sábado, 21 de novembro de 2009

O avental

Ele entretinha os convidados na sala com a sua espartana selecção de temas de conversa pequena, guiando-os a seu bel-prazer pelos arredores da sua mente, deixando-os contornar aquele muro rosa e até vislumbrarem por um segundo os portões dourados que os separavam daquele jardim de ideias e sonhos que derreteriam por certo as mentes de tão incautos visitantes, quando ela entrou esbaforida, limpando as mãos ao avental que ele próprio tinha ajudado a atar há duas horas atrás, mais apertado do que o necessário, mas não demasiado, somente o suficiente para que o incómodo que lhe causava se diluísse por entre a azáfama própria do preparo de um jantar para tantas almas esfomeadas, revelando a firmeza elástica da sua bem delineada figura de um modo a que nenhum vestido alguma vez poderia ambicionar. Observando-a a vir na sua direcção, perseguida pelo cheiro a tomilho e carne assada, sabia estar mais uma vez validada a sua teoria de que as mulheres são mais sensuais quanto mais não o querem ser e não quanto mais querem parecer não o querer ser.