quarta-feira, 3 de junho de 2009

Não pode ser errado


Os Built to Spill sempre foram um veículo para o talento pópe de Doug Martsch. O veículo perfeito, acrescente-se. Herói indie à moda antiga, daqueles que cospem riffs como se as suas vidas dependessem disso mas solam com a certeza de estarem condenados ao inferno. Numa só canção dos Built to Spill pode-se encontrar, numa cadência esquizofrénica, mais ideias que num "best of" de muitas bandas hiper-badaladas. Será talvez essa a principal razão para nunca terem visto ser-lhes reservado um merecido lugar no panteão musical, ao estilo de uns Pavement ou de uns Dinosaur Jr., mas também a razão porque os seus álbuns têm envelhecido tão bem.
Depois de um primeiro longa duração, que não era mais que uma compilação esparsa de vários temas que foram compondo na fase de garagem (sim, começavam-se carreiras assim nos anos noventa), surge There's Nothing Wrong With Love em 1994, uma obra-prima, do épico ao despojado, do céu ao inferno, apaixonado e apaixonante numa dúzia de canções, e que canções. De In the Morning e Reasons, a brilhante dupla que abre o álbum e dá o mote para uma das mais loucas viagens de que há memória, até Stab, um épico tangível, passando por Twin Falls, provavelmente uma das melhores músicas de sempre com menos de dois minutos, há muito por onde escolher. Nem falta o toque de humor, com um mordaz "sneak preview" do álbum seguinte, que ironicamente seria a primeira gravação da banda para uma major.
Deixo aqui a mais cândida Car, que não é por isso menos exigente para o ouvinte. Exige o volume no máximo, um coração grande, e coro aplicado a secundar: "I wanna see movies of my dreams". Ainda queremos.