sábado, 22 de janeiro de 2011

Madrugadas Cartesianas II

Ela sabia que nada naquele processo sabia a casual. Ele só fingia que não sabia. O telefonema, os licores em cima da mesa, os amigos que não chegavam, os poucos dias passados desde o fim de ano, tinham um travo textual. Ele só sorria. Ela imaginava-o a sorrir durante todo aquele longo ano que não se viram. Ele só queria que ela abdicasse do cachecol acanhado que lhe sufocava o pescoço. Ela inspirou fundo e por fim, sorriu também. Ele só conseguia pensar na pele marmórea que ela usava para agasalhar o corpo e retribuia-lhe o sorriso enquanto tentava recordar-se do toque dos seus ombros. Ela retirou o cachecol num movimento coreografado. Por entre dois sorvos adocicados, alguém murmurou: "Tu sabes que eu tenho um método..."