'm so fat and ugly and I don't want to do this. I don't want to. I just hate it. I hate you." So I said, "David, you have got to do this. If you do it, I swear to God, I'll get you a chess set." I knew he loved chess. "You get the chess set. You come back with the chess set and then I'll do it." So we ran out like a bunch of idiots, got the chess set, came back. He says, "Put it by the door so I can see it." He opens the door and he says, "Ok, I'll do it." So we get down to the park. There's a scene with Tony Ray and I said, "Hey, you run after him." He said, "I'm not running for anybody." I said, "Please, you can run twenty yards?" He said no. I said, "Please run twenty yards." I'm reduced to nothing. And I'm standing there in the sunlight and the cold and everything and Bennie says, "Jesus, man, I'd just deck him.""David, what can I give you?" He said, "A Stradivarius.""I can't give you a Stradivarius. You know I can't afford a Stradivarius, but maybe we can rent it for you." So he ran twenty yards. He said, "That's it." He went home.

em Cassavetes on Cassavetes, de Ray Carney
  

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Esgar rotineiro

Anda um gajo uma vida inteira a tentar cultivar rotinas só em relação a hábitos socialmente censuráveis para de repente, quando pela primeira vez se presta a uma rotina considerada digna de um homenzinho responsável na maioria dos países ocidentais, se aperceber que nestas residem respostas a questões tão pertinentes como por exemplo: qual a melhor hora do dia para ouvir o vulgarmente denominado White Album? e melhor ainda, qual a verdadeira missão desse álbum esbranquiçado neste planeta? Acontece que o dito duplo disco, e mais concretamente a While My Guitar Gently Weeps, tenho agora a certeza, foram paridos para este mundo com o simples propósito de me acompanhar na saída de casa, especificamente, no meu carro, que nunca julguei ser veículo merecedor de tal honraria, não obstante o impecável gosto musical que vem demonstrando há já largos anos. Puxa-se dos óculos de sol, abre-se bem os vidros (todos), engata-se a primeira e ainda a embraiagem está a subir quando o dark horse dispara: "I look at you all, see the love, there that's sleeping, while my guitar gently weeps, I look at the floor, and I see, it needs sweeping, still my guitar gently weeps" (o que por si só já é o propósito da vida condensado em duas linhas, mas adiante). Depois disto não oiço mais nada. O resto da viagem sou eu a visualizar, em super slow-motion, o esgar de George Harrison, com a barba e o bigode dos setentas, no exacto momento em que acaba de pronunciar weeps e se prepara para fazer a seis cordas choramingar (e não, na minha cabeça não são quatro Beatles, é Harrison sozinho que faz tudo, embora a formação vá variando ao longo do disco). Quando caio de novo em mim, o carro está está estacionado e eu a labutar como se fosse um cidadão respeitável, o que, a grosso modo, significa que embora conheça perfeitamente o meu local de trabalho, não faço a mínima ideia de como lá chegar.
 
 

P.S. - Esta versão é de um concerto em  1971 (um bom ano, quando ainda nenhum Beatle tinha quinado) pelo Bangladesh. Não sei como é que isso ficou, mas acredito que Harrison os tenha salvo. Os bangladeshianos, claro, que com os Beatles, como se sabe, a coisa não tem corrido por aí além.

domingo, 29 de agosto de 2010

Velha Europa

Henri Rousseau "The Sleeping Gypsy" (1897)

sábado, 28 de agosto de 2010

Da validade da memória

Vim da sala rendido ao alecrim dos irmãos Safdie: bem-humorado, ternurento, livre, catártico. Por mais vontade que tivesse de teorizar sobre a memória enquanto processo criativo, e o papel mais que central que desempenha neste início de século (ou será desde sempre?), só me vem a cabeça o que alguém, no seu afamado estilo pragmático, me dizia sobre isso da memória. Mais coisa menos coisa, despachava o assunto com o argumento de que os Dirty Projectors o tinham feito antes de virar moda, referindo-se a Rise Above, suposto exercício de recriação de memória de Damaged, disco dos Black Flag intensamente ouvido por David Longstreth na infância. Isto vindo de alguém que não viu, nem muito provavelmente verá, o filme dos irmãos Safdie, e que não sabe o bem que lhe fazia. Ou se calhar, e encaro agora esta possibilidade (com renitência, mas encaro-a mesmo assim), não lhe fazia era mesmo bem nenhum, bem pelo contrário, e é só a minha memória que também já deu início ao processo criativo em relação ao passado recente. Há recordações que deviam vir com um prazo de validade, para sabermos quando é que já não é de confiar na sua frescura.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Arcade Fire ou Arcade Fire?

Ainda não dei ouvido à séria ao último dos Arcade Fire, mas gosto tanto da capa como do título. São uma banda por quem comecei por ter uma paixão assolapada, via o tal mítico concerto em Paredes em 2003 (que a avaliar pelo que vou lendo e ouvindo, cresce de audiência todos os dias, e muito especialmente quando os canadianos lançam um disco novo - qualquer dia já não há bilhetes disponíveis), que foi lentamente dando lugar a um certo cansaço e enfado com tanto propósito épico e com o ter de haver quase sempre uma geração inteira a acompanhá-los nas suas frases de ordem até ao êxtase final. Não por acaso, das muito poucas vezes que ainda volto à discografia arcadiana é à procura do registo mais contido como em Crown of Love ou Ocean of Noise. Deste Suburbs oiço dizer que está menos grandiloquente, o que me parece boas notícias e também oiço, volta e meia, presumo que seja o single, uma grande linha de baixo a invadir as ondas hertzianas. Que continuam a ser um fenómeno não tenho dúvidas nenhumas. Não me lembro de uma banda que conseguisse com tanta convicção tornar-se tão igualmente uncool, de amar como de odiar.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

BSO vacances

O último do Fachada pela fresquinha, algures entre a cama e o primeiro mergulho no mar, para ir sacando as ramelas e ir espreitando o mundo, por entre estórias da, por esses dias, distante capital, fachada style (por mais que não se esteja sintonizado no modo irónico a essa hora do dia, aquele ritmo e aquela melodia dão umas boas-vindas muito eficazes). 
Odd Blood, dos Yeasayer (disco a que já não contava voltar - I blame it on the vídeo para Madder Red, a melhor canção do disco finalmente feita single), a seguir ao almoço, perfeito para a dupla tarefa de digerir o peixinho grelhado e a salada sem nunca deixar deixar cair os níveis de energia para aquele estado comatoso, que muitas vezes acaba em escaldão. Esse momento chegará mais à frente. O da soneca, não o do escaldão. 
At Echo Lake, dos Woods, é o disco por excelência para aquele período compreendido entre "já não queima" e "porra, é bué tarde, baza tomar banho e jantar". De preferência em movimento, de preferência com os cabelos ao vento, corpo quente, travo a sal na boca, com o volume alto suficiente para incomodar os outros (é um disco para partilhar, sem dúvida) mas controlado o suficiente para não distorcer guitarras tão preciosas. Chega o prometido momento: a última faixa deve ser ouvida na rede na varanda, deixando escapar por entre dentes, a intenção de ir tomar banho, enquanto se adormece (é também o momento por excelência do dia para se receber sinceramente alguém nos braços, e como dizia há pouco, para acordar já bem depois da hora recomendada para jantar). Conselho de amigo: se a letra de Time Fading Lines não estiver decorada pelo fim das férias, é de ir ao neurologista.
King of the Beach, de Wavves, ao contrário do que o nome possa sugerir, não é disco nem para a praia nem para horários diurnos, é para a noite: cerrada, eufórica, daquelas de antes quebrar que torcer. Coros perfeitos para cantar em grupo e não menos perfeitos para desafinar em grupo, a partir de uma determinada hora ou quantidade de álcool, conforme o que se atingir primeiro. Na competição inevitável com Crazy for You,  dos Best Coast, pelo título oficioso de disco supra-sumo do Verão de 2010 (e não é só por causa do raio do gato, não, eu nem gosto de gatos) sai vencedor por uma margem bem grandota (onde Crazy For You é só atmosfera, King of the Beach é nervo).

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Se este gajo não for adulado em barda

É porque se passa qualquer coisa de muito errada neste país. E vem aí o disco do ano.



terça-feira, 24 de agosto de 2010

A arte de sentar

They get up there and they’re all alone. And the only thing they have is the material to support them. And in between times a person says, “I don’t like what you did. Perhaps if you did this, it might be better”. And no matter how you say that, it always comes out just as crudely as that. And the actor’s feeling is,“You don’t like the way I sat? I’ve been sitting down that way all my life! Stay out of my life! Stay out of my guts! I don’t need you around!

em Cassavetes on Cassavetes, de Ray Carney

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Há um processo em curso

Todas as manhãs dou 62 chibatadas nas costas, ainda em jejum, como parte da minha penitência diária por ainda não ter visto Leonard Cohen ao vivo (duas por cada faixa do Songs of Leonard Cohen e do Songs of Love and Hate; uma por cada faixa do Songs From a Room e do New Skin for the Old Ceremony, meia chibatada por cada faixa do Death of a Ladies' Man e, nos dias mais pró-Israel, uma pela totalidade do Recent Songs). Mas, verdade seja dita, o bardo canadiano também não me tem facilitado em nada a tarefa. Há dois anos decide tocar em Lisboa no mesmo dia que em o Lou Reed por cá se apresentava, situação que eu engenhosamente resolvi optando ir ver os My Bloody Valentine a Madrid. Daí para a frente, nunca mais se esqueceu de passar todos os anos pelo Pavilhão Atlântico, não necessariamente para um concerto, mais para um evento em que dá seguimento a esse bonito processo de voltar a encher a carteira que parece que anda demasiado leve por estes dias, cortesia de um contabilista que por certo nunca terá ouvido os seus discos, para ter incorrido em tal heresia (aproveitando a passagem cá pelo burgo, atrevo-me a deixar-lhe uma sugestão: Old Jerusalem, não só ouviu os discos como já roubou tudo o que podia, era menos isso com que Cohen tinha de se preocupar). Aliás, processo esse, que considero da mais elementar justiça que se concretize, por duas razões muito simples: um homem com a lírica e a dicção impecável do Cohen, não deve ter de pensar em finanças, por mais que isso contrarie a sua condição judaica, quando encosta a cabeça no travesseiro, somente em Deus e nas mulheres; um homem que consegue com a mesma naturalidade, comer a Janis Joplin e usar os fatos completos (incluí o colete, atenção) mais sofisticados do mundo não devia sequer ter de se deslocar para nos vir assaltar (devia ser ao contrário, aproveitando nós a ocasião para lhe agradecer por ser a consciência amargurada da humanidade), quanto mais ter de passar pela vergonha de ter disfarçar esse assalto sob a forma de um concerto.
Pode ser que terminado o processo na carteira de Cohen, haja oportunidade para um concerto mais condizente com a sua música e com um preço menos condizente (os únicos lugares no Atlântico em que se pode vir de lá desconfiado de que se esteve num concerto são só 75 €) com um festival de 5 dias. Mas há que encarar o facto de que isso muito dificilmente acontecerá. E até faz sentido que assim seja. Por que raio é que o homem haveria de nos querer aturar, ainda por cima em pessoa, quando for de novo rico? É tão óbvio para ele como para nós que não o merecemos, para além de que pode perfeitamente desempenhar o seu papel de consciência da humanidade a partir do conforto da sua mansão.
Cohen é mesmo assim: mais perda do que ganho, mais frustração do que satisfação. Voltando às chibatadas pré-pequeno-almoço, atente-se no seguinte: se qualquer um de nós se dedicar a uma boa sessão de auto-flagelação ao som de, por exemplo, Bob Dylan, o mesmo não nos soará necessariamente melhor por esse facto, ou se repetirmos o mesmo processo, digamos com os Beatles, também não me parece que retiraremos daí qualquer vantagem não identificada à partida. Mas com Cohen, a coisa muda de figura, aquilo é música (aquilo são palavras) que aponta ao coração (não ao metafórico, mas àquele órgão ensanguentado que labuta noite e dia), e quanto mais flagelada a carne, quantas mais feridas abertas, mais lhe facilitamos o inevitável caminho que tem de percorrer. Não serena a alma nem a carne, penetra-as inclementemente com um só objectivo: as nossas vísceras. Basta um desgosto seguido de uma audição de um qualquer disco do homem, para nos darmos conta disso mesmo, de que se instalou qualquer coisa lá dentro que nunca mais sai.
Naturalmente que não estarei presente, como não estive o ano passado, nesse evento que é uma experiência, em termos sónicos (expressão arriscada tendo em conta que me refiro ao Atlântico), tão interessante como um concerto dos Queen numas águas-furtadas no Bairro Alto. Vou antes vendo o Bonnie Prince Billy quando ele por cá vai passando, assim como assim, já cá estão as feridas e mais vale aproveitar.
  

domingo, 22 de agosto de 2010

Do calor

André Derain "L'Estaque" (1906)

sábado, 21 de agosto de 2010

Aberto para secagens

O meu irmão foi para perto de Tondela e agora queixa-se de que aquilo está cheio de emigrantes e carros quitados de matricule française. É o mesmo que eu andar a ouvir o novo dos Black Mountain e depois vir para aqui queixar-me do quanto me doí o pescoço ou de que só vejo chão e cabelo há uns bons dias.

domingo, 25 de julho de 2010

Fechado para banhos

Vou estar submerso nos próximos tempos só fazendo tenção de vir à tona para o ocasional mojito e virar uma ou outra página dos livros que há muito clamam por conclusão. Sem esferas, sem correios, sem cantigas ou imagens na cabeça. Para debaixo das ondas levo um só mantra, lábios flamejantes que incitam à pura perda de tempo.

 

sexta-feira, 23 de julho de 2010

É já amanhã


E dizem que se vão oferecer discos como se não houvesse amanhã. Pelo sim pelo não, eu, no vosso lugar, dava lá um pulinho. Ainda aquilo acaba por valer a pena...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fantasma por fantasma (polaco)

Mais que um filme do Polanski sobre um escritor fantasma eu queria era ver um filme do Skolimowski sobre um leitor fantasma.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Nova realeza

O Fachada é o novo rei do estéreo em casa (talento a rodos brilha naquela fronte), mas no exterior a estória é outra. Com isto nos ouvidos, não há contagem de montanha na Graça que não seja ultrapassada com mais frescura do que um ciclista dopado. Do grande disco que é King of the Beach, o novo dos Wavves. Um disco de diagnóstico fácil: a mesma base panque, os mesmos coros omnipresentes, perde-se no fuzz mas ganha-se outra diversidade nos arranjos e acima de tudo, melhores canções. E se esta Post Acid não vos acelerar, é melhor irem à farmácia mais próxima tentar furar por entre os velhinhos residentes para verem dessa pressão arterial.

 

terça-feira, 20 de julho de 2010

Rezas à parte

Que assim seja.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Não ao pântano

Vi finalmente Yi-Yi, um belíssimo filme de Edward Yang, cujo dvd há já uns bons anos que andava aos pontapés cá por casa. Finalmente compreendo a melancolia orçamental de António Guterres: a vida é para viver, não é para andar a fazer contas.

domingo, 18 de julho de 2010

Classicismo (com olhos cubistas)

André Lothe "L'Escale" (1913)

sábado, 17 de julho de 2010

Também é como o ketchup (mas não por vir todo ao mesmo tempo)

Não precisam de acreditar em mim, ouçam o meu amigo Richard Hell com os seus Voidoids. Estes sim, nunca se enganavam e raramente tinham dúvidas, até porque não davam a si próprios tempo suficiente para respirar, para os silêncios onde a dúvida gosta de se instalar. Love Comes in Spurts, no doubt (por vezes também vem com spurs, mas isso são outras caubóiadas). O difícil é estar sempre atento e ser dono de reflexos apurados o suficiente para evitar as nódoas.



sexta-feira, 16 de julho de 2010

Comunicado

Ontem à noite no Bacalhoeiro tive o meu primeiro taste da paternidade. O petiz saiu-me cantor e de barba rija. A mãe é do norte e ainda não tivemos oportunidade de nos conhecermos, razão pela qual prefere manter o anonimato. A guarda do fedelho ainda está a ser discutida. Respeitem a minha privacidade e a da criança.

P.S.- Se for possível alguém espetar com isto no facebook ficava muito agradecido.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Matemática aplicada

Rusty: How can you tell if someone is crazy?
Benny: Can't always... Depends on how many think he's crazy.

em Rumble Fish, argumento de S.E.Hinton e Francis Ford Coppola, a partir da obra homónima de S.E.Hinton

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Rusty James


Ou a diferença entre Coppola e Godard. Com Godard, quando Rusty James acordasse e reparasse que já estava atrasado para o rendez-vous de punhos com Biff, teria tirado o tempo para fazer amor novamente com Patty antes de se fazer à vida.
 

terça-feira, 13 de julho de 2010

De bem

Menina de bem, só três vezes à rua vem
Já te baptizaste, que te mandou também casares?
Agora só te resta pelo fim esperares
Menina, ficou-te aquém

segunda-feira, 12 de julho de 2010

domingo, 11 de julho de 2010

A vida moderna é um estaleiro

Umberto Boccioni "La Città Che Sale" (1910)

sábado, 10 de julho de 2010

Insanely Groovy

Revejo Barbarella e continuo confuso. Não sei se é ao filme que se desculpa tudo, as piadas de mau-gosto, os velhos excitados com peitos à Tony Ramos, e até o facto de ser a principal fonte de inspiração para o mundo do drag-queenismo. Ou se é à Jane Fonda. Hard to tell.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Virar a página II (ao ocaso)

"Sometimes the sky's too bright,
Or has too many clouds or birds,
And far away's too sharp a sun
To nourish thinking of him."

em Sometimes The Sky's Too Bright, de Dylan Thomas

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Virar a página

Quase tudo tem sido canções nos últimos tempos: a gravar, a ensaiar, a ver ao vivo, a filmar, a sacar, a tocar só por tocar. E os livros, com as suas lombadas contristadas e páginas descuradas, lentamente caindo nas garras do pó. É nestas alturas de transição, em que é preciso deixar as cantigas arrefecerem (mas muito subtilmente, que elas podem ser umas verdadeiras drama queens se se sentirem traídas), em que é preciso (voltar a) virar a página, que mais me lembro de Dylan Thomas, porque a obra que nos deixou, por mais voltas que se dê, é tanto um poema como uma canção.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ladrão que rouba canção, tem cem anos de perdão


Dá pelo nome de C de Croché e Filipe da Graça Roubam!!! e é um duplo-single com sabor a baixa-fidelidade. Na verdade, não passa do culminar da aprendizagem de como conjugar o verbo ducktailzar, muito em voga cá por estes lados nos últimos tempos.
Filipe da Graça surripiou uma sua favorita do início do milénio, Apple Blossom, aos The White Stripes e eu pedi emprestada Preciso Urgentemente Encontrar Um Amigo, a'Os Mutantes, onde espalha charme a voz da Maçã de Prata (sendo portanto cúmplice no golpe, o que poderá revelar-se extremamente útil quando chegar a coima). Cada uma das canções está disponível na respectiva casa, ou seja, aqui e aqui. E também ali já ao lado, em "baixa aqui", prontíssimo a sacar.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Doesn't get much better than this, essa cena da música

Partindo do princípio que os meus vizinhos não passavam de corpos dilatados revirando-se nos seus colchões, impotentes perante tão fogosas noites, decidi abrir as janelas para todos juntos desfrutarmos desta lição de vida: Jumping Fences, dos Olivia Tremor Control. Não é necessário capricharem na simpatia quando nos cruzarmos nas escadas. Como agradecimento, basta-me que não andem por aí a pular a cerca.     

 

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O cinema da classe média

Tiago Guillul fez-se à estrada na companhia do seu fiel escudeiro, Bruno Morgado. O destino: as dunas arenosas do sotavento algarvio. O objectivo: encontrar a "sua" Praia Verde, mítico retiro de férias da classe média que por lá terá existido nos idos de oitenta. Apanhados de surpresa, os Picos Gémeos só tiveram tempo de agarrar na primeira câmera a que conseguiram jogar a mão (uma velhinha câmera vhs que suspeitam que já existia antes dos próprios terem nascido), e subir a bordo.

 

domingo, 4 de julho de 2010

Dor de Trono

Valentin Serov "Coronation of Nicholas II of Russia" (1896)


sábado, 3 de julho de 2010

Justo

Brothers dos Black Keys é um daqueles raros discos que faz jus ao nome: tem montes de problemas, uns mais visíveis que outros; por vezes envolve-nos como um colete de forças, como se não lhe pudéssemos escapar; é demasiado longo, chegando a arrastar-se desnecessariamente em certos períodos; mas todo ele é alma, regada por plasma, glóbulos dos vermelhos, dos brancos, e plaquetas.
 

I'm waiting for my Mann

Ontem, em plena Av. de Roma, jogo a mão ao bolso traseiro de uns calções que ainda não tinha usado este ano e descubro dois bilhetes para uma sessão nocturna no Cinema Londres. Por entre os destroços desbotados, consegui descortinar o motivo: Inimigos Públicos. Como diz o outro, fora com as coincidências. Luck já vinha.
   

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Departamento do éter

Reencontro-me agora com os Radio Dept. depois de lhes ter perdido o rasto pouco depois do primeiro disco, Lesser Matters, um prodigioso exercício de variação sobre a Soon dos My Bloody Valentine. É com agradável surpresa que descubro agora que durante este interregno (meu, compreenda-se, porque houve disco e uns EPs pelo meio), estes rapazes de Malmö foram juntando, à acima mencionada fórmula, doses generosas de Pet Shop Boys e New Order. Clinging To a Scheme, o terceiro longa duração lançado esta Primavera está com boa cara para rodar forte este Verão. Esse dubzinho etéreo aí em baixo, Never Follow Suit, é, para lá de qualquer dúvida, a melhor malha do mundo neste momento.




Parece fácil

Afinal, ao declarar o meu amor pelo Paraguai uns quantos postais atrás, juntei-me a um clube bem maior do que poderia imaginar. Ao que parece, a quase totalidade dos habitantes do globo são da albirroja desde niños e não consegue esperar pela hora em que a jovem Larissa possa dar pulos de alegria no calor de mais uma vitória.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Boom-chicka-boom

Chego a casa, na noite em que o Ateneu ardeu, e num assomo de clarividência, os meus ouvidos guiam-me determinados para a melodia certeira. O disco: Johnny Cash with His Hot and Blue Guitar, a canção: Folsom Prison Blues, o momento: exactamente depois de o homem de negro desafogar este par de versos, "when i hear that whistle blowin', I hang my head and cry", quando se ergue das cinzas a guitarra de Luther Perkins no seu frémito indomável.
 

terça-feira, 29 de junho de 2010

La Albirroja


Hoje vi um jogo do mundial. Foi fantástico. Emoção e golos a rodos. Ficou 5-3, vejam lá. Descobri uma grande equipa, que joga um futebol perfumado como poucos, pleno de técnica sem nunca descurar a força, e sempre patenteando o mais perfeito domínio daquilo a que se acordou denominar por "a táctica". Conquistou-me o coração. O Paraguai passou muito justamente à fase seguinte e ganhou todo o direito a sonhar. Até contam nas suas fileiras com um jogador que para além de jogar pelo Paraguai, o que por si só completaria qualquer profissional da bola, ainda tem tempo para fazer uma perninha na equipa de uma data de amigos meus. Só pode ser boa gente. Não faço ideia com quem é que vão jogar a seguir mas vou torcer por eles.