sexta-feira, 22 de maio de 2009

Pós-nada


O Daily Show está cada vez melhor. Havia quem vaticinasse que com a chegada dos democratas ao poder e sem o trunfo George W. Bush (que realmente deixou muita gente sem o que dizer, inclusive alguns comentadores portugueses "especialistas" em política internacional), toda a base de sustentação do programa ruiria e a sua continuidade estaria em causa, agora que eram parte do sistema e perdido que estava o conforto da oposição, humoristicamente falando.
Compreende-se em parte a desconfiança, afinal foi durante os dois mandatos republicanos que o Daily Show prosperou de tal forma que se tornou uma das principais referências políticas, americanas e não só, e Jon Stewart um das personalidades mais influentes do século vinte e um (Obama pode agradecer-lhe o trabalho de sapa que fez a convencer toda uma nova geração de americanos que, não só o voto deles conta, como votar é cool). E quanto a Bush himself? Enfim, como não ficar colado a tal personagem? Nem a mais talentosa equipa de guionistas desdenharia esta personagem shakespeariana, um portento tragicómico.
Mas virada a página no livro de história, com o que é que nos deparamos? Com exactamente o mesmo. Jon Stewart e a sua equipa de "enviados especiais" continuam a denunciar e brincar com as mesmas atitudes e valores que moralmente e ideologicamente chocam com os que abertamente defende. Mais simples que isto é difícil.
A principal diferença é que essas atitudes e esses valores raramente encontram personificação na nova administração norte-americana, mas aí a culpa já não é dele (ou também é dele), Obama não é Bush, nem as suas políticas, nem as suas atitudes, felizmente. Mas pensar que não existem, isso sim é um equívoco. Toda uma maneira de pensar e de fazer política não desapareceu com o cowboy júnior, continua por aí, espalhada pelos quatro cantos do mundo.
Aliás, é essa a razão pela qual tem sido tão delicioso acompanhar a cobertura stewartiana da "regeneração" do partido republicano, que rapidamente elegeu um líder negro e de seguida saqueou o armazém onde a campanha democrata tinha guardado os cartazes com slogans de mudança, esvaziando-os de qualquer sentido em apenas alguns meses.
Longa vida ao Daily Show!