sábado, 13 de fevereiro de 2010

O caminho para Villa Arpel

Serviu o facto de sexta-feira ter estado um Tati a um preço tão convidativo nas bancas para cair numa daquelas conversas do costume, em que todos dizem repetidamente (com um ar de grandes conhecedores, claro) que é muito bom que aconteça, que vai dar a conhecer este génio do cinema a muita gente que se calhar, não fosse o preço tão amigo, nunca o faria, etc, etc, etc...
Mas o que eu gostava mesmo era que desta vez, mais do que dar a conhecer a magia de Tati aos putos,  aos curiosos, aos aspirantes a cineastas e outros que tais, que tomam agora contacto com Tati pela primeira vez, que fossem os já conhecedores a revê-lo, mas sem aquela grande angular com que, regra geral, muitos deles vêem todos os filmes, para aí desde que foram à cinemateca pela primeira vez. Deixando de parte a preocupação excessiva de o enquadrar na big picture, de o contextualizar, soltando as amarras e deixando-se flutuar pelo mundo maravilhoso que Jacques nos deixou. Porque as lições que reclamam ter-lhes sido ensinadas por Tati não se notam, bem pelo contrário, em nada do que escrevem ou realizam. Alguém, algures no tempo, terá dito que mesmo que o Sr. Hulot falasse, Tati teria tido o génio de o calar na sala de edição. Embora seja uma imagem de uma mecânica tão cruel quanto censuradora (e tão anti-Tatiana afinal de contas), é eficaz naquilo que nos diz da dinâmica entre os diálogos e as personagens. Há muito menos tempo que no exemplo anterior, alguém me dizia que as personagens que mais gostava são as que se dão a conhecer pelo que não dizem ou pelo que dizem em excesso. O mundo está cada vez mais cool e o cinema foi em grande parte tomado por essa fixeza, no entanto, esse fetichismo pelos diálogos witty foi chão que já deu uvas há muito, e se nos dignarmos a olhar para o calendário, o Reservoir Dogs e o Pulp Fiction já foram há mais de 15 anos (refiro Tarantino porque é a expressão máxima do cool, e também porque embora não seja o seu maior fã, reconheço que o seu cinema tem coisas que os sucedâneos que gerou não têm). Eu digo que se o Sr. Hulot falasse, falaria que se desunharia, pelos cotovelos, por todos os lados, e nunca, mas nem uma vez, diria qualquer coisa espirituosa, e seria tão, tão cool.