sábado, 28 de agosto de 2010

Da validade da memória

Vim da sala rendido ao alecrim dos irmãos Safdie: bem-humorado, ternurento, livre, catártico. Por mais vontade que tivesse de teorizar sobre a memória enquanto processo criativo, e o papel mais que central que desempenha neste início de século (ou será desde sempre?), só me vem a cabeça o que alguém, no seu afamado estilo pragmático, me dizia sobre isso da memória. Mais coisa menos coisa, despachava o assunto com o argumento de que os Dirty Projectors o tinham feito antes de virar moda, referindo-se a Rise Above, suposto exercício de recriação de memória de Damaged, disco dos Black Flag intensamente ouvido por David Longstreth na infância. Isto vindo de alguém que não viu, nem muito provavelmente verá, o filme dos irmãos Safdie, e que não sabe o bem que lhe fazia. Ou se calhar, e encaro agora esta possibilidade (com renitência, mas encaro-a mesmo assim), não lhe fazia era mesmo bem nenhum, bem pelo contrário, e é só a minha memória que também já deu início ao processo criativo em relação ao passado recente. Há recordações que deviam vir com um prazo de validade, para sabermos quando é que já não é de confiar na sua frescura.