Os mais atentos de vós a estas coisas da música portuguesa (e o mais feromónicos, também) já terão reparado, ou esbarrado, neste vídeo ai em cima que circula, as we speak, pelas internets da vida (vídeo viral, portanto), protagonizado por um empregado de hotel que, pelos vistos, arranha uns acordes, e providencia canções para senhoras em modo serviço de quartos. Consegui apurar que o nome do assalariado em questão será Diego Armés, que é sócio do Benfica, e que a fama granjeada pelo tal vídeo já lhe terá valido inúmeras ofertas e oportunidades para capitalizar, sendo que a Chifre Records ter-se-á já editado à concorrência e assinado contrato para a edição de um disco, de que só se sabe que se chamará "Canções para Senhoras" e será editado depois do Verão (provavelmente numa estratégia implícita para deixar acalmar o burburinho à volta do vídeo e descolar do dito assalariado o rótulo de fenómeno fugaz). Soube também que o vídeo é mais uma produção Picos Gémeos, que voltam a reafirmar a sua inequívoca capacidade para estar no sítio certo na altura certa (e sempre com o devido equipamento de luz, só para o caso...).
domingo, 31 de julho de 2011
Cena viral
Os mais atentos de vós a estas coisas da música portuguesa (e o mais feromónicos, também) já terão reparado, ou esbarrado, neste vídeo ai em cima que circula, as we speak, pelas internets da vida (vídeo viral, portanto), protagonizado por um empregado de hotel que, pelos vistos, arranha uns acordes, e providencia canções para senhoras em modo serviço de quartos. Consegui apurar que o nome do assalariado em questão será Diego Armés, que é sócio do Benfica, e que a fama granjeada pelo tal vídeo já lhe terá valido inúmeras ofertas e oportunidades para capitalizar, sendo que a Chifre Records ter-se-á já editado à concorrência e assinado contrato para a edição de um disco, de que só se sabe que se chamará "Canções para Senhoras" e será editado depois do Verão (provavelmente numa estratégia implícita para deixar acalmar o burburinho à volta do vídeo e descolar do dito assalariado o rótulo de fenómeno fugaz). Soube também que o vídeo é mais uma produção Picos Gémeos, que voltam a reafirmar a sua inequívoca capacidade para estar no sítio certo na altura certa (e sempre com o devido equipamento de luz, só para o caso...).
terça-feira, 26 de julho de 2011
Aviso à navegação
Já está disponível, aqui, a tal compilação comemorativa dos vinte anos do "Ruptura Explosiva". Não é demais referir que não só contem uma malha com assinatura C de Croché & Filipe da Graça como muitas outras de gente muito talentosa. É sacar e sair chilando por aí, portanto. Também não é demais referir que amanhã há concerto de Filipe da Graça no Bairro, só o homem e a viola, o que tem tanto de redutor como de libertador, acreditem. É às 22:00, no Répública na Rua da Rosa e é grátis (penso que não será necessário dizer mais nada). Vemo-nos lá.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Colagem
Amigos, amigas, hemafroditas e pessoas em geral, dois eventos a não perder, musicalmente falando, com a vantagem de serem ambos do roque, a saber: hoje à noite, no Musicbox, lançamento da Chifre, nova editora, de gente boa, com grandes artistas, e ainda melhor gosto na escolha dos colaboradores ao nível dos telediscos (na festa vão poder assistir à estreia do teledisco para a "Canção Sentimental" do Diego Armés, uma produção cá da casa, com o selo Picos Gémeos); amanhã de manhã, em Carcavelos, o lançamento de uma compilação (nascida na cabeça do Tiago Cavaco, um gajo que continua a insistir que viver no séc.XXI e em Portugal não são condições contraditórias), em jeito convívio/surfada (e se isto não é do roque, não sei o que é), que comemora os 20 anos do "Ruptura Explosiva", essa obra maior do cinema mundial (e da Bigelow em particular, no fundo, no fundo, o Óscar que ela recebeu o ano passado foi o de carreira), que consiste, muito resumidamente, numa concentração, estupidamente elevada, de talento. Há por lá uma malha com a assinatura C de Croché & Filipe da Graça e muitos, muitos mais artistas, que não me canso de gritar, são altamente talentosos. Nem preciso de referir, que, para gente verdadeiramente do roque, a única opção será, naturalmente, a colagem do dois eventos, prolongando a festa chifruda até à hora da surfada. Só têm de decidir, ao chegar à praia, se são mais do estilo Utah (e aí aguardam calmamente que o nível de alcoolemia desça para valores, digamos, aceitáveis, antes de se fazerem ao mar) ou se são mais do estilo Bodhi (ou seja, pegar na prancha e siga para bingo).
quinta-feira, 21 de julho de 2011
terça-feira, 19 de julho de 2011
Everything is new
Ela pode ser um verdadeiro festival nessa noite mas é pela manhã que vamos saber o cartaz dos próximos dias.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
"Do Roque"
O roque, aquele que vale a pena pelo menos, tem poucas regras e ainda menos dogmas. Mais camada, menos camada, mais independência, menos indepedência, há de tudo e para todos. E ainda estou por conhecer um gajo "do roque" (mas mesmo do roque, daqueles que só ouvem malhas) que precisasse que alguém lho definisse (definir não é "do roque", embora seja de produtor "do roque") e que não defendesse até à morte (pelo menos) quatro bandas que eu gostava que nunca tivessem existido. Sendo que, muito provavelmente, hoje em dia adoro uma dessas bandas e uma das outras está em pleno processo de assimilação (as outras duas estão mesmo descartadas: o gajo é que é parvo e, obviamente, não percebe nada de roque).
Mas, como tudo na vida, o roque também é cíclico. Há coisas que se vão repetindo (às vezes coisas giras, até), e, raramente, por acaso. Umas das coisas básicas que se vai aprendendo é que o primeiro disco de um baterista roque (e não estou a falar de um tipo que até consegue tocar umas malhas dos White Stripes na bateria) tem um charme irrepetitível. O primeiro longa duração do Filipe da Graça (que é tão "do roque" que até vem em formato cdr já com riscos) está aí para comprová-lo, com o delicioso extra de provar também que o tal talentoso baterista roque tem as mesmas possibilidades de gravar um disco fantástico quer tenha anteriormente estado numa banda com o Kurt Cobain quer tenha estado numa com o C de Croché. Não estou, naturalmente, com esta comparação, a insinuar que se vislumbra para o Filipe da Graça uma carreira similar à trilhada pelo Dave Grohl, até por razões evidentes (o Dave Grohl, que seja do meu conhecimento, não tem nenhum talento especial com a câmera na mão; o C de Croché está aí para as curvas, enquanto que o Kurt foi o que se sabe, e por aí fora...). Não que não fosse bem-vinda, muito pelo contrário.
O roque, ao contrário do que alguns gajos de cabelo comprido por aí apregoam, não só não é a coisa mais importante da vida (embora seja indiscutivelmente mais importante que a pope) como também tem dado azo a conceitos tão errados como o de bandas "que se venderam" ou que "se deixaram corromper pelo dinheiro" e que por essa razão já não são "do roque", como tantas vezes se ouve os fãs, erradamente, acusar (fãs esses, que, ironicamente, são muito mais importantes que o roque em si, embora não o saibam). Um gajo "do roque" não se deixa corromper, corrompe, não se vende, quanto muito compra (um ego maior, por exemplo). Pode é acontecer-lhe, como a qualquer gajo no mundo que faça música*(e aqui os géneros até são equilibrados, embora se registe uma maior taxa de incidência no reggae), fazer malhas merdosas, embora já tenha, em tempos, feito boas malhas, ou debitar disco pope atrás de disco pope sem nunca deixar de ser "do roque" (personal favourites), ou até, andar há anos a fazer discos roque sem nunca ser verdadeiramente "do roque". Num top dez de coisas mais importantes que o roque, na vida, assim de cabeça, teriam que constar sempre items como: o dinheiro (em qualquer formato), a morte, a vida em geral, o cinema (inclusive documentários sobre roque, mas excluindo os concertos gravados**), ou a música em geral. Um dos factores de atracção do roque é o facto de poder ser um veículo para se falar sobre todas estas coisas, mais importantes que ele mesmo, através das vulgarmente chamadas letras (com a vantagem, em relação à pope, de que no roque, as mesmas podem ser gritadas e não precisam de ser entendidas, ou em relação ao reggae, de não terem de incluir a palavras "rewinda" ou "selector", que são bem tramadas de rimar). Voltando ao que interessa (o charme irrepetitível do primeiro disco de um baterista roque), essa que está aí em baixo não é uma malha, é um malhão (expressão "do roque" usada para designar uma malha verdadeiramente excepcional mas que tem de ser usada com cautela por causa da infeliz ligação à tradicional dança algarvia, e aproveito esta deixa para clarificar que o trad-roque, não obstante o nome, não é "do roque"), proveniente de uma dessas brutais estreias em disco de um baterista, neste caso, o primeiro dos Foo Fighters do Dave Grohl (e os Foo Fighters são também um perfeito exemplo de uma banda que é "do roque", mas que faz música chata como a potassa há mais anos do que os que eu gostava de saber). A ideia inicial era espetar com uma do Filipe da Graça mas o disco contém nada mais nada menos do que sete malhões e não me consegui decidir.
Peço ainda desculpa por me ter referido a mim mesmo na terceira pessoa algumas vezes nas linhas anteriores (deve ser do facebook) e aproveito ainda para me pedir que daqui para a frente me tratassem por Miguel Relvas da FlorCaveira. Que o roque vos acompanhe.
*com excepção do J.Mascis
**com excepção dos dvds dos Queen ou qualquer outro em que entre o Brian May ou gajos com um penteado parecidoterça-feira, 12 de abril de 2011
Assunto lateral
A tendência natural é para se considerar que o aprofundamento da relação entre uma pessoa e algo (arte, o planeta, jolas, etc...) é um processo unilateral, por oposição ao aprofundamento da relação entre duas pessoas, que só é possível através do chamado processo bilateral. Eu sei que isto é uma concepção errada. Sei que não é o simples dispêndio de tempo (vulgarmente confundido com investimento) que pode salvar uma relação em que não existe reciprocidade, seja lá com o que for. Quer seja porque a outra parte não está pura e simplesmente para aí virada (lá está a cruel bilateralidade) ou porque não se pode esperar que o regresso a casa, depois de uma ausência de uns bons meses, seja recompensada com filet mignon. Isto não para não falar do processo de desabituação a que o palato foi sujeito. Reconfirmei esta verdade esta semana, quando decidi começar a pôr-me a par de alguns dos filmes que fui perdendo nos últimos meses, nomeadamente The Fighter, The Social Network e I'm Still Here, assim de enfiada. Foi naturalmente muito má ideia, tanto a parte de vê-los quase de seguida como a selecção cinéfila. No entanto, ficou-me na retina aquela personagem interpretada pelo Joaquin Wahlberg, o boxeur nerd que se torna o mais novo bilionário de sempre ao trocar uma galopante carreira de actor pela de campeão do mundo de rap. E claro, aquele belíssimo plano final em que o protagonista cria uma página de facebook e convida uma moçoila para ser sua amiga (identifiquei-me com a personagem, e não é isso que nos ensinam que se deve fazer?). Bem, se tudo correr bem, brevemente sacudirei todo o pó e serei novamente merecedor de mergulhar profundamente nesse mundo.
quinta-feira, 17 de março de 2011
Os Reis da Graça
Logo à noite, uns quantos abençoados sairão da Culturbica de sorriso rasgado e corpo esgotado do roquenrole de Filipe da Graça. Na mão, carregarão um pedaço de arte popular que Andy Warhol não desdenharia.
sábado, 12 de março de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
quarta-feira, 9 de março de 2011
terça-feira, 8 de março de 2011
terça-feira, 1 de março de 2011
\m/
Difícil de perder. Por 4 euros apenas, podem ter uma jola numa mão, um disco do c#+!*?@ noutra e um balanço irresistível na carola. Em formato de poder-trio, com Marco Armés na bateria e moi-même no baixo. Enquanto não chega o abençoado dia, recomenda-se esta página, por onde irão passando as malhas do disco, uma a uma, em audição exclusiva. É ir ouvir e botar likes como se não houvesse amanhã. A gerência adverte para o risco da ocorrência de bate-cabeça e a afluência massiva de surfistas à procura daquela onda perfeita, delivered Filipe da Graça style.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Sobrevivência II
Há o amor dos amorosos. Há o orgulho dos orgulhosos. E há um homem (ya, assim mesmo, com "h" pequeno) que deambula a caminho de casa, menos cambaleante que o desejado, e cuja única preocupação na vida é entender porque é que o telemóvel caiu ao chão, assim se desprendendo da sua fiel bateria, e já não dá as horas certas. A única coisa pior do que chegar tarde e a más horas a casa, é não saber em que proporção é que se o faz (e vão treze dias de sorte desde o último postal).
sábado, 5 de fevereiro de 2011
O fundador da cena
Só para o caso de haver dúvidas sobre quem é o Conan O'Brien e porque é que o Dean Wareham tem tanta sorte em ser seu amigo (é crime desperdiçar uma oportunidade de linkar Coco).
O baixo fundador
Só para o caso de haver dúvidas sobre quem é a Naomi Yang e porque é que Dean Wareham tem tanta sorte em ser seu amigo (é a senhora que aparece aqui neste vídeo, a tocar uma magistral linha de baixo).
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Do ressabiamento
Dean Wareham só pode ser um dos gajos com mais sorte do mundo. Quais são as probabilidades de um gajo conhecer na universidade Conan O'Brien e Naomi Yang? E nem estou a ser picuinhas com a questão do talento que o gajo, obviamente, também tem. No outro dia deram-me a ouvir Luna, o que já não acontecia há algum tempo, e voltei a cair na esparrela. E claro que logo a seguir vieram os Galaxie 500. Não é fácil viver neste limbo de música brilhante e ressabiamento eterno. 23 minutes to Brussels dos Luna ao vivo, aí em baixo.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
A velha mochila vermelha
À porta da estação de comboios, ele tentava afastar o cabelo desgrenhado da frente dos olhos. O facto de não o lavar há uma semana e a barba grande, decididamente não ajudavam à delicada operação. Mesmo assim, nunca lhe tinha passado pela cabeça que cabelo empeçado pudesse doer tanto, e quanto às comichões, preferia nem pensar nelas. Havia mais em que pensar, de facto. A sua última semana tinha-se limitado à preparação para aquele momento. Noites passadas em claro, a fumar e a beber, a escrever uns versos, a alinhar uns acordes, a chorar quando conseguia, enfim, tudo o que o auxiliasse na capital tarefa de chegar ali, àquele momento, com o pior aspecto possível e num estado de auto-comiseração bíblico. Não era estratégia virgem e já dera vistosos e suculentos frutos. Na verdade, apresentava até um ar bastante descansado - às noites em claro tinham-se seguido, invariavelmente, dias inteiros a dormir, para além de que nunca tinha tido grande estômago nem para álcool nem para fumos - e não era a vestimenta, que tão esmeradamente tinha escolhido e com a qual dormia há uns dias, que ia alterar essa realidade.
À sua frente lá estava ela: magra, cabelo curto, seios e nariz empinados. A roupa que vestia não podia ser mais apropriada - tendo em conta que aquela que ali se apresentava era, nada mais nada menos, que a mulher que lhe tinha partido o coração - um fato acizentado. Limpo, profissional, justo. Parecia outra sem o habitual blusão de cabedal, que ele lhe tinha oferecido, e sem as calças de ganga desbotadas, que ele lhe tinha rasgado. No nariz restava uma leve cicatriz, silenciosa testemunha - talvez mais silenciada do que silenciosa, vendo bem as coisas - do metal que ainda há uma semana atrás lhe adornava o rosto.
Aos pés dela, reconheceu a velha mochila vermelha que tão fielmente os acompanhava desde que a tinham encontrado - lembrava-se como se fosse hoje - abandonada nos balneários dum qualquer parque de campismo. Tinham-na recolhido e tomado conta dela como de um filho. Mostraram-lhe o mundo: não havia festival de música, estação de comboio ou parque de campismo que aquela mochila não tenha conhecido. Não conseguia evitar pensar que se aquela mochila falasse, talvez ela os pudesse salvar. Embora ele soubesse, por experiência própria, o quão contraproducente era fantasiar em horas de aflição, sentia-se resvalar perigosamente.
Seria aquele um sinal de que ela não estava mesmo decidida a apanhar aquele comboio? Ou melhor, teria ela trazido a mochila "deles" na esperança que ele percebesse que o que ela realmente queria era que eles apanhassem aquele comboio juntos, como tantos outros? Rumo a uma vida nova? A outras mochilas? Por outro lado, de certeza que ela não tinha outra como aquela. A capacidade de arrumação da velha mochila vermelha, com todos os seus bolsos e compartimentos secretos, era verdadeiramente impressionante. Se fosse ele a partir em vez dela, também não teria pensado duas vezes entre confiar os seus pertences àquele intrincado e sofisticado sistema de divisões almofadadas ou a uma outra qualquer. Isto se não a tivesse deixado na casa dela, como parecia ser o caso.
Aos pés dela, reconheceu a velha mochila vermelha que tão fielmente os acompanhava desde que a tinham encontrado - lembrava-se como se fosse hoje - abandonada nos balneários dum qualquer parque de campismo. Tinham-na recolhido e tomado conta dela como de um filho. Mostraram-lhe o mundo: não havia festival de música, estação de comboio ou parque de campismo que aquela mochila não tenha conhecido. Não conseguia evitar pensar que se aquela mochila falasse, talvez ela os pudesse salvar. Embora ele soubesse, por experiência própria, o quão contraproducente era fantasiar em horas de aflição, sentia-se resvalar perigosamente.
Seria aquele um sinal de que ela não estava mesmo decidida a apanhar aquele comboio? Ou melhor, teria ela trazido a mochila "deles" na esperança que ele percebesse que o que ela realmente queria era que eles apanhassem aquele comboio juntos, como tantos outros? Rumo a uma vida nova? A outras mochilas? Por outro lado, de certeza que ela não tinha outra como aquela. A capacidade de arrumação da velha mochila vermelha, com todos os seus bolsos e compartimentos secretos, era verdadeiramente impressionante. Se fosse ele a partir em vez dela, também não teria pensado duas vezes entre confiar os seus pertences àquele intrincado e sofisticado sistema de divisões almofadadas ou a uma outra qualquer. Isto se não a tivesse deixado na casa dela, como parecia ser o caso.
A aparente imobilidade dela não o impedia de descortinar um leve menear de ancas, tão subtil quanto preciso. Ele sabia lê-la como ninguém. Ela própria, em tempos, o tinha admitido. E a mensagem que aquelas ancas transmitiam era simples e clara: "a vida continua, vais conhecer outras pessoas, vais ter sexo, mas não como este...".
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Licença poética
Um gajo querendo, encontra poesia em qualquer lado. Há quem a encontre de pé, no meio do quarto, olhando através da janela para uma bomba de gasolina. Há quem vá caminhar para o meio da natureza à procura dela e depois a encontre na auto-estrada no regresso a casa. Tinha um amigo na secundária que a encontrava numa música dos Pearl Jam em específico. Prefiro não me lembrar qual. Tive um professor que jurava que se cruzava com ela todos os dias, algures no metro. Tive um outro, antes desse, não muito distante geograficamente mas a quilómetros de espírito, que a encontrava nos artigos de opinião do João César das Neves. Porra, se até há quem a consiga encontrar no cinema do Iñárritu, tem que haver em todo o lado. O que retira algum mérito aos artífices. A não ser que os artífices sejam os sentidos de quem a apreende. Mas aí somos todos poetas. E eu conheço muita gente que de poeta não tem nada. Aliás, fui educado na convicção de que um poeta é alguém que vê algo que escapa à maioria e o transmite de um modo que continua a escapar à maioria mas que toca uns quantos de tal maneira, que são deles para sempre. Ora, isto não se encaixa, nem de perto nem de longe, na descrição da maior parte das pessoas que conheço. Se calhar, há mas é por aí muitos mentirosos, pelo menos em relação à quantidade de poesia que têm nas suas vidas. Ou então não são mentirosos e fazem o que podem, como todos nós. É incrível a quantidade de desculpas que as pessoas arranjam para não abrir um livro de poesia.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Pancadinhas de amor (tap that ass)
Há dias assim, em que um gajo acorda e já não consegue estar adormecido. De repente apercebe-se que há muito que não há areia por cair na ampulheta. E que em vez de construir pontes, chegou o dia das destruir. Mas um país é um questão de amor. É preciso aplicar o correctivo e não ceder, é preciso saber dizer não. E não cair na sweet talk. Esta aí em baixo vai direitinha para as ruas do Cairo (e não, não são os Jáfumega).
domingo, 30 de janeiro de 2011
sábado, 29 de janeiro de 2011
Todo o burro come palha
Novo marcador a reter aqui para estes lados. Delicioso blogue com contribuitores aqui da colina e com um só objectivo, singelo por sinal, estar para a gastronomia nacional como a Bica está para o meio audiovisual português. Agora tenho de ir, tenho uns vol-au-vent de pato no forno que devem estar quase no ponto para a fotografia.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Contabilidade I
Segundo o código de conduta da blogosfera, fazer balanços (de qualquer tipo) do ano anterior nesta altura do campeonato, embora altamente desaconselhável, ainda se encontra dentro do prazo limite consagrado a tal actividade. Assim sendo, balancemos num instante.
O ano passado não foi realmente brilhante ao nível dos discos, tal como o cinema. Aliás, foi um ano que não deu ares de ter sido particularmente brilhante em quase nada, mas quando se pára para pensar um bocado, enfim, percebe-se que não foi assim tão pouco produtivo e darmos por nós a conjugar copiosamente "primeiro" só pode ser bom sinal. Mas adiante, voltemos aos discos. A My Dark Twisted Fantasy do Kanye West é unânime, e só podia mesmo ser, é escusado gastar mais latim no gajo (quem não percebe que desampare a loja). Deerhunter também não levanta grande discussão, Halcyon Digest é dos melhores do ano sem dúvida nenhuma e o universo dos caçadores de veado continua a expandir-se. Os Black Mountain voltaram, o que só por si já é bom (e os doutores dos festivais já os traziam cá), mas Wilderness Heart não é o disco que podia ser (embora tenha uma das capas do ano). Before Today de Ariel Pink tem muita pinta e dá esperança a gente pelo mundo todo. É a prova provada que qualquer gajo que oiça obsessivamente a história da pópe, por mais bizarro ou passado dos caretos que seja, pode sempre fazer grandes discos. Lembro-me de curtir à brava os LCD e o seu This is Happening nos idos da Primavera. Também me lembro de ter sido muito positivamente surpreendido por Archandroid da Janelle Monáe, foi quase como se tivesse gasto toda a pouca paciência para coisas novas em 2010 neste disco. Falando em pouca paciência, Twin Shadow e Hot Chip tiveram grandes singles com Slow e I Fell Better (e grandes vídeos para esses mesmos singles) mas discos nem por isso. O mestre Sufjan deve ter querido provar qualquer coisa com The Age of Adz, mas a mim só me provou que o All Delighted People EP foi bem melhor (desconfio que a já referida falta de paciência teve a sua quota parte de responsabilidade neste processo e sou gajo para me vir a arrepender disto). Os Gorillaz têm neste momento o condão de me irritar ao primeiro acorde de qualquer canção (em Plastic Beach são todas), o que é duplamente irritante porque sempre admirei o Damon Albarn. Irritante também é o mínimo que se pode dizer de Fight Softly, dos Ruby Suns (coração partido neste). Viajar na companhia da M.I.A também já não é o que era, e seguimos cada um o seu caminho. Sei também de um sítio muita fixe onde os Broken Bells podem enfiar o disco deles. National e Walkmen (que se lixem os the's) são duas bandas que neste momento meto no mesmo saco, primeiro fui incondicional das duas, depois quando rebentaram passei a ser aquele fã armado ao pingarelho que explica a toda a gente que o seu disco favorito é exactamente aquele antes da explosão, que não por acaso, em ambos os casos é o disco mais roque (é um cliché indie mas é verdade, Alligator e Bows and Arrows ainda são os meus favoritos), agora sou o gajo que tem inveja de quem adorou High Violet e Lisbon porque eu acho-os uma chatice e não tive pachorra para os ouvir mais que um par de vezes. Por falar em pôr bandas no mesmo saco, chegamos aos Vampire Weekend e aos Arcade Fire. Relação parecida com ambas também, grande primeiro disco para as duas bandas, ambas muito boas em concerto, discos seguintes a pagar a factura das soberbas estreias, Contra e The Suburbs incluídos (mas há diferenças, Contra parece-me claramente um caso de um disco menos inspirado, já os Arcade não é o caso, o disco parece-me de bom nível, eu é que estou algo cansado do épico à canadiana). Crazy for You dos Best Coast, os tais do campeonato de Verão, têm um disco que é um grower, e gosto cada vez mais dele, tal como os Beach House que estão à espera que me passe a pica mais roque para voltar com outra calma a Teen Dream. No capítulo das roquenroladas (inconsequenetes como só as roquenroladas conseguem ser) os Harlem com Hippies e os Strange Boys com Be Brave marcaram pontos e estoiraram tímpanos. Não cheguei a conseguir entrar de verdade em Brothers, dos Black Keys, mas derreti-me por Never Gonna Give You Up (uma das minhas canções favoritas do ano). Ainda uma palavra para Congratulations dos MGMT, responsáveis pelo momento Syd Barrett do ano, e outra para Odd Blood, dos Yeasayer, o álbum desiquilibrado do ano (com outra das minhas favoritas do ano, Madder Red). O El Guincho esteve bem no sophomore effort com Pop Negro (depois da pérola Alegranza! de há uns anos). Cá pelo burgo, os melhores foram o animalismo colectivo de vivenda do Fachada (ainda não fui ao novo à séria mas não parece prometer muito), o roque com pêlo na venta e no peito dos Feromona (gente desóludida sempre fez boa música) e V do Guillul (o primeiro e único disco do séc.XXI parido neste país), mas ainda não me fiz ao dos Linda Martini. A estreia do Paus é simpática qb. Foi também um ano que passei a suspirar por novo disco dos Clap Your Hands Say Yeah, especialmente quando ouvia algumas das linhas de baixo chatísssimas que se fizeram este ano. Onde não tive esse tipo de problemas foi nos meus dois discos do ano: At Echo Lake (a belíssima Time Fading Lines toca aí em baixo) dos Woods e King of the Beach dos Wavves. O Woods deram os tons quentes a 2010, a melancolia, as guitarras bonitas, os versos ainda mais bonitos, os pores-do-sol, as imperiais nas esplanadas no final de tardes solarengas, o encontrar os amigos, o encontrar as miúdas. Os Wavves deram a loucura a 2010, o excesso, as guitarras distorcidas, os versos ainda mais distorcidos, as bebidas brancas nos finais de noites camabaleantes, o não saber onde é que deixamos os amigos, o perdermos as miúdas. Assim de repente, é tudo. Está musicalmente balançado.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Do tablado
Claro que há muitas coisas importantes nesse tão nobre quanto egoísta objectivo de tornar a passagem por um palco prazenteira, tanto para quem o pisa como para quem o visa, mas há que nunca perder de vista que as mais importantes não importam para nada.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Novamente nas minhas sete quintas (ou na nova nuvem)
"Passava-se isto na zona Leste dos Estados Unidos e no género de lugar onde a maior parte de nós vive. No lugarejo sem administração própria de B......., com uma população de talvez duzentos casais, todos com cães e crianças, e muitos deles com criados; a semelhança, mas é só um modo de falar, com uma cidade castreja estava em que os enfermos, os descoroçoados e os pobres não conseguiam subir a íngreme vereda moral que constituía a sua defesa natural, e qualquer um dos seus habitantes, assim que ficasse infectado pela infelicidade ou pela insatisfação, apercebia-se da desesperança da existência em tamanhas altitudes espirituais e ia viver para a planície. A vida era incomparavelmente confortável e tranquila."
em A carrinha de mudanças escarlate, de John Cheever
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
É aparecer
Amanhã pelas 23:00, C de Croché e Os Naperãos no Offbeatz (Musicbox). Roque quadrado, grátis. Duvido que alguém tenha melhor programa para uma quarta-feira à noite.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Às vezes (a aventura)
Há mais de um mês que não oiço nenhum disco novo. Às vezes pura e simplesmente não apetece. Às vezes a mais simples descrição do imaginário da banda, ou do contexto, ou do percurso, ou até da urgência que aquela gente comporta (tudo coisas que normalmente despertam a tal curiosidade) é desculpa suficiente para fazer ouvidos moucos. Às vezes só precisamos de um clássico. De um dos nossos, não dos que vêm nos manuais. De um daqueles discos que sabemos que vão estar sempre lá, sem pressas. Um daqueles discos que ainda não foi acabado sequer. Que pomos a tocar e fechamos os olhos, esperando pacientemente por aquela frase, por aquele pormenor que nunca tinhamos ouvido. Adventure, o segundo dos Television é um desses. Não é a obra-prima que é Marquee Moon, e ainda bem que assim o é. Tem também as maravilhosas (adjectivo que só existe exactamente para adjectivar estas composições) canções de Tom Verlaine e as guitarras (ia dizer maravilhosas mas agora já não posso) de Verlaine e Lloyd. Mas aqui as guitarras não têm a explosão do primeiro disco, em vez de se degladiarem e surpreenderem uma à outra, dançam, flirtam, até se deixarem enlear uma na outra. Há mais dedo de produção e depende menos da química da banda. É um disco bonito como poucos, romântico em toda a sua dolência. Não é um daqueles discos que levam as pessoas a quererem fazer música, muito pelo contrário, desencoraja-as (pelo menos aos mais fracos de espírito). Porque faz tocar guitarra parecer a coisa mais difícil do mundo, e a mais bela. Aí em baixo estão as 3 primeiras faixas do disco de seguida. A segunda, Days, é capaz de ser a canção mais bela que já passou por este blogue. É fechar os olhos.
domingo, 23 de janeiro de 2011
sábado, 22 de janeiro de 2011
Madrugadas Cartesianas II
Ela sabia que nada naquele processo sabia a casual. Ele só fingia que não sabia. O telefonema, os licores em cima da mesa, os amigos que não chegavam, os poucos dias passados desde o fim de ano, tinham um travo textual. Ele só sorria. Ela imaginava-o a sorrir durante todo aquele longo ano que não se viram. Ele só queria que ela abdicasse do cachecol acanhado que lhe sufocava o pescoço. Ela inspirou fundo e por fim, sorriu também. Ele só conseguia pensar na pele marmórea que ela usava para agasalhar o corpo e retribuia-lhe o sorriso enquanto tentava recordar-se do toque dos seus ombros. Ela retirou o cachecol num movimento coreografado. Por entre dois sorvos adocicados, alguém murmurou: "Tu sabes que eu tenho um método..."
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Basic cable is the sheeet!
A tv é uma cena fixe, pelo menos a que chega via cabo. Sim, há muito que há o Conan, o Jon Stewart, uma série ou outra que vale a pena gravar, mas já não é só isso. A televisão já não estupidifica, como tão comummente se popularizou dizer, muito pelo contrário, integrou e absorveu as pessoas estúpidas que ela mesmo criou (as mais talentosas, claro) e transformou-as em puro entretenimento, não poucas vezes, de nível elevado. E para além disso, também educa.
Foi a graças a ela que percebi finalmente o que é que se passa num campo de futebol americano (e o que lá se passa é do caraças), o que não podia ter vindo em melhor altura já que já estamos à porta de nova Super Bowl, que pela primeira vez na minha vida vou poder ver desfrutando de algo mais do que aquela parte quando as cheerleaders entram em campo. Foi também graças a ela (na mesma noite em que me tinha acabado de deliciar com um monumental New York Jets vs. New England Patriots - e os Jets são a minha primeira equipa favorita desta cena) que tive a oportunidade de rever Big Mário, aquele que estava sempre deitado no sofá no primeiro Big Brother e que depois foi preso (penso que por essa mesma razão), num espectacular programa de um canal nortenho, naquela noite dedicado à soap opera à la CSI protagonizada pelo mais recente português a viver o sonho americano: Renato Seabra.
Momento da noite? Foram dois: Mark Sanchez a desempatar o seu particular choque de titãs com Tom Brady (a primeira grande vantagem do futebol americano é que todas as equipas, grandes ou pequenas, têm um nº 10, um artista à séria) no terceiro período com um fabuloso passe de 30 jardas (sim, agora trabalho a jardas) e, last but not least, Big Mário a explicar a um advogado, e passo a citar: "o problema é que o sistema judicial americano não compreende a psicologia do que é crescer em Cantanhede". I rest my case.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Holidays
Houve aqui claramente um gap do último postal para este, não há como escondê-lo. Basta atentar nas datas. Se razões para a ausência tenho muitas, para o regresso tenho mesmo só uma: o genuíno prazer que ainda tenho em escrever aqui. Não sei se são as míudas aí ao lado de naperãos na cabeça (ando há séculos para fazer um restyling disto, mas a verdade é que não consigo), se é a sensação de partilha, se é a sensação de privacidade, ou se, como me disseram no outro dia (merecidamente aliás, a velha estória dos telhados de vidro...), "isso é só porque não tens facebook". Pelo meio houve de tudo, de figuras tristes a enlevos auto-induzidos, de efemérides a funerais, mas acima de tudo, o Natal, o Revelhão e as holidays que os mesmos justificam, ou melhor dizendo, a família, os amigos, e o roquenrole na garagem.
Filipe da Graça continua a dar-me cabazadas na nossa competição privada de quem dá a prenda mais fixe (o gajo está cada vez melhor nisto, mas volto a prometer desforra e para o ano é que é); os velhotes não só já não se queixam de receber prendas como já nem sequer conseguem esconder a ansiedade se não lhes toca logo qualquer coisita; foi dado o primeiro passo rumo ao antigo projecto de C de Croché e Filipe da Graça de oferecer música pelo Natal (a estreia coube à prima Sabrina e pode-se ouvir aí em baixo); Peckinpah aos molhos, porque nada é balanço e resolução ao mesmo tempo como Peckinpah (ou como uma caminhada final e uma troca de sorrisos loucos podem ser uma e a mesma coisa); jams à moda antiga e aquele momento irrepetitível quando se toca pela primeira vez com alguém e se sabe que um dia vamos fazer alguma coisa juntos; a condição humana de que somos todos reféns; a dimensão humana de pedir desculpa por não ter tido condições (lá está a tal condição humana) de interagir mais com as "pessoas"; o surf via LeRoy Grannis e Takeshi Kitano; perceber que um amigo afinal não é o bicho-do-mato que pinta ser, escolheu foi outras praias para frequentar, o que só se pode respeitar (mesmo que se sinta a areia a escorrer de vez pelo meio dos dedos); fechar com arroz de pato extraordinaire e abrir com um mergulho purificador, mesmo que não tenha sido responsável por nenhum dos dois (e ficam aqui os sentidos parabéns aos chefes); rever o sorriso de um puto que merece tudo (e que pelos vistos já anda à procura).
Espero que tenham tido um Bom Natal, um grande Revelhão e que 2011 vá de vento em popa.
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