No já longínquo ano de 1992, um emocionado Kiarostami recebeu o Prémio Internacional Roberto Rossellini pela realização de E a Vida Continua. Em 2010, é Kiarostami quem retribui a honra, convocando Viaggio in Italia para pano de fundo de mais um desconcertante ensaio ao seu estilo, ou seja, sobre a arte, sobre a vida, mas disfarçado de filme. Desta feita, com o pormenor genial de usar esse jogo que faz entre o filme de Rossellini e o seu, como uma metáfora gigante para a questão central do filme: o mérito da cópia perante o original. Mas não o faz por oposição, porque isso seria muito simples (a dada altura, a personagem de Binoche deixa escapar qualquer coisa como "não há nada de simples em ser-se simples"), fâ-lo antes mergulhando também o espectador na dúvida, largando-o de cabeça no cerne da discussão das personagens, como quem ridiculariza a questão. Tal como Rossellini em tempos, também Kiarostami nunca nos deixa esquecer que a vida e arte não são dissociáveis. Cada uma insufla sentido na outra.