Claude Monet "Argenteuil" (1875)
domingo, 31 de janeiro de 2010
sábado, 30 de janeiro de 2010
Let's party like it's 1999
Não foram preciso muitos minutos para perceber o que ali se passava. Aliás, bastou subir ao palco a primeira banda da noite, os Bass-Off, a banda que venceu a edição 2009 do Termómetro mas que rockava como se fosse 1999, para ficar o quadro completo. Não desmerecendo a iniciativa, que como todas as poucas existentes, é de louvar, e naturalmente assumindo que não fui obrigado a nada e só lá pus os pés porque quis, rapidamente nos apercebemos, eu e quem me acompanhava, que a ideia de uma festa com música ao vivo por um preço tão convidativo e acima de tudo, a promessa de ver o Sami, o B, e (já agora) o Manel Cruz, em alegre partilha em palco nós tinha encandeado à grande. Serviu acima de tudo, para relembrar o porquê de já não ir a estes tipos de coisa, há muito, muito tempo, e perceber o quão longe tudo isto está já da minha vida, e claro, para rever aquele par feito no céu: o público de "eventos" e música chata como a potassa.
Infelizmente, não houve álcool suficiente que nos ajudasse a suportar aquela castigueira bíblica (embora ninguém nos possa acusar de não termos tentado) e acabamos por desistir, não vendo a totalidade das bandas nem a esperada actuação dos convidados especiais. Bem fez o outro, que comprou bilhete e não foi.
Infelizmente, não houve álcool suficiente que nos ajudasse a suportar aquela castigueira bíblica (embora ninguém nos possa acusar de não termos tentado) e acabamos por desistir, não vendo a totalidade das bandas nem a esperada actuação dos convidados especiais. Bem fez o outro, que comprou bilhete e não foi.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Picos Gémeos
Há um novo espaço a registar aqui para estes lados. Chama-se Picos Gémeos e tem aqui a sua casa. Essencialmente composto por mim e pelo meu irmão, será também um espaço privilegiado para a colaboração e para a exploração de outros conceitos e linguagens. Como por lá se diz, temos um predilecção especial por músicos talentosos e por levá-los a passear por este país fora. Deixo-vos com o primeiro trabalho, o teledisco para Não Arrastes o Meu Caixão de Samuel Úria.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
A procura da verdade
Quando algo nos é apresentado como inato somente para aumentar o nosso sofrimento à medida que o vamos vendo resvalar, gole a gole, para um empirismo sistemático, não vale a pena espreitar a capa, só pode ser John Cheever.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Eles comem tudo e não deixam nada
Deslizava graciosamente pelos corredores do hipermercado, com a Should've Taken Acid with You nos ouvidos (alegadamente num volume a dar para o elevado, a avaliar por alguns olhares pouco amigos jogados na minha direcção), quando, preparando-me para a interacção semanal com a menina da charcutaria, destapo os ouvidos e sustenho a respiração para ajudar a amortecer a transição para a habitual banda sonora do sítio. A minha aposta naquele dia recaía no Paulo Gonzo, um habitué nestas andanças e, sentindo-me confiante, até me dava ao luxo de tentar adivinhar a canção: aquele bonito dueto com o Olavo Bilac que todos adoramos.
Mas, ao contrário da maioria das vezes, falhei, e não foi por pouco. O som que brotava daqueles altifalantes era o dos Vampire Weekend, o do primeiro álbum, é verdade, mas mesmo assim... Não se pode querer tudo de uma vez. Dei por mim a especular que provavelmente antes da canção tocar, teria sido lida uma comunicação do movimento que ocupou o posto do hipermercado ou coisa do género, mas se assim foi, ninguém à minha volta parecia mais preocupado com a revolução do que com a escolha do melhor tomate chucha. Voltei aos Neon Indian claro, até por que estava ali a meio de perceber umas coisas, mas inundado de um renovado optimismo luminoso, sabendo que lá fora a revolução prosseguia, mesmo que somente por entre leguminosas e refeições rápidas.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
O rapaz precisa de terapia
Há muito tempo que uma música, que não ouvia há muito e que me regressa aos ouvidos por acaso, não me sabia tão bem. Se amanhã ainda vou acordar com vontade de a ouvir? Provavelmente não. Se enquanto escrevo este post, sinto a pica a definhar? Provavelmente sim. E não vislumbro porquê. Tão simples quanto isto.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Rock'N'Roll
It Might Get Loud é uma espécie de ensaio metafísico sobre a guitarra eléctrica. Seguimos o power-trio protagonista (Jimmy Page, Jack White, The Edge) por uma viagem pelas suas raízes, onde nós é dado a ver como a guitarra entrou nas suas vidas e como o amor por esse instrumento, influenciou e moldou as escolhas efectuadas e os caminhos trilhados. Até aqui, tudo normal. A grande força do filme de Davis Guggenheim está no encontro entre os três, que vai intercalando com a restante acção. Um debate filosófico num local cheio de guitarras e material do mais cool que há, onde vão trocando estórias de batalhas, ideias, e acima de tudo, riffs (as expressões embevecidas de Jack White e The Edge quando o Sr.Page decide mostrar-lhes o riff de uma tal de Whole Lotta Love não tem preço). Para quem estiver relutante, seja por que motivo for (no meu caso, tenho de admitir que a presença do The Edge não me excitava por aí além), basta ver a cena inicial, pré-genérico do filme, em que Jack White, feito MacGyver, constrói uma espécie de parente pobre da guitarra, improvisado a partir de quase nada, para no fim cuspir: "Who says you neeed a guitar?". Enganei-me. Não é sobre a guitarra eléctrica. É só sobre electricidade, sobre Rock'N'Roll.
domingo, 24 de janeiro de 2010
sábado, 23 de janeiro de 2010
TV 7 dias
Reparo hoje, que se alguém por cá tivesse passado pela primeira vez esta semana ficaria com a distinta impressão de que os naperãos (ou naperões pra os mais gramaticais, ou já agora, napperons para os mais puristas) que dão o nome a este blogue, seriam daqueles que, felizmente, ainda se podem encontrar em várias casas portuguesas a separar um bonito par de castiçais, ou quiçá uma moldura da bisavó, do ex-libris da sala de estar: o televisor. É essa a beleza de um naperão, aconchega e dá aquele miminho extra ao que quisermos (compõe, como diria a minha avó), uma espécie de declaração de amor rendilhada portátil. E esta semana esteve aqui, no doubt about it.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
A arte da deslocação
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Team Coco
Manifestações, tácticas de guerrilha, a oposição dos liberais de Hollywood. Definitivamente, a NBC encontrou o seu Iraque.
Semana solteira
Mudei-me de Baltimore para a poeirenta Deadwood e saio todas as noites a cambalear, embriagado com a prosápia de Al Swearengen (esse cocksucker), do The Gem; Roger & sus muchachos sacodem o pó das raquetas e estão de volta aos antípodas, no Grand Slam mais imprevisível de todos (e atenção que Davydenko não parece ter deixado que as férias lhe roubassem a forma); tenho finalmente o Contra e os Real Estate podem descansar até ao encontro marcado para Fevereiro; a Barata Salgueiro desce-se com a arma no coldre, de sorriso nos lábios, porque não importa o fim mas sim como o recebemos; Conan diverte-se à grande com a sua própria soap opera; e, last but not least, num estúdio ali para os lados de Paço de Arcos, acompanha-se um evangélico a gravar um disco do camandro. Está uma bela semana, está. Até parou de chover.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Coco is a no-no
MLP, ao que parece, os "suits" na NBC também não têm dúvidas. E sendo uma das hipóteses, Conando acabar na Fox, não há como não desfrutar desta soap opera. Os anos dez vão ser do caraças, está mais que visto.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Paciência, essa amante traiçoeira
Ou a minha paciência perdeu a paciência e abandonou-me ou a coisa bateu no fundo. Ou conhecendo-a como a conheço, foi paciente e só me abandonou quando a coisa bateu no fundo. É confrangedor verificar que basta os poucos consagrados que conseguem combinar o lugar cativo que têm nestas distinções com algum talento não conseguirem sacar um grande filme ou mais uma grande representação, ou não haver a sorte (por mais hipócrita que isso seja) de os ventos soprados do sundance do momento chegarem à costa, para se prestar um serviço de uma pobreza franciscana à sétima arte, um verdadeiro festim de mediania. É que mesmo os que não concordam com a minha apreciação das películas e prestações galardoadas (que respeito, mas não tenho em grande consideração que essa mania pós-moderna de os gostos não se discutirem não passa de isso mesmo, uma mania) têm de concordar, que pelo menos, enquanto arte intimamente plural, o cinema se vê cada vez pior representado em eventos que se deveriam destinar a glorificá-lo, que deveriam ser o combustível para a máquina de sonhos . A, cada vez mais pertinente, questão que me coloco anualmente, algures em Fevereiro, parece por fim ter encontrado uma resposta definitiva que não pesará na consciência: não, não vale a pena, vai antes dormir.
domingo, 17 de janeiro de 2010
sábado, 16 de janeiro de 2010
Suspensão
Voltar a Cheever num quarto escuro só com a luz da cabeceira como companheira, oferece aquela confortável sensação quente do regresso a um quarto onde já estivemos, com grades a separar-nos dos restantes, com uma televisão minúscula que insiste em nos relatar a vida lá fora para a qual nos estamos completamente a borrifar, com as refeições a horas e entregues num tabuleiro gélido a que não ligamos porque a fome há muito nos abandonou, com o loiça branca por estrear a brilhar a um canto enquanto nos tentamos recordar o que é um corpo.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Banho de revelação
Vi o Afterschool no final do ano passado, numa leva de mais uns quantos filmes em poucos dias, que não lhe deu o espaço suficiente para respirar e amadurecer condignamente no minha cabeça, sufocado que foi, pelo realismo pouco realista de Un Prophète e pelo arraçado de gótico americano (com vénia felliniana) de Tetro.
Mas o tempo tudo resolve e se tanto o filme de Audiard como o de Coppola estão mais que digeridos e arrumados, o quase que sonegado Afterschool começa agora a revelar-se em toda a sua sensibilidade. Não especificamente pelo seu conteúdo temático (por mais interessante que seja, porque realmente o é, e muito menos devedor a Van Sant ou Larry Clark do que inicialmente queremos aceitar, mas isso é todo um outro postal), não pela gestão primorosa da tensão ao longo de todo o filme, mas sim pelos seus planos, pelos enquadramentos desequilibrados e pela relação com aquele espaço que aprisiona as personagens (por mais que isso não possa ser dissociado do conteúdo temático): a nave espacial dentro da qual Robert se movimenta, branca, estéril, constantemente observado? ou constantemente a observar?
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Discos
Embora desconfie que poderei estar a cometer uma ilegalidade, este é um postal sobre discos que não o último dos Vampire Weekend. De modo a amortecer o choque e apaziguar as dores que poderão resultar da leitura destas linhas e, de certo modo, na esperança de não incorrer em pena de prisão, decidi usar exaustivamente a palavra "contra" neste texto, manobra que estou certo não escapará os mais atentos. Avancemos então.
Nos últimos tempos tenho andado a escutar vários LPs, EPs, e pelos vistos, K7s, que há muito clamavam pela devida atenção e que muito andaram pelas bocas do mundo no ano passado. Um espécie de pacote best of da euforia electrónica solarenga composto por Neon Indian, Washed Out, Ducktails, a família Memory, e os DeLorean (que não vêm de Espanha como se diz por aí, mas sim, tal como o El Guincho, de Barcelona). In a nutshell, posso dizer que fiquei bastante impressionado com Psychic Chasms dos Neon Indian, e comigo mesmo por ouvir tantas vezes, e com tanto prazer, Ducktails (e embora o apelo hedonista de Washed Out não tenha caído em saco roto, cheira-me que, se fosse Verão, rodaria com outra insistência).
A par destes, debrucei-me também sobre Summertime!, bonito EP de título certeiro dos The Drums, cheio de canções simples que tão facilmente viciam como se esquecem, e sobre os Real Estate (banda que inclui Matthew Modanile do já referido projecto Ducktails) cujo álbum de estreia homónimo é uma verdadeira obra-prima, I kid you not.
Recorrendo à velha, mas nunca estafada, fórmula indie de canções + guitarras entrelaçadas, é um álbum de uma banda que se pode dizer anacrónica, na mesma medida em que, por exemplo, os Yo La Tengo o são: não por serem de outro tempo, mas por não terem tempo, por serem de um mundo onde não há estações nem hypes, só canções (inclusive os instrumentais) cuidadosamente manufacturadas com os dedos, as gargantas e o inacreditável bom-gosto com que estes rapazes nasceram. Duas guitarras e um baixo em comunhão, de uma beleza estonteante como há muito não ouvia, dividem as atenções com melodias de voz que, sem puxarem as canções do seu território, não se escondem e delicadamente vão unindo as canções num todo.
Há bastante tempo que não me rendia assim, tão absolutamente, a um disco inteiro. Acabou-se o frio para mim este Inverno.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Resolução peckinpahiana
Gil Westrum: Partner, do you know what's on the back of a poor man when he dies? The clothes of pride. And they're not a bit warmer to him dead then they were when he was alive. Is that all you want, Steve?
Steve Judd: All I want is to enter my house justified.
em Ride the High Country, argumento de N.B.Stone Jr., Sam Peckinpah e Robert Creighton Williams
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Sheeeeeeeeeeeeeit
A primeira entrada no meu obituário sentimental anual não foi Rohmer, mas sim o The Wire, de quem me despedi nos primeiros dias do ano. Nos últimos meses tenho-me dedicado a pôr-me a par dos dourados anos zero, televisivamente falando, em prejuízo da habitual cinefilia. E se, no meio de grandes guiões e grandes interpretações, muitas das séries não foram mais do que confirmações daquilo que já me tinha apercebido pelo visionamento esporádico de um ou outro episódio, The Wire foi tudo isso e muito mais.
Ao longo das suas cinco temporadas, espraia-se sublimemente por vários instituições, ou facetas da vida de uma cidade se quisermos, sem as compartimentar (como habitualmente se faz para melhor definir um raio de acção social), para criar não só o retrato mais realista e impressionante de uma cidade americana que já tive oportunidade de ver, mas mais que isso, do que é viver em comunidade hoje em dia, das interligações, das escolhas que temos de fazer e as consequências que elas acarretam. É verdade que é um drama policial situado em Baltimore, mas só durante os créditos iniciais do primeiro episódio, depois é um épico humano situado neste planeta.
Embora fosse tendo a noção possível da grandiosidade daquilo que se desenrolava à minha frente, à medida que ia devorando episódio atrás de episódio, houve um momento em particular em que senti que a série toda podia estar ali condensada naquela sequência, naqueles movimentos sussurados, em tudo o que não precisa de ser dito: quando McNulty e Bodie conversam no jardim enquanto almoçam juntos pela última vez, a antecâmara da ária interpretada pouco depois por Bodie, a fechar a comovente ópera dos corner boys.
Ao longo das suas cinco temporadas, espraia-se sublimemente por vários instituições, ou facetas da vida de uma cidade se quisermos, sem as compartimentar (como habitualmente se faz para melhor definir um raio de acção social), para criar não só o retrato mais realista e impressionante de uma cidade americana que já tive oportunidade de ver, mas mais que isso, do que é viver em comunidade hoje em dia, das interligações, das escolhas que temos de fazer e as consequências que elas acarretam. É verdade que é um drama policial situado em Baltimore, mas só durante os créditos iniciais do primeiro episódio, depois é um épico humano situado neste planeta.
Embora fosse tendo a noção possível da grandiosidade daquilo que se desenrolava à minha frente, à medida que ia devorando episódio atrás de episódio, houve um momento em particular em que senti que a série toda podia estar ali condensada naquela sequência, naqueles movimentos sussurados, em tudo o que não precisa de ser dito: quando McNulty e Bodie conversam no jardim enquanto almoçam juntos pela última vez, a antecâmara da ária interpretada pouco depois por Bodie, a fechar a comovente ópera dos corner boys.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Revelhão
Os primeiros dias do ano são perigosos. Demasiada excitação, tanta que chega a ser palpável, mesmo em quem não tem razões para isso, o que dá inevitavelmente origem a resoluções, projectos, convites para esses mesmos projectos (claro que este ano é que é), e outras coisas tais que não lembram ao Diabo. É jogar um bom balde de água fria em cima da tumescência de ano novo e concentrar as atenções nas pontas soltas do ano que findou.
Don't get me wrong, o que não falta para aqui são ideias e vontade de as concretizar, mas é preciso ter olho nesta altura do ano para distinguir as portas verdadeiramente abertas das que estão só a ranger por causa de uma corrente de ar. Quando o vendaval amainar, tudo será mais claro.
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