skip to main |
skip to sidebar
Madrugadas cartesianas
Ela sabia que o final da viagem, que os tinha levado da esperança à lembrança, de um ano ao outro, aproximava-se rapidamente do fim. Queria agir, mas o pescoço erguia-se hirto e os olhos mal conseguiam lidar com a afronta que sentiam perante o dilúvio que se abatia sobre eles, quanto mais ajudá-la. "Será que uma rapariga não pode chorar sozinha?", era a questão que a acompanhava há mais de cem quilómetros. Num sopro, que não concebia que não pudesse ser o último, tacteou pela consola central até ao rádio. As frequências foram-se sucedendo, nervosas. Ao quilómetro dez, por entre a canção perfeita, alguém murmurou: "Não me descartes..."