quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Do Roque"

O roque, aquele que vale a pena pelo menos, tem poucas regras e ainda menos dogmas. Mais camada, menos camada, mais independência, menos indepedência, há de tudo e para todos. E ainda estou por conhecer um gajo "do roque" (mas mesmo do roque, daqueles que só ouvem malhas) que precisasse que alguém lho definisse (definir não é "do roque", embora seja de produtor "do roque") e que não defendesse até à morte (pelo menos) quatro bandas que eu gostava que nunca tivessem existido. Sendo que, muito provavelmente, hoje em dia adoro uma dessas bandas e uma das outras está em pleno processo de assimilação (as outras duas estão mesmo descartadas: o gajo é que é parvo e, obviamente, não percebe nada de roque).
Mas, como tudo na vida, o roque também é cíclico. Há coisas que se vão repetindo (às vezes coisas giras, até), e, raramente, por acaso. Umas das coisas básicas que se vai aprendendo é que o primeiro disco de um baterista roque (e não estou a falar de um tipo que até consegue tocar umas malhas dos White Stripes na bateria) tem um charme irrepetitível. O primeiro longa duração do Filipe da Graça (que é tão "do roque" que até vem em formato cdr já com riscos) está aí para comprová-lo, com o delicioso extra de provar também que o tal talentoso baterista roque tem as mesmas possibilidades de gravar um disco fantástico quer tenha anteriormente estado numa banda com o Kurt Cobain quer tenha estado numa com o C de Croché. Não estou, naturalmente, com esta comparação, a insinuar que se vislumbra para o Filipe da Graça uma carreira similar à trilhada pelo Dave Grohl, até por razões evidentes (o Dave Grohl, que seja do meu conhecimento, não tem nenhum talento especial com a câmera na mão; o C de Croché está aí para as curvas, enquanto que o Kurt foi o que se sabe, e por aí fora...). Não que não fosse bem-vinda, muito pelo contrário.
O roque, ao contrário do que alguns gajos de cabelo comprido por aí apregoam, não só não é a coisa mais importante da vida (embora seja indiscutivelmente mais importante que a pope) como também tem dado azo a conceitos tão errados como o de bandas "que se venderam" ou que "se deixaram corromper pelo dinheiro" e que por essa razão já não são "do roque", como tantas vezes se ouve os fãs, erradamente, acusar (fãs esses, que, ironicamente, são muito mais importantes que o roque em si, embora não o saibam). Um gajo "do roque" não se deixa corromper, corrompe, não se vende, quanto muito compra (um ego maior, por exemplo). Pode é acontecer-lhe, como a qualquer gajo no mundo que faça música*(e aqui os géneros até são equilibrados, embora se registe uma maior taxa de incidência no reggae), fazer malhas merdosas, embora já tenha, em tempos, feito boas malhas, ou debitar disco pope atrás de disco pope sem nunca deixar de ser "do roque" (personal favourites), ou até, andar há anos a fazer discos roque sem nunca ser verdadeiramente "do roque". Num top dez de coisas mais importantes que o roque, na vida, assim de cabeça, teriam que constar sempre items como: o dinheiro (em qualquer formato), a morte, a vida em geral, o cinema (inclusive documentários sobre roque, mas excluindo os concertos gravados**), ou a música em geral. Um dos factores de atracção do roque é o facto de poder ser um veículo para se falar sobre todas estas coisas, mais importantes que ele mesmo, através das vulgarmente chamadas letras (com a vantagem, em relação à pope, de que no roque, as mesmas podem ser gritadas e não precisam de ser entendidas, ou em relação ao reggae, de não terem de incluir a palavras "rewinda" ou "selector", que são bem tramadas de rimar). Voltando ao que interessa (o charme irrepetitível do primeiro disco de um baterista roque), essa que está aí em baixo não é uma malha, é um malhão (expressão "do roque" usada para designar uma malha verdadeiramente excepcional mas que tem de ser usada com cautela por causa da infeliz ligação à tradicional dança algarvia, e aproveito esta deixa para clarificar que o trad-roque, não obstante o nome, não é "do roque"), proveniente de uma dessas brutais estreias em disco de um baterista, neste caso, o primeiro dos Foo Fighters do Dave Grohl (e os Foo Fighters são também um perfeito exemplo de uma banda que é "do roque", mas que faz música chata como a potassa há mais anos do que os que eu gostava de saber). A ideia inicial era espetar com uma do Filipe da Graça mas o disco contém nada mais nada menos do que sete malhões e não me consegui decidir.
Peço ainda desculpa por me ter referido a mim mesmo na terceira pessoa algumas vezes nas linhas anteriores (deve ser do facebook) e aproveito ainda para me pedir que daqui para a frente me tratassem por Miguel Relvas da FlorCaveira. Que o roque vos acompanhe.


*com excepção do J.Mascis
**com excepção dos dvds dos Queen ou qualquer outro em que entre o Brian May ou gajos com um penteado parecido