Videocracy, embora me tenha suscitado simpatia pelo empenho genuíno que coloca em expor a revolução cultural (como se descreva a certa altura) de rabos e mamas iniciada há cerca 30 anos por Berlusconi, e tenha também o mérito de não cair no documentário de intervenção/confrontação à la Moore, tem o seu tendão de aquiles, e ao mesmo tempo, a sua contradição mais fascinante, no facto de não conseguir por vezes evitar cair nesse mesmo culto da banalidade, ou não fosse o realizador, Erik Gandini, também ele um "produto" desse absurdamente genial golpe de projecção de uma personalidade sobre uma nação inteira.
Bem mais interessante, foi no entanto, Lebanon, escrito e realizado por Samuel Maoz, que por aí anda nas salas. À inevitável comparação com o também belíssimo Vals Im Bashir de há um par de anos (ambos procuram lidar com a memória e com a herança da participação na primeira guerra com o Líbano em 1982 enquanto jovens soldados israelitas, em particular, e com o caos da guerra, em geral), segue-se um mergulho numa película que potencia tão inteligentemente o seu dispositivo narrativo (e estimula todos os sentidos), que só vendo mesmo.
Não menos cativante foi Strange Powers: Stephin Merritt and the Magnetic Fields, realizado por Gail O'Hara (há já largos anos a fotógrafa oficial dos Magnetic Fields, que lhe proporciona uma perspectiva única) e Kerthy Fix. Um retrato da persona e da pessoa de Stephin Merritt, o talentoso compositor que se sabe, e não menos impressionante letrista, acompanhando-o ao longo dos anos, ziguezagueando sem perder o fôlego pelo mundo como ele o vê: rídiculo e girando à sua volta.