sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Nuberu Bagu

Vi recentemente Noite e Nevoeiro no Japão e nele descobri um Nagisa Oshima que não conhecia. O filme data de 1960 e é um dos quatro que Oshima realizou entre 1959 e 1960. É uma portentoso retrato político de uma nova geração de japoneses que se rebelava contra a amorfa e americanizada sociedade saída do trauma da segunda guerra mundial e, descubro agora, um dos filmes chave da Nuberu Bagu, o novo cinema japonês, que foi buscar o seu nome à tradução directa da Nouvelle Vague franciú. 
Mas ao contrário de todas as outras vagas de cinema novo que surgiram por todo o mundo inspiradas na francesa, o movimento japonês tem a particularidade de ter surgido ao mesmo tempo, se não mesmo antes. E salvo as devidas distâncias, podemos arriscar dizer que Oshima foi o seu Godard. A mise en scène, os diálogos e os movimentos de câmera que os introduzem não enganam, são políticos até ao tutano. Oshima tem é uma outra relação com a carne, com o sexo. Em Oshima, o sexo não é usado para validar a entrega, a paixão, a urgência dos personagens como em Godard, funciona antes como expressão do turbilhão interior de cada personagem, e é um exercício de libertação social, política pura portanto. E não falo só de sexo, falo de tudo o que é sexual. Há uma violência latente em cada toque, em cada olhar, que leva o filme para um patamar de intensidade que chega a roçar o cruel. 
Apaixonado, vou agora à procura de Contos Cruéis da Juventude.