Deslizava graciosamente pelos corredores do hipermercado, com a Should've Taken Acid with You nos ouvidos (alegadamente num volume a dar para o elevado, a avaliar por alguns olhares pouco amigos jogados na minha direcção), quando, preparando-me para a interacção semanal com a menina da charcutaria, destapo os ouvidos e sustenho a respiração para ajudar a amortecer a transição para a habitual banda sonora do sítio. A minha aposta naquele dia recaía no Paulo Gonzo, um habitué nestas andanças e, sentindo-me confiante, até me dava ao luxo de tentar adivinhar a canção: aquele bonito dueto com o Olavo Bilac que todos adoramos.
Mas, ao contrário da maioria das vezes, falhei, e não foi por pouco. O som que brotava daqueles altifalantes era o dos Vampire Weekend, o do primeiro álbum, é verdade, mas mesmo assim... Não se pode querer tudo de uma vez. Dei por mim a especular que provavelmente antes da canção tocar, teria sido lida uma comunicação do movimento que ocupou o posto do hipermercado ou coisa do género, mas se assim foi, ninguém à minha volta parecia mais preocupado com a revolução do que com a escolha do melhor tomate chucha. Voltei aos Neon Indian claro, até por que estava ali a meio de perceber umas coisas, mas inundado de um renovado optimismo luminoso, sabendo que lá fora a revolução prosseguia, mesmo que somente por entre leguminosas e refeições rápidas.