A tendência natural é para se considerar que o aprofundamento da relação entre uma pessoa e algo (arte, o planeta, jolas, etc...) é um processo unilateral, por oposição ao aprofundamento da relação entre duas pessoas, que só é possível através do chamado processo bilateral. Eu sei que isto é uma concepção errada. Sei que não é o simples dispêndio de tempo (vulgarmente confundido com investimento) que pode salvar uma relação em que não existe reciprocidade, seja lá com o que for. Quer seja porque a outra parte não está pura e simplesmente para aí virada (lá está a cruel bilateralidade) ou porque não se pode esperar que o regresso a casa, depois de uma ausência de uns bons meses, seja recompensada com filet mignon. Isto não para não falar do processo de desabituação a que o palato foi sujeito. Reconfirmei esta verdade esta semana, quando decidi começar a pôr-me a par de alguns dos filmes que fui perdendo nos últimos meses, nomeadamente The Fighter, The Social Network e I'm Still Here, assim de enfiada. Foi naturalmente muito má ideia, tanto a parte de vê-los quase de seguida como a selecção cinéfila. No entanto, ficou-me na retina aquela personagem interpretada pelo Joaquin Wahlberg, o boxeur nerd que se torna o mais novo bilionário de sempre ao trocar uma galopante carreira de actor pela de campeão do mundo de rap. E claro, aquele belíssimo plano final em que o protagonista cria uma página de facebook e convida uma moçoila para ser sua amiga (identifiquei-me com a personagem, e não é isso que nos ensinam que se deve fazer?). Bem, se tudo correr bem, brevemente sacudirei todo o pó e serei novamente merecedor de mergulhar profundamente nesse mundo.