segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Quilometragem

O acto eleitoral, seja ele executado em privado, numa auto-fornicação abstencionista, ou como no meu caso, a 300 quilómetros de distância, tem sempre o seu quê de interessante. Passando por cima de todas as questões sobre direitos e deveres cívicos ou até validação ideológica das barbaridades que se debita com ar de entendido o ano inteiro, uma das principais vantagens do meu acto eleitoral é exactamente a quilometragem que me separa dele.
São 600 quilómetros no total que me permitem acertar o calendário com aqueles álbuns que, por uma razão ou por outra, andavam fugidios. E ainda por cima, com a implacável justiça crítica que só o som de um ipod num carro preto a rasgar a noite alentejana permite.
Resumida a campanha, posso anunciar que os Golden Silvers e o seu True Romance venceram o sufrágio deste fim-de-semana com uma maioria absoluta. Chamem-lhe asfixia democrática, chamem-lhe o que quiserem, mas há muita mais música naqueles meninos do que o single True Romance, de que já tinha gostado bastante, me tinha inclinado a achar, e os rapazes são dignos herdeiros da melhor veia pope britânica.
Em segundo lugar ficam os Japandroids, com Post-Nothing, superando o álbum homónimo dos xx, por uma unha negra, e só por uma razão muito simples: não fizeram metade do alarido durante a campanha. Nenhum dos dois me cativou especialmente, um apontamento aqui e ali, mas pouco, muito pouco a dar corpo às por aí apregoadas ideias frescas. E se parece um critério injusto, este o da cobertura mediática, é porque andaram distraídos nos últimos tempos. Felizmente, vêm aí as autárquicas e respectiva campanha, para corrigirem a desatenção, e  outros 600 quilómetros, para eu acertar contas com mais uns quantos disquitos.