"Há amigo e amigo. Há o que nos alerta prò perigo, e há o que nos desvia os olhos do próprio umbigo."
segunda-feira, 31 de maio de 2010
domingo, 30 de maio de 2010
Domingo bruto
Rod Hunting "As Told by the Vivian Girls" (2008)
(homenagem à obra de Henry Darger na forma de um cartaz para a peça As Told by The Vivians Girls pela Dog & Pony Theatre Company de Chicago)
sábado, 29 de maio de 2010
Io Sono L'Amore
Na escuridão da sala de cinema agradeci por nem as notícias da genialidade do filme de Luca Guadagnino (há já muito tempo que uma câmera não deslizava por entre o mármore e madeiras nobres com tanta leveza), nem as que foram dando conta do brilhantismo da interpretação de Tilda Swinton, terem sido exageradas.
Na escuridão da sala de cinema agradeci por um belíssimo plano final pós-genérico que desorientou por completo uma multidão que, na habitual fúria de sair da sala, há muito que se punha em debandada (as minhas favoritas foram duas senhoras que voltaram para dentro da sala, para ver um plano fixo de um minuto ou dois em que, como elas tão bem verbalizaram, "não acontece nada").
Dupla falta
Há já uma semana que as bolas voam por cima das redes no Bois de Boulogne e só agora me ponho finalmente a par do que por lá tem andado a tramar a malta do ATP. No entanto, parece que a falta mais sentida não tem sido a minha, mas sim a do bom ténis. Os torneios que antecederam o evento rei do pó de tijolo foram aquecendo, na medida do possível, o ambiente: coño Nadal de volta à sua melhor forma na terra batida (vingando inclusive a premonitória derrota na final de Madrid o ano passado), um Federer muito pouco convincente, resguardado numa suposta gestão do pico de forma para estas duas semanas, e os habituais aleatórios vencedores anuais do sorteio de uma super-forma em terra batida durante um mês. É verdade que já caíram Roddick e Murray, embora nenhum dos dois tenha justificado melhor sorte, e os franciús já tiveram de se despedir de Monfils e Tsonga, mas mesmo assim... Espera-se mais prà semana.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Tradução
Com convicção limpámos os palatos dos arranhares estrangeiros. Fomos à procura da língua que falávamos, pelo caminho encontrámos o país em que habitávamos. Julgámos que a distância dos lábios e dos ouvidos nos protegeria o coração mas descobrimos agora que há palavras para as quais ainda não encontramos tradução. Oh, meu motherfucker...
Aborrecem-me as miúdas...
...que não consomem outro químicos que não a pílula. Nem celebração, nem o riso de uma criança a rasgar o serão.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Ao equilíbrio
The Bad Lieutenant, de Werner Herzog, é um bom filme. Bem escrito, bem interpretado (Nicolas Cage num dos melhores papéis da sua vida, o que, tendo em conta a carreira do homem, não se afigura muito difícil, assim de repente, só o Sailor do Wild at Heart e o alcoólico em Vegas é que jogam no mesmo campeonato), e a confirmação de que o cinema de Herzog parece agora ter finalmente encontrado um equilíbrio que há muito buscava, um novo equilíbrio. Liberto de vez do fantasma de Kinski (embora Cage tente por vezes agarrá-lo, tarefa que, felizmente, o seu limitado talento não lhe permite concretizar com sucesso) mas sem perder a intensidade e a loucura que o caracterizaram nos melhores momentos, que encaixa que nem uma luva nesta Nova Orleães pós-Katrina (o que também já acontecia em Rescue Dawn, com Christian Bale a deambular pela selva vietnamita), volta a sentir-se uma vitalidade e uma energia em cada cena, que andava há muito arredada do seu cinema. Quem disse que o equilíbrio não pode ser intenso?
Nite
Hoje é dia de ir ao Offbeatz Lisboa. Entre outros convidados, os Picos Gémeos apresentam o teledisco para Não Arrastes o Meu Caixão, do Samuel Úria e Os Golpes tocam nos seus instrumentos produzindo música. A custo zero no Frágil, a partir das 23:30.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Kim (wild)
Todos os dias, Kim Jong-Il, desperta no seu esconderijo sumptuosamente decorado com os melhores padrões da swinging london e equipado com a mais moderna tecnologia que o dinheiro pôde comprar num leilão na MGM o ano passado. Escavado na rocha, junto a uma paradisíaca praia banhada pelo mar amarelo, é protegido por um enorme exército de duplos de cinema e um sofisticado sistema de mísseis de cartão em miniatura, que inexplicavelmente só conseguimos observar em close-up. Naturalmente, o acesso só é possível pelo lado do mar, por uma entrada que dispensa guardas porque as marés e as águas infestadas de tubarões, naqueles quatro metros quadrados, tratam disso. Todos os dias, depois de ver o The Searchers, o seu filme favorito por ser a cauboíada mais feelgood de sempre e que guarda carinhosamente numa caixa de cassete vhs made in taiwan, magistralmente adornada pela capa, contra-capa, e lombada que recortou de uma edição em segunda mão da TV Guia que mandou vir do miau, o querido líder googla a agenda das Nações Unidas, tentando antecipar o momento em que irão finalmente ceder e ligar-lhe em videoconferência onde ele poderá enfim confessar-lhes, com o Kids In America em altos berros por trás, que estava só a reinar.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Sinais de Fogo
Já não bastava a porca miséria de filme com que Luís Filipe Rocha tinha desonrado o legado de Jorge de Sena, agora também lá foi pescar o pseudo-jornalismo "de lábio levantado que faz as perguntas que mais ninguém tem coragem de fazer" tavariano. Muito sinceramente, não se traz um homem de volta a casa para isto.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
O meu indie foi mais indie que o teu III
Para o fim deixei o melhor, uma obra-prima, a obra-prima do festival arrisco, porque embora não tenha visto todos os filmes exibidos, o raio do relâmpago raramente cai duas vezes no mesmo sítio, pelo menos no espaço de duas semanas (e o indie vai crescendo mas ainda não está no patamar Roy Sullivan).
Falo de Burrowing, uma produção sueca, escrita e realizada por Henrik Hellström e Frederik Wenzel, película que, a par de Kasaba, de Ceylan, encabeçava o meu top de prioridades da edição deste ano. Escolha baseada numa razão muito simples: Burrowing é a estreia na realização de Hellström e Wenzel, os guonistas de Falkenberg Farewell, filme que tive também o prazer de descobrir no indie (há cerca de três anos, se não me engano), e que se revelou uma pequena maravilha poética sobre a passagem à idade adulta, realizada por Jesper Ganslandt (co-produtor em Burrowing). As expectativas eram, portanto, bastante altas da minha parte e felizmente (para mim e para a sétima arte), foram tudo menos defraudadas.
A abrir, uma citação retirada de Walden, de Henry Thoreau, dá o mote para a acção, que iremos seguir através dos olhos de Sebastian, um miúdo de 11 anos que vive com a mãe num típico subúrbio sueco, com as suas vivendas, jardins e habitantes, em perfeita esquadria (e isto é magistralmente ilustrado nos planos iniciais e no genérico), paredes meias com a desordenada e selvagem floresta (tal como Falkenberg Farrewell, Burrowing foi filmado nos arredores da mesma pequena cidade sueca, de seu nome...Falkenberg). Pelos seus olhos, e pelo tom do seu discurso (maravilhosas considerações plenas de maturidade disfarçadas, mas pouco esforçadamente, de infantilidades) vamos sendo apresentados aos seus vizinhos, sendo que a atenção de Sebastian é particularmente cativada pelos misfits das redondezas, um dos quais, Jimmy (a personagem mais fascinante e uma portentosa interpretação), um jovem pai solteiro, que vive com os seus pais, e que carrega constantemente a filhas nos braços ou apoia-a no que esteja mais à mão, como se tivesse medo de a pousar naquele solo castrador (e das poucas vezes que o faz, o mal manifesta-se). Todos estes misfits têm uma relação quase panteísta, de um lirismo intenso, com a floresta, verdadeiramente imbuídos do espírito de Walden, lamacento e árduo q.b.. Enquanto em Falkenberg, a floresta era aberta, luzidia, misturando-se em perfeita harmonia com as habitações e contribuindo para o espírito poético da pacata existência dos personagens, em Burrowing é densa, isolante, a verdadeira casa, que resguarda, que protege, os personagens não procuram nela escapar da vida, ela é onde fazem a sua verdadeira vida, o resto, onde dormem e acordam todos os dias, onde interagem com os restantes, não passa de um mero sítio de passagem. Numa das cenas que mais inteligentemente captura este espírito, Jimmy espera na casa de um vizinho que os seus pais cheguem para lhe abrirem a porta de casa (porque Jimmy ainda não provou merecer uma cópia da chave, como nos explica Sebastian) e esse vizinho, que o trata tanto como um adulto como à pequena filha que este carrega nos braços, começa a discorrer sobre os tipos de madeira que já usou e pretende usar na remodelação da sua casa (uma constante, a remodelação e o melhoramento das casa e jardins enquanto medida da felicidade) enquanto vamos sentindo a ansiedade de Jimmy crescer, como se o magoasse mais que qualquer coisa no mundo aquele uso da madeira, até que sai porta fora com a filha direitinho aos confins da floresta. Na cena final, Sebastian, com a roupa que a sua mãe tão esmeradamente escolheu para irem à festa de onde ele acabou de se escapulir, toda rasgada e suja pela deambulação (chamo-lhe deambulações, mas a verdade é que nunca sentimos que os personagens andem sem rumo pela floresta, muito pelo contrário, parecem sempre movidos por uma vontade férrea e com um objectivo claro e preciso) no bosque denso, virar-se-á para nós, para que anunciar que encontrou o sítio perfeito, que é ali que vai começar a escavar (as fundações de uma nova existência, acrescento eu). O título original do filme escreve-se assim em sueco: Man Tänker Sitt. Não faço puto de ideia o que é que isto quer dizer, nem pretendo descobrir, mas soa-me mesmo muito bem.
Apercebo-me agora, que cometi um engano no início deste texto, afinal, o relâmpago cai, mais frequentemente do que julgava, duas vezes no mesmo sítio. E parece que tem memória, para poder cair com cada vez mais força.
Apercebo-me agora, que cometi um engano no início deste texto, afinal, o relâmpago cai, mais frequentemente do que julgava, duas vezes no mesmo sítio. E parece que tem memória, para poder cair com cada vez mais força.
domingo, 23 de maio de 2010
sábado, 22 de maio de 2010
A ditadura da gravação
"Dois irmãos em perfeitas harmonias, dois irmãos perdidos no cansaço dos dias."
Eu próprio, num eterno I told you so em loop
sexta-feira, 21 de maio de 2010
O desfalque no fauvismo (do povo)
Por mais errado que seja, e não tanto pelo pecado do roubo mas pelo outro mais grave, o de privar as gerações vindouras do privilégio de ver o mundo como outrora foi pintado (que é a coisa mais bela que se pode fazer ao mundo), admito que, com os milhões necessários no bolso, já andava pelo submundo internacional do contrabando de arte roubada (é só glamour, baby) com estes na minha lista de compras.
É Lennox, não é Lennon
"Tens noção que isso é uma declaração de amor aos Eurythmics?"
Sebastien Matias, engenheiro de som belga embasbacado na presença dum fantasma
Sebastien Matias, engenheiro de som belga embasbacado na presença dum fantasma
quinta-feira, 20 de maio de 2010
O meu indie foi mais indie que o teu II
Videocracy, embora me tenha suscitado simpatia pelo empenho genuíno que coloca em expor a revolução cultural (como se descreva a certa altura) de rabos e mamas iniciada há cerca 30 anos por Berlusconi, e tenha também o mérito de não cair no documentário de intervenção/confrontação à la Moore, tem o seu tendão de aquiles, e ao mesmo tempo, a sua contradição mais fascinante, no facto de não conseguir por vezes evitar cair nesse mesmo culto da banalidade, ou não fosse o realizador, Erik Gandini, também ele um "produto" desse absurdamente genial golpe de projecção de uma personalidade sobre uma nação inteira.
Bem mais interessante, foi no entanto, Lebanon, escrito e realizado por Samuel Maoz, que por aí anda nas salas. À inevitável comparação com o também belíssimo Vals Im Bashir de há um par de anos (ambos procuram lidar com a memória e com a herança da participação na primeira guerra com o Líbano em 1982 enquanto jovens soldados israelitas, em particular, e com o caos da guerra, em geral), segue-se um mergulho numa película que potencia tão inteligentemente o seu dispositivo narrativo (e estimula todos os sentidos), que só vendo mesmo.
Não menos cativante foi Strange Powers: Stephin Merritt and the Magnetic Fields, realizado por Gail O'Hara (há já largos anos a fotógrafa oficial dos Magnetic Fields, que lhe proporciona uma perspectiva única) e Kerthy Fix. Um retrato da persona e da pessoa de Stephin Merritt, o talentoso compositor que se sabe, e não menos impressionante letrista, acompanhando-o ao longo dos anos, ziguezagueando sem perder o fôlego pelo mundo como ele o vê: rídiculo e girando à sua volta.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
O meu indie foi mais indie que o teu
Este ano tive um Indie Lisboa atípico. Foi claramente a edição em que vi menos filmes nos últimos anos e também aquela em que a minha agenda mais andou em consonância com os chamados destaques do festival, ao que não será alheio o facto de praticamente só ter ido a sessões no horário de digestão do jantar.
Tinha de aproveitar a oportunidade única de ver Kasaba, a primeira longa-metragem do mestre Ceylan, em sala, que me confirmou definitivamente que a sua ideia de cinema está lá desde o início e me permitiu finalmente, com todas as peças do puzzle na mão, ter verdadeira noção do brilhantismo da depuração que tem vindo a executar ao longo dos anos.
L'Enfer de Henri-George Clozout foi outro que valeu a pena. Um documentário sobre a pré-produção e rodagem da obra-prima, nunca concretizada, que Clouzot preparava nos idos de 60 com uma Romy Schneider no auge da sua carreira (e beleza). Para além da atracção natural que desperta em quem se interesse pela sétima arte mais profundamente que o nível do sofá ou do assento da sala (os testes de cor e os devaneios psicadélicos, visuais e sonoros, a que Clouzot incitou a enorme equipa que reuniu a explorar durante um ano são deliciosos), é a inteligente progressão narrativa em pendant com os da película que Clouzot preparava, uma análise ao ciúme e à obsessão, que o transformam numa fascinante viagem ao universo de um cineasta, especialmente tratando-se de um realizador tão impenetrável como Clouzot.
Vi também Tales From the Golden Age, projecto de Cristian Mungiu, que juntou vários realizadores da nova talentosa geração de cineastas romenos, incluindo ele próprio, para realizar várias estórias passadas no não tão distante tempo em que Ceausescu governava com mão de ferro a terra de Vlad, a denominada golden age pela propaganda comunista, aqui exposta através de um dispositivo cómico, a roçar o rídículo por vezes, mas que nunca esconde o ternura com que trata todas as suas personagens (de ambos os lados das estórias). Escrito pelo próprio Mungiu, é acima de tudo, uma impressionante demonstração de polivalência desta nova geração romena (depois do realismo soberbo dos últimos anos) que numa hipotética copa de cinema, seria sem dúvida, a vencedora incontestável (derrotaria a Argentina na final por 2-0).
Desbocado como Brel
"Esse pré-amp é uma cagada. Confio mais no Micro Cube que num Yamaha."
Sebastien Matias, engenheiro de som belga no calor da labuta
terça-feira, 18 de maio de 2010
As estórias da história
Mais que histórica, é uma consciência bélica a que por aqui se manifesta nestes dias banhados pelo sol primaveril. Por entre a saga d'As Benevolentes, já se atravessaram Seis Grandes Comandantes, de Theodore Ayrault Dodge e Quinze Batalhas Decisivas da Humanidade - De Maratona a Waterloo, de Edward Shepherd Creasy. E um outro, que versa sobre o modo como Churchill moldou o Médio Oriente em geral e o Iraque em particular, no pós-WWI, segue já em velocidade de cruzeiro. Isto para além de tudo o que é ficção ou documentário de contexto histórico que ouse passar à minha frente.
É a guerra, meus senhores. Porrada da grossa, mesmo. A história da dita, as estórias das ditas, as estratégias, as tácticas, a arte de manobrar milhares de homens com precisão euclidiana, as vitórias forjadas em desproporções hercúleas, o destino do Homem onde deve ser decidido, onde os impérios caem, onde os mitos nascem: no campo de batalha. Jonathan Littel oferece a uma personagem d'As Benevolentes a seguinte frase: "...a próstata e a guerra são dois dons que Deus deu ao homem para o compensar do facto de não ser mulher." Concedendo que o primeiro "dom" variará consoante a utilização que cada "abençoado" lhe der (embora desconfie que, por exemplo, um estratego militar maior da história da humanidade como Alexandre, o Grande, não o teria em pouca consideração), é o segundo, a guerra, que se afigura como a justa medida de equilíbrio nessa balança. De pouco servirá a criação, se não se aspirar à elevação.
Não é coisa pouca, a arte de guerrear, não senhor.
Não é coisa pouca, a arte de guerrear, não senhor.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
domingo, 16 de maio de 2010
sábado, 15 de maio de 2010
Reflorescer
Agora sim, é Primavera. Discos a serem gravados; discos a serem editados; velhotas que atiram: "não passo deste verão", como se sacassem duma pistola e a apontassem à nossa cabeça; por todo o país, miúdos sem paciência para o liquido amniótico, saltam cá para fora; bifes que conseguem, debaixo de um céu nublado e chuva, encontrar o melhor ângulo para se bronzearem; homens de saia a esvoaçar no Terreiro do Paço; power-pópe como banda-sonora disto tudo. Também há os concertos, claro, mas desses estou momentaneamente arredado dada a distância. Bem, alguém que me belisque (ou mate uma andorinha) para confirmar que não estou a sonhar.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
...está cinzento
À medida que a hora avançava e os Picos Gémeos se iam aventurando mais e mais nas profundezas do cabaret, outras misteriosas criaturas (coelhos, maçãs de prata, alfaiates malucos, entre outros) iam aparecendo, como que por magia, à frente dos seus olhos, juntando-se ao uivo desesperado d'O Cão da Morte neste cabaret das maravilhas.
Parte dois da epopeia canina pode ser vista aqui.
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