quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Discos

Embora desconfie que poderei estar a cometer uma ilegalidade, este é um postal sobre discos que não o último dos Vampire Weekend. De modo a amortecer o choque e apaziguar as dores que poderão resultar da leitura destas linhas e, de certo modo, na esperança de não incorrer em pena de prisão, decidi usar exaustivamente a palavra "contra" neste texto, manobra que estou certo não escapará os mais atentos. Avancemos então.
Nos últimos tempos tenho andado a escutar vários LPs, EPs, e pelos vistos, K7s, que há muito clamavam pela devida atenção e que muito andaram pelas bocas do mundo no ano passado. Um espécie de pacote best of da euforia electrónica solarenga composto por Neon Indian, Washed Out, Ducktails, a família Memory, e os DeLorean (que não vêm de Espanha como se diz por aí, mas sim, tal como o El Guincho, de Barcelona). In a nutshell, posso dizer que fiquei bastante impressionado com Psychic Chasms dos Neon Indian, e comigo mesmo por ouvir tantas vezes, e com tanto prazer, Ducktails (e embora o apelo hedonista de Washed Out não tenha caído em saco roto, cheira-me que, se fosse Verão, rodaria com outra insistência).
A par destes, debrucei-me também sobre Summertime!, bonito EP de título certeiro dos The Drums, cheio de canções simples que tão facilmente viciam como se esquecem, e sobre os Real Estate (banda que inclui Matthew Modanile do já referido projecto Ducktails) cujo álbum de estreia homónimo é uma verdadeira obra-prima, I kid you not.
Recorrendo à velha, mas nunca estafada, fórmula indie de canções + guitarras entrelaçadas, é um álbum de uma banda que se pode dizer anacrónica, na mesma medida em que, por exemplo, os Yo La Tengo o são: não por serem de outro tempo, mas por não terem tempo, por serem de um mundo onde não há estações nem hypes, só canções (inclusive os instrumentais) cuidadosamente manufacturadas com os dedos, as gargantas e o inacreditável bom-gosto com que estes rapazes nasceram. Duas guitarras e um baixo em comunhão, de uma beleza estonteante como há muito não ouvia, dividem as atenções com melodias de voz que, sem puxarem as canções do seu território, não se escondem e delicadamente vão unindo as canções num todo.
Há bastante tempo que não me rendia assim, tão absolutamente, a um disco inteiro. Acabou-se o frio para mim este Inverno.