sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Febre do balanço II (I Fought Piranhas)
Bem no início da década, entre 2000 e 2002, houve uma série de discos que, mais que individualmente, foram no seu conjunto, muito importantes cá por estes lados. É verdade que ajuda o facto de o encontro se ter dado num momento chave de crescimento e curiosidade musical e terem levado à natural descoberta de outras referências da história da música pópe, ainda não deslindadas por essa altura, mas isso por si só não justifica a conta em que os tenho. Acima de tudo, foi a atitude, a sujidade sem perder de vista a melodia, e o don't give a fuck (em pose estudada, é certo, mas mesmo assim um don't give a fuck) que abriu caminho para o do it yourself de segunda geração contemporâneo, que vieram revelar um admirável mundo novo e enxaguar da boca o roque de produção limpinha e os tripópes e derivados em que o final da década de noventa nos tinha deixado a marinar.
Com a efemeridade como o mote esperado nestas coisas da pópe, são poucas de entre estas bandas, as que se aguentaram até aos dias de hoje, e ainda mais raras, as que se mantiveram relevantes. A maioria ou já não existe ou continua a gravar o mesmo disco regularmente, mas ficam as canções que foram de intervenção naqueles tempos e a memória das infinitas horas na garagem com o meu irmão a tentar reproduzi-las, lançando as primeiras sementes de um caminho comum. Falo de álbuns como Is this It (The Strokes), The White Stripes, De Stijl e White Blood Cells (The White Stripes), Relationship of Command (At the Drive-In), Highly Evolved (The Vines), The Datsuns (The Datsuns), Up the Bracket (The Libertines), B.R.M.C. (Black Rebel Motorcycle Club) ou Queens of the Stone Age e R (Queens of the Stone Age) entre outros.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Romaria de Natal III
Senhoras de muita-idade que ainda se regem pela bitola antiga: a prenda tem de fazer falta a quem a recebe, é mais cara quanto mais se quer ao destinatário e de preferência "qualquer coisa quentinha, porque tem estado muito frio, querido."
domingo, 20 de dezembro de 2009
sábado, 19 de dezembro de 2009
Febre do balanço
A quantidade e a velocidade com que absorvemos informação disparada de todos os quadrantes possíveis e imaginários torna quase impossível compilar os melhores isto ou aquilo do ano, quanto mais da década (de uma perspectiva com o seu quê de preguiçosa também, claro está). As listas, que todos os anos fazia e debatia, parecem-me um exercício tão inconsequente este ano que chega a ser ridículo, mesmo com o bónus do final dos anos zero. Para além disso, fica-me a sensação que o sentido de história ultrapassa-nos, que a maioria dessas reflexões reflectem cada vez menos o verdadeiro prazer que se tirou das coisas, e mais um compromisso com a luz a que se antecipa que serão vistas amanhã.
Mas não me dedicar à compilação não significa que não apanhe uma pontinha da febre do balanço e não dê por mim a tentar ler as marcas que me foram ficando pelo corpo ao longo destes anos. Sem pensar muito, tentando só ver o que se carrega sempre ali, à flor de pele.
Umas das primeiras que me surge são na verdades duas, In the Bedroom e Little Children, as duas longas-metragens realizadas esta década por Todd Field, a que volto regularmente. Não é por acaso que ambos os filmes são adaptações de obras de dois grandes escritores norte-americanos, Dubus e Perrotta, tendo este último inclusive co-escrito o guião, nem é por acaso que ambos são dois dos mais prodigiosos representantes do cinema americano deste século. Desenvergonhadamente literário se necessário (a voz-off de Little Children), o cinema de Field é um diálogo incessante entre a forma e o conteúdo, com essa dicotomia presente em cada composição, em cada meticuloso movimento. Que nos desdobra, levando-nos não para dentro das suas personagens, porque as observamos sempre de longe, de muito longe, do "não consigo sequer julgá-las" longe, mas ao mesmo tempo a habitá-las, a partilhar tudo aquilo que se vai revelando fora da vista do nosso "outro eu". Descaradamente silencioso se necessário (o doloroso segundo acto de In the Bedroom), nunca sacrifica a sua inteligência em favor da estética, e por isso mesmo torna-se impossível de sacudir ao levantarmo-nos da cadeira, recusando-se a ser abandonado na escuridão de uma sala de cinema.
Mas não me dedicar à compilação não significa que não apanhe uma pontinha da febre do balanço e não dê por mim a tentar ler as marcas que me foram ficando pelo corpo ao longo destes anos. Sem pensar muito, tentando só ver o que se carrega sempre ali, à flor de pele.
Umas das primeiras que me surge são na verdades duas, In the Bedroom e Little Children, as duas longas-metragens realizadas esta década por Todd Field, a que volto regularmente. Não é por acaso que ambos os filmes são adaptações de obras de dois grandes escritores norte-americanos, Dubus e Perrotta, tendo este último inclusive co-escrito o guião, nem é por acaso que ambos são dois dos mais prodigiosos representantes do cinema americano deste século. Desenvergonhadamente literário se necessário (a voz-off de Little Children), o cinema de Field é um diálogo incessante entre a forma e o conteúdo, com essa dicotomia presente em cada composição, em cada meticuloso movimento. Que nos desdobra, levando-nos não para dentro das suas personagens, porque as observamos sempre de longe, de muito longe, do "não consigo sequer julgá-las" longe, mas ao mesmo tempo a habitá-las, a partilhar tudo aquilo que se vai revelando fora da vista do nosso "outro eu". Descaradamente silencioso se necessário (o doloroso segundo acto de In the Bedroom), nunca sacrifica a sua inteligência em favor da estética, e por isso mesmo torna-se impossível de sacudir ao levantarmo-nos da cadeira, recusando-se a ser abandonado na escuridão de uma sala de cinema.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Ele lia-lhe Rilke
"Quando começava a amanhecer, lá fora, levantou-se. Foi até à janela. O céu sem nuvens, por cima das colinas, começava a clarear. Enquanto olhava, as árvores e a fila de prédios de apartamentos de dois andares do outro lado da rua começaram a tomar forma. O céu ficou mais claro, a luz espalhando-se rapidamente por detrás das colinas. Com excepção das vezes em que tinha passado a noite de pé, por causa de um ou outro dos filhos (o que não contava, porque nunca tinha olhado lá para fora, passando a noite entre o quarto e a cozinha) muito poucas vezes na sua vida tinha assistido ao nascer do Sol, e isso só acontecera em pequena. Sabia que nenhum tinha sido como este. Em nenhuma das fotografias que vira ou nos livros que lera tinha aprendido que o nascer do Sol fosse uma coisa assim tão terrível.
Esperou algum tempo, depois foi até à a porta, deu a volta à chave e saiu para o alpendre. Fechou o roupão junto ao pescoço. O ar estava húmido e frio. Pouco a pouco, as coisas em redor iam-se tornando muito visíveis. Deixou os olhos captarem tudo até se fixarem na luz vermelha intermitente no topo da torre da rádio, no alto da colina do outro lado.
Atravessou o apartamento sombrio, de regresso ao quarto. Ele estava num molho, no meio da cama, com os cobertores amarrotados por cima dos ombros e metade da cabeça enfiada debaixo do travesseiro. Tinha um ar desesperado, mergulhado no seu sono profundo, com um braço estendido para o lado dela da cama e os maxilares cerrados. Enquanto ela olhava, o quarto ficou cheio de luz e os lençóis sem brilho embranqueceram intensamente sob o seu olhar.
Ela humedeceu os lábios com um som pegajoso e pôs-se de joelhos. Apoiou as mãos em cima da cama.
- Meu Deus! - disse ela - Ajuda-nos, meu Deus? - pediu."
em A Mulher do Estudante, de Raymond Carver
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Baltimore, MD
É verdade que já me tinha dado o Dan Deacon ou os Beach House, entre outras coisas entusiasmantes, mas nada me podia preparar para receber esta gente na minha vida.
McNulty, Stringer Bell, Omar, Bubbles, Daniels, Bunk, Kima, Avon, Rawls, Herc, Carver e todos os outros telhudos, do come in, ma' niggas. Let's parley.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Romaria de Natal II
Senhoras de pouca-idade a implodir no pronto-a-vestir, quando vêem aproximar-se delas o anjo da morte, mal disfarçado de empregada naqueles suas vestes lutuosas, de mãos a abanar.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Un homme et une femme (Lelouch was high)
Quando a mais luminosa canção editada pelas almas que respondem pelo nome Best Coast se entrelaça com palmas de ouro, a coisa fica bonita.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Romaria de Natal I
Senhoras de meia-idade a devorar scones no Chiado, tentando apaziguar o sentimento de culpa que acompanha os sacos que se espraiam indisciplinadamente aos seus pés.
domingo, 13 de dezembro de 2009
sábado, 12 de dezembro de 2009
É só melhor que o outro
Soube bem, que desta vez, tomasse primeiro contacto com as novas canções do b fachada ao vivo. Que lhes visse primeiro os ossos e ligamentos, antes de cobertos pela carne suculenta, pelo sangue quente, pela pele luzidia com que se apresentam em disco. Assim, sim, se constrói uma relação saudável com canções, sempre em crescendo, do esqueleto ao corpo inteiro. E não podia ter calhado em melhor altura, porque estas não são umas canções quaisquer nem este é um disco qualquer. Diz ele que não é a obra-prima, que é só melhor que o outro. Eu digo que Os Golpes e o Samuel Úria já tem companhia naquelas relações de final de ano.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Respect? Mos' def'!
McNulty: You know why I respect you so much, Bunk?
"Bunk": Mm-mmm.
McNulty: It's not 'cause you're a good police, 'cause you know ... fuck that, right?
"Bunk": Mm. Fuck that, yeah.
McNulty: It's not because when I came to homicide you taught me all kinds of cool shit about ... well, I don't know, whatever.
"Bunk": Mm. Whatever.
McNulty: It's 'cause when it came time for you to fuck me ... you were very gentle.
"Bunk": You're damn right.
McNulty: You see, you could've hauled me out of the garage and just bend me over the hood of a radio car ... but no, you were ... you were very gentle.
"Bunk": I knew it was your first time. I wanted to make that shit special.
McNulty: It was, man. It fucking was.
em The Wire (7.1), argumento de Rafael Álvarez
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Kurt Vile & the Violators
Ninguém parecia saber muito bem o que é que se estava a passar, tanto cá em baixo como lá em cima no palco. Estou a gostar disto?, a questão que pairava no ar. Isto é bom ou mau?, denunciavam as rugas nas frontes inquietadas. Não me parece que tenha chegado uma resposta em tempo útil. E isso sim, só pode ser bom. Para toda a gente. Ai, que bom.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
O tareão
Qual Italian Stallion enfrentando o rigoroso Inverno russo, também eu tirei uns dias para me preparar para uma valente sessão de pancadaria. Escolheu-se as armas, o guarda-roupa, alguns adereços e marcou-se a confrontação para um feriado, que, por mais devotos que alguns indivíduos sejam à causa da porrada, também têm de trabalhar.
Resumindo, é uma estória de uma tareia igual a muitas outras: chega-se a casa de madrugada, o corpo está dorido, a chapa amolgada e não fazemos ideia do que é que aconteceu.
Já indaguei por aí mas os relatos que me chegam aos ouvidos pecam pela inconsistência, embora haja uma referência comum a umas câmeras que terão registado a bordoada. A verdade há-de vir ao de cima. Dentro de uma semana e meia, mais coisa menos coisa.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Dia perfeito
Chega hoje às lojas Nem Lhe Tocava, o há muito esperado novo álbum do Samuel Úria, a cuja música, nem todos os elogios dispensados nos últimos tempos, e não têm sido poucos, conseguem fazer jus. Não é de ontem, embora habitem em si os espíritos do passado, nem representa o amanhã, embora ele por lá se deixe adivinhar. Intemporal, arrisco eu, sem sequer necessitar de puxar do ás de trunfo que é a lírica, cada vez mais desconcertante, do bardo tondelense.
Em antecipação ao lançamento, há já uns dias que circula pela net, este vídeo aí em baixo, uma pequena montagem de algumas imagens que eu e o meu irmão, Filipe Fernandes, recolhemos aquando da passagem do flor caveirense pelo estúdio para gravar justamente o disco que agora nos chega. Para breve, sim, o verdadeiro desafio: um teledisco que consiga estar à altura destas canções e de um lendário trabalho gráfico. Não se afigura fácil, mas em consonância com o espírito do poeta, se fosse fácil, não o fazíamos.
domingo, 29 de novembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
Os mestres
Foi um jogo fantástico, a meia final entre Davydenko e Federer, que terminou com uma justa vitória do russo. Roger, embora já não seja dono do ténis assombroso que o colocava a milhas de distância de toda a concorrência (pelo menos quando não está num pico de forma físico), continua a ser o melhor jogador do circuito e só um Davydenko em super-forma conseguiu bate-lo pela primeira vez na sua carreira, numa demonstração cabal de resiliência e nervos de aço. Merece a melhor das sortes para a final de amanhã contra o jovem potro argentino.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
A ponta da Korda
Inaugura na próxima semana, na Galeria Torreão Nascente, na Cordoaria Nacional, a exposição Korda Conhecido Desconhecido, cujo nome não poderia ser mais certeiro. Embora Korda seja um nome de referência da fotografia mundial, a sua obra é praticamente desconhecida do público, completamente ofuscada que foi, pela foto que se tornaria icónica de Che Guevara. Oportunidade única de mergulhar nesse mundo de beleza que Albert habitava.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
O grito fundador
Quando muito puto, sequestrava a máquina fotográfica de serviço durante as férias em família, auto-intitulando-me o rei do clique, fazia-o em grande parte devido a esta canção. O meu estrangeiro, ainda a dar os primeiros passos, não me permitia decifrar tudo o que os ídolos do meu pai cantavam (e as traduções adulteradas que os meus progenitores me tentavam impingir também não convenciam), mas não valia a pena virem-me dizer que não havia qualquer coisa de perigoso em frases como all the crap I learned back in high school, no pulsar daquela canção que se impunha ao primeiro acorde.
Ensinou-me que havia um sedutor mundo de possibilidades por detrás de cada câmera, e que, sofregamente, também eu iria procurar as minhas nice bright colours, os meus greens of summers, os meus sunny days.
Ensinou-me que havia um sedutor mundo de possibilidades por detrás de cada câmera, e que, sofregamente, também eu iria procurar as minhas nice bright colours, os meus greens of summers, os meus sunny days.
E aquela frase final, Mamma, don't take my Kodrachrome away, em repetição ad eternum na cabeça de um puto, sem um se faz favor que fosse a acompanhá-la, não era um pedido, era um grito, talvez o primeiro grito de rebeldia que alguma vez me chegou aos ouvidos.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Ascender
É a beleza do aipode, dá-se umas voltinhas na rodinha e damos de cara com um profeta de que já nem nos lembrávamos. Não oiço falar dos Lift to Experience desde o The Texas-Jerusalem Crossroads, editado no longínquo ano de 2001 e que, verdade seja dita, é álbum que não se faz rogado à responsabilidade de ser tomo único de uma carreira. Eram assim esses dias, com mais dois vultos no skyline de manhattan, e sem aipodes nos bolsos. É gente para não ter lidado bem com os anos zero.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Father McKenzie
Se precisarem de uma capela ou igreja ali para os lados de Grândola, como por vezes me sucede, padre Manuel do Rosário is your man. Digam que vão da minha parte e pode ser que ainda voltem para casa com uns belos exemplares do melhor queijo da região. Se o presbítero o diz...
domingo, 22 de novembro de 2009
sábado, 21 de novembro de 2009
O avental
Ele entretinha os convidados na sala com a sua espartana selecção de temas de conversa pequena, guiando-os a seu bel-prazer pelos arredores da sua mente, deixando-os contornar aquele muro rosa e até vislumbrarem por um segundo os portões dourados que os separavam daquele jardim de ideias e sonhos que derreteriam por certo as mentes de tão incautos visitantes, quando ela entrou esbaforida, limpando as mãos ao avental que ele próprio tinha ajudado a atar há duas horas atrás, mais apertado do que o necessário, mas não demasiado, somente o suficiente para que o incómodo que lhe causava se diluísse por entre a azáfama própria do preparo de um jantar para tantas almas esfomeadas, revelando a firmeza elástica da sua bem delineada figura de um modo a que nenhum vestido alguma vez poderia ambicionar. Observando-a a vir na sua direcção, perseguida pelo cheiro a tomilho e carne assada, sabia estar mais uma vez validada a sua teoria de que as mulheres são mais sensuais quanto mais não o querem ser e não quanto mais querem parecer não o querer ser.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Sol de Natal
Acho uma pena que a loucura toda dos discos e canções sazonais, que cresce a olhos vistos de Verão para Verão, não tenha continuação na época natalícia, como a que agora se aproxima. Um fogacho ou outro, mas coisa pouca para criar uma onda, perdão, uma avalanche. Eu vou tentar dar a minha singela contribuição mas anda por aí muito menino e menina, com outras responsabilidades musicais, a fugir com o rabo à seringa. Vista do ângulo certo (e na quantidade certa), a gemada pode ser tão fixe quanto o sol.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Levados à certa
Se eu tivesse fakebook, e alguém que fosse meu "amigo" no fakebook lá metesse este vídeo, poderiam ler por baixo, ou ao lado ou lá onde é que é, a seguinte declaração: c de croché gosta disto, e depois aparecia uma daquelas mãozinhas todas catitas a pedir carona. Espero sinceramente que este vídeo esteja no fakebook.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
BQE
Deixei a imponente Verrazano-Narrows para trás e sobrevoei a Brooklyn esculpida na pedra castanha. Abri a janela e deixei entrar o cheiro a folha caduca que chegava de lá longe, daquela enorme mancha verde que dá pelo nome de Prospect Park, mesmo antes de me aventurar na travessia das águas escuras de Gowanus Canal. Resisti estoicamente ao apelo do Battery Tunnel, que nós tenta convencer a fechar os olhos e só volta-los a abrir quando sobre nós incidir a sombra do desespero em forma de arranha-céus. O meu mergulho seria outro, logo depois da Atlantic Avenue, pelas entranhas do Brooklyn Heights Promenade, enquanto lá em cima, alguém passeava o cão com o olhar perdido para lá do East River, no distinto perfil da joía da coroa de Wall Street. Virei as costas à Brooklyn Bridge e apanhei boleia da Park Avenue para depois de me lançar afoito para norte, serpenteando por cima das avenidas de Queens. Mais à frente, o hipnótico Maspeth Creek recebeu-me de braços abertos e, sem que eu tivesse dado por isso, cuspiu-me para uma sinistra parada por entre os verdes cemitérios. Acelerei até à Grand Central Parkway, furando por entre mais expressways, carris e túneis, que levam e trazem, todos os dias, os milhares de almas que vão soprar vida ao coração da cidade. naperãos viajou a convite de Sufjan Stevens
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
A carripana confessa-se
"...chassis amolgados, cheios de ferrugem, guarda-lamas com cores que as tornavam invendáveis e para desencorajar Mucho, e o interior cheirando desesperadamente a crianças, a aguardente dos supermercados, a duas e às vezes três gerações de fumadores de cigarros, ou simplesmente a pó - e, limpo o interior dos carros, era preciso examinar os resíduos destas vidas, e era impossível distinguir entre aquilo que tinha verdadeiramente sido rejeitado (e suponha que por medo se guardava o pouco que aparecia) e aquilo que muito simplesmente (talvez tragicamente) tinha sido perdido: talões agrafados oferecendo descontos de 5 a 10 cêntimos, bilhetes, propaganda de baixas de preços em supermercados, beatas, pentes desdentados, ofertas de empregos, páginas amarelas arrancadas de listas telefónicas, farrapos de roupa interior ou de vestidos fora de moda que serviram para desembaciar um pára-brisas para que se pudesse ver o que havia para ver, um filme, uma mulher ou um carro que se cobiçava, um chui que talvez o levasse dentro porque não tinha mais nada para fazer, ninharias todas elas envoltas invariavelmente, como uma salada de desespero, num condimento cinzento de cinzas, de gases concentrados de escapes, de poeira, de desperdícios humanos - ficava doente só de olhar, mas tinha de olhar."
em O Leilão do Lote 49, de Thomas Pynchon
domingo, 15 de novembro de 2009
sábado, 14 de novembro de 2009
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
O draperismo ao anoitecer em 5 passos:
1. Apanhar o das 5:31 e fumar um maço enquanto observa com expressão grave como a paisagem desfocada lá fora é uma metáfora perfeita do enorme borrão que é a vida moderna.
2. Sentar-se à mesa de jantar enquanto aprecia um uísque bem servido e espera pela refeição caseira e pela família perfeita que o seu trabalho árduo pagou.
3. Ir dar um beijo de boas noites aos pequenos quando já estiverem a dormir para poder observar com expressão grave aquele quadro perfeito de inocência que lhe dá forças para suportar o dia-a-dia.
4. Ligar ao psiquiatra da esposa perfeita para receber o relatório semanal.
5. Fazer amor com a esposa, imaginando que está com outra pessoa, culminando num orgasmo acompanhado de um toque de angústia e uma pitada de auto-comiseração.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
O draperismo pela manhã em 5 passos:
1. Chegar ao escritório cedo, ainda a cheirar à cama quente da amante ali na cidade enquanto a sua esposa prepara os pequenos para irem para a escola na esplendorosa moradia nos subúrbios.
2. Pedir à secretária para lhe trazer um balde de gelo daí a dez minutos.
3. Apanhar uma camisa branca lavada daquela gaveta no fundo da secretária e barbear-se com precisão euclidiana.
4. Repor os níveis de brilhantina no cabelo impecavelmente cortado.
5. Resolver a primeira crise enquanto bebe o uísque inaugural e amassa o primeiro maço do dia.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Cá fora
Cá fora, os filtros encostavam-se aos lábios, que pouco depois expeliam, não fumo em segunda mão, mas grandes nuvens quentes de confiança. Confiança de que ia ser um grande concerto. Uns porque já tinham passado por aquilo, outros porque já tinham ouvido falar, e ainda outros porque, mesmo em disco, era óbvio que aquela não era gente para falhar numa transacção de contornos tão simplistas como a que a noite propunha, pelo contrário, parecia talhada à sua medida. Lá dentro, o esperado, como confiantemente se esperava. Numa palavra: festa.
De volta à rua, a verdadeira medida do triunfo. O sol não brilhava e não havia uma sensação colectiva de que o mundo era agora um sítio diferente mas a cidade parecia mais bonita, agora que era acompanhada pela doce dolência da linha de guitarra da Hippie, Hippie, Hoorah. A melodia tinha-se escapado das cordas de aço para lhe oferecer um momento de suspensão. Um daqueles momentos em que se expira o antes e se inspira a confiança para o depois, tal como no concerto.
Não faço ideia sobre o que é que eles cantam naquela música e tenho a distinta convicção que nunca o vou saber.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
sábado, 7 de novembro de 2009
Cruzar espadas
A nossa pequenez não passa da inevitável condição da nossa grandeza. A espada pela qual viver e morrer. Cravada no peito para que não voe.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Os intrépidos derrotados
Não fossem os seus penteados antiquados e nada os teria denunciado. Os passos alinhados quando deixavam a cidade. O pôr-do-sol. Ombro com ombro, disparando da cintura. O pistoleiro e a sua fiel nuvem de pó.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Mitolândia
Bem antes da saída do disco de estreia em 2007, nenhuma das mais reputadas casas de apostas acreditava na hipótese de os membros dos Vietnam sobreviverem tempo suficiente para sequer se poder sonhar com a gravação do mesmo. Os excessos, praticados regra geral em frente ao público, nas tentativas de concertos que iam acumulado pela grande maçã e arredores perpetuavam o mito, e cada oportunidade de os ver era aproveitada pelos seus seguidores como se fosse a última. Consta inclusive que em alguns desses encontros da "banda" com o seu "público", nenhum instrumento chegou sequer a ser tocado, tendo-se dado claramente prioridade à partilha de estupefacientes e álcool.
Ao que parece, entretanto meteram na cabeça que haviam de se parecer com uma banda a sério, com concertos mesmo, discos, vídeos e assim, o que são muito boas notícias. Não porque tenham de ser uma banda como manda a lei (Deus sabe que nunca o hão-de conseguir) mas porque enquanto tentam vão fazendo canções como esta.
Ao que parece, entretanto meteram na cabeça que haviam de se parecer com uma banda a sério, com concertos mesmo, discos, vídeos e assim, o que são muito boas notícias. Não porque tenham de ser uma banda como manda a lei (Deus sabe que nunca o hão-de conseguir) mas porque enquanto tentam vão fazendo canções como esta.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
"A morte de todos nós"
Haviam as drogas: as duras que flutuavam dentro do seu corpo desde a noite anterior e as leves que engordavam a olhos vistos naquela manhã, havia o céu nublado, havia o ar fresco que não resistia ao convite da janela escancarada e lhe feria as narinas dormentes e havia a voz de Doug Yule a pairar pelo quarto, na sua incessante demanda por quem ama o sol. Quem poderia ele culpar? Talvez esta, talvez aquela. Talvez uma frutuosa combinação de todas.
Mas havia duas coisas das quais ele estava certo: que era uma pergunta muito apoucada para se fazer naquela manhã, a que por ali ressoava, e que não havia combinação no mundo que justificasse aquela necessidade, tão excitante quanto angustiante, de discutir com o seu amigo de longa data. Uma necessidade, não vontade, de discutir, não de conversar. Se dúvidas ainda houvesse, aquela era a prova de que a situação em que se encontrava não era fruto do acaso. Tais palavrões só podiam ter sido exibidos à frente da sua mente rameira por alguém tão desejoso de vingança, tão sinistramente sorridente, tão voluptuosamente cândido, que esperou pacientemente, sabe Deus quantas estações, por um momento de fraqueza, por um baixar da guarda que lhe permitisse finalmente concretizar o seu há muito elaborado plano. Provavelmente, o mesmo alguém que desde há uns tempos para cá, por acreditar veementemente que era o que ele viria a ser, se limitava a chamá-lo "a morte de todo nós".
Só que esta necessidade não deambulava sozinha pelas suas entranhas. A acompanhá-la, certezas tão incomodativas como a de que o encontro com o seu amigo teria de ser ao pé da casa dele, naquele mundo de tortuosos prazeres a que chamam restaurante de comida rápida, com a sua luz fria, a sua carne quente, e as sua pessoas mornas. E havia mais. Tudo aquilo de que falariam, o que há muito tinha de ser dito, o que volta e meia tem de ser repetido, desfilava ordenadamente e com uma clareza impressionante à sua frente. Desde a excitação infantil com que perguntaria ao seu amigo se ele amava? como é que sabia? quando é que soube? até ao velho tema da comunicação. Discutiriam os bairros sociais, os condomínios privados, contar-lhe-ia os seus planos, para hoje, para amanhã, questionaria-o sobre os seus. Iria ser surpreendido, isso era certo. Sempre que se embrenhavam numa conversa franca e sem limites algo inesperado surgia, algo que ele se foi habituando a analisar de duas perspectivas distintas, intercaladamente, ao longo dos anos: por vezes, prova do quão mal conhecia o seu amigo, doutras, prova inquestionável de confiança.
Claro que não começariam imediatamente nesta discussão maior que eles próprios, primeiro tinham direito a uns minutos de conversa pequena de aquecimento, aquela a que normalmente um deles se agarra com unhas e dentes, receoso do silêncio, do implacável silêncio que tudo expõe. E seria agradável claro, as parangonas, as artes, a morte do radialista. Contar-lhe-ia como, aquando da morte deste, ele se encontrava numa entrega selvagem a uma música desabitada num qualquer prédio sofisticado lisboeta. Ele compreenderia a ironia, ele rir-se-ia com ele. Mas isso era o que eles faziam bem. Bem demais, até.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
domingo, 1 de novembro de 2009
sábado, 31 de outubro de 2009
Forgive me even if I'm not sorry II
E tens que trabalhar nessa transição para o palco que aquilo no Conan não foi lá grande espingarda. Falta força nesses teclados e óleo nessa banda, pá. Palavra de fã.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
California Dreamin'
"What are you talking about? I like it here. It's nice. The sun is chirping, the birds are shining, the water is wet. Life is good sweetheart. Life is good."
Unfaithfully yours,
The moodiest of the Moodys
Unfaithfully yours,
The moodiest of the Moodys
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Forgive me even if I'm not sorry
Mas nos dias que correm, três dias são muito tempo. Mas manda vir essa edição de luxo e, principalmente, um desses concertos de poster fantástico, que eu compenso-te. Palavra de fã.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Sacudir o pó
Os anos 90 estão a chegar, não tem que enganar. Embora ainda não seja a frase mais popular de se andar por aí a dizer, arrisco. Ainda para mais nesta Lusitânia, onde a pesada factura musical da referida década ainda está a ser paga por todos nós. Mas como não sou contabilista, arrisco, e acima de tudo, porque a minha ideia é vir a ser creditado como um dos primeiros do bairro a prever o que se ia passar. Para o efeito, já aqui está a nota para linquar este post daqui a uns anitos, quando cerca de dez pessoas influentes o disserem com grande pompa e circunstância. É matemático, claro. Mas os sinais são evidentes e não há que ter medo, é fechar os olhos e abrir bem os braços.
Pensar que aqueles cds todos a ganhar pó ainda vão servir de (mais) alguma coisa.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Under the Volcano
Geoffrey e Yvonne como Popocatépetl e Iztaccíhuatl. Amantes trágicos e as suas vãs tentativas de se desviarem do caminho, há muito traçado, da auto-destruição.
domingo, 25 de outubro de 2009
sábado, 24 de outubro de 2009
Cartas de amor de amesterdão
A antiga arte da correspondência por carta encerra múltiplos e intrincados segredos para a geração da comunicação instantânea. Daí que, no calor do momento, se cometam excessos, como por exemplo, carregar no perfume. E eis como a mais bela carta, pela qual a cara-metade ansiosamente esperava, se transforma subitamente no veículo de uma prosa perduravelmente enjoativa. Como se escrita pelo punho de um jovem Voltaire aprisionado à conta do seu amor.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Judiaria
Como é que alguém no seu perfeito juízo se pode privar disto: "Nearly forty summers ago, on August 31st 1970, a thirty five year old Leonard Cohen was awakned at 2.am from a nap in his trailer and brought onstage to perform with his band at the third annual Isle of Wight Music Festival. The audience of 600,000 was in a fiery and frenzied mood, after turning the festival into a political arena, trampling the fences and setting fire to structures. As Cohen followed the incendiary Jimi Hendrix, onlookes watched in awe as the canadian folk-singer-songwriter-poet-novelist quietly tamed the crowd.", depois de ter tomado conhecimento da sua existência, ainda por cima em dvd?
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
C de cliché
O maior dos clichés é começar uma estória com a expressão "sei que é um clíche mas...". É coisa para, invariavelmente, dizimar a mais remota possibilidade de beleza que ainda pudesse existir naquela pequena estória que se queria, que se devia, partilhar. O cliché é um espartilho (e pensar que algo que envolve barbas de baleia já foi também um lugar-comum) que a impede de desabrochar na sua plenitude.
E tão simples que seria, introduzir a dita expressão no final da nossa narração, depois de termos agarrado a imaginação de uma plateia (sempre sedenta de boas estórias, como qualquer plateia), por uns minutos, uns segundos breves que fosse. Faria toda a diferença do mundo.
Acreditem, que quando rematassem humildemente: "Sei que é um cliché mas...", algum bravo vos responderia: "Não, não é cliché nenhum. Ainda bem que partilhaste essa estória tão maravilhosa".
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Velha expressão escocesa III
"Forget the tree, the book and the son. The three really important things a man ought to do before he dies are: own the complete Byrds discography, buy vintage gear and start a Teenage Fanclub. In this exact order."
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Agnès de 9 à 12
Agnès Varda esteve ontem à noite na Cinemateca na apresentação do ciclo que lhe é dedicado, que se iniciou com a projecção do seu último filme, As Praias de Agnès. Foi naturalmente sobre este que incidiu a conversa, o que na prática resultou numa conversa sobre a sua vida.
Ressaltou-me a gratidão genuína que esta mulher sente pela oportunidade que lhe foi dada de ter uma vida riquíssima, fazendo o que mais gosta, e partilhando-o com as pessoas que ama e amou.
Só o cinema nunca morre. Por isso, em cada plano de Agnès, há uma dedicatória.:"A Jacques Demy, o mais querido de todos os mortos."
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Growling pains
Por vezes naquele histerismo de se crescer, desata-se a mudar tudo e mais alguma coisa, hábitos, vícios, posições. Uma espécie de "mudar é fixe" meets "ao menos fiz alguma coisa", convencidos de ser esta a prova provada da nossa evolução enquanto seres, se não humanos, pelo menos sociais.
Mas parece-me, que por vezes, crescer é exactamente saber resistir à mudança. Saber manter colado ao corpo o que se quer, enquanto lá fora, a turbamulta varre as ruas, e incita à revolução. Saber soprar vida nova a palavras velhas.
Sou capaz de ser mais conservador do que gostava.
domingo, 18 de outubro de 2009
sábado, 17 de outubro de 2009
Outro(s) caminho(s)
Quando há uma ordem interior que não aceita que se escreva sobre outra coisa que não aquela, e ao mesmo tempo, o pudor próprio das coisas não resolvidas, nos impede de o fazer, a isso chama-se um impasse. E como diz o meu amigo Chico: "impasse é somente a oportunidade de experimentar outro caminho". Seja feita a sua vontade. A do Chico, claro. E já que é para experimentar, vou tentar que seja largo o suficiente para lá caberem três outros caminhos que há já algum tempo tenho vontade de trilhar: Brasil, dueto, versão. A ver o que dá.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Depósito
Embora embriagada com a excitação, ainda não vestia na pele a confiança absoluta de estar no sítio certo, somente a ganga justa e a blusa esvoaçante. Não que duvidasse que não havia sítio mais certeiro para se estar, isso soube-o antes de entrar, soube-o há alguns meses atrás, nos corredores do liceu.
As parceiras de crime também não colaboravam, nem mesmo a sua habitual aposta segura: a loira de sorriso fácil e copo na mão. Ela era a sua única hipótese, a locomotiva que puxaria todas as outras carruagens, mas para isso era necessário combustível, e naquela noite, pura e simplesmente não havia maneira de ela encher o depósito. Estaria a habitual confiança inabalável da sua amiga a tremer finalmente? Por mais que lhe agradasse a ideia de a ver descer do seu pedestal, não era aquela a noite certa. Não, nunca naquela noite.
Ainda faltavam algumas músicas, a sua favorita e mais duas ou três pelo menos, e a esperança mantinha-se à tona por entre os goles que ia dando na sua pequena garrafa de água. Ela via o filme vezes sem conta na sua cabeça: a loira sorria-lhe e com um pequeno movimento de cabeça perguntava-lhe se queria ir mais para a frente, ao que ela respondia muito calmamente, parecendo até ponderar um pouco, que sim. Seguia-a então até às ondas, tentando controlar o nervoso miudinho ao mergulhar por entre os corpos suados dos rapazes e raparigas mais fixes da cidade. Aquele lugar mágico onde é permitido fechar os olhos, sorrir e deixar-se levar pela corrente. Onde cada nota desafinada encontra um afinador nas gargantas do lado. E de repente, sem saber como, via-se na crista de uma enorme onda. O tempo cristalizado, enquanto eles tocam só para ela, enquanto ele canta só para ela, aquelas palavras como ela nunca as ouviu, subitamente insufladas de significado e tão certeiras, subitamente tão verdadeiras.
Se ao menos a loira enchesse o depósito.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Seldom seen, often heard
Seldom Seen: I ain't scared of death. I deal with his ass everyday. He come knocking at my door, asking me about people. Cause' he knows I know everything there is to know about what's going on. He's a cold cocksucker. One of these days, one of those knocks is gonna be for me. So what? Sooner or later, everybody's got to go. Some sooner than others. Who's to say when that is? In your case, I do.
em Kansas City, argumento de Robert Altman e Frank Barhydt
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
sábado, 10 de outubro de 2009
Sublime expiação
Partilhar um cachimbo de damasco fazendo convites a que já se adivinha a resposta é a melhor forma de expiar os pecados sabáticos. De preferência, deixando cair a boquilha ao chão.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Presentear com a vida
Warren Bolster "Orange Pipe"
O pai da fotografia da cultura skateboarder, que mais tarde se dedicou também a documentar o surf, conhecido por se colocar em situações arriscadas para conseguir a melhor fotografia. Proezas que lhe valeram inúmeros ossos partidos e lesões permanentes que acabaram por resultar numa dependência de analgésicos. A sua natural tendência depressiva misturada com este estilo de vida culminou no seu suicídio em 2006. Pouco anos antes tinha escrito no prefácio de um livro de fotos suas: "I almost destroyed myself to give a larger life to the sport". Só falhou no almost.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Assombração
The Misfits para além de um enorme filme, tem uma aura trágica inigualável. A pungente estória de quatro inadaptados no Nevada, e a sua luta contra os seus próprios medos para tentarem criar laços entre si, é um prodigioso guião de Arthur Miller, pensado como um veículo "sério" para as capacidades de representação de Marilyn Monroe, a sua esposa na altura. E como ele acertou em cheio. Marilyn tem o melhor momento da sua carreira na pele da atormentada Roslyn, mais vulnerável que sexy, e talvez por isso mesmo, mais sexy que nunca, numa arrebatadora demonstração do seu potencial inexplorado. O resto do icónico elenco não lhe fica atrás nos retratos dos seus inadaptados, embrulhados pelo belíssimo preto e branco (especialmente no deserto) escolhido por John Huston. A rodagem foi bastante atribulada, entre o casamento acabado de Miller e Monroe, que só anunciariam depois do filme terminado, os complicados locais de rodagem, a gestão dos egos de tantas estrelas, os inúmeros fotógrafos da Magnum à solta pelo plateau (como Bruce Davidson, que tirou a foto aí em cima de Montgomery Clift, Marilyn Monroe e Clark Gable na galhofa, observados por Eli Wallach, Arthur Miller e John Huston) e ainda uma estranha complacência de John Huston, habitualmente senhor do seu set, para com todo este caos, e em particular, para com os atrasos de Marilyn.
E depois há a tragédia pós-filme, que o transformou numa película particularmente assombrada. Foi o último filme de Marilyn, que se suicidaria, um ano depois. Foi o último filme de Clark Gable, que faleceu de doença coronária, uns meses depois do fim da rodagem, não tendo chegar a ver o filme estrear nem o nascimento do seu primeiro filho. E foi também um dos últimos filmes de Montgomery Clift, que viria a falecer também precocemente, poucos anos depois, depois de anos de abuso de drogas e álcool.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Borboletas amarelas
Hirokazu Kore-eda não só continua a apontar a câmera à mesma coisa, à ausência, como até já dispensa dispositivos narrativos mais rebuscados ou surpreendentes, como se insinuasse que nos chega o efeito dessa ausência nos que ficam. Chega, pois.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
O cinema de Kurosawa
"Veloz como o vento,
silencioso como a floresta,
impetuoso como o fogo,
imóvel como a montanha"
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
domingo, 4 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
Sentido de mito
Efe: Abe, you sure love that river, don't you?
Abe: It's a mighty pretty river, Efe.
Efe: Never saw a man like you, look at a river like you do. Folks would think it was a pretty woman or something, the way you carry on.
em Young Mr. Lincoln, argumento de Lamar Trotti
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
O mês do darko
Não há-de ser o pior dos meses. Assim de repente, lembro-me de três ou quatro coisas: o regresso do fantástico Hirokazu Kore-eda (não aos filmes porque esse já aconteceu há três anos com Hana, embora não lhe tenhamos sequer sentido o cheiro por cá, mas sim às "salas de cinema portuguesas", ou seja, a uma sala do King) com Andando, a 8 de Outubro; os dentes ensanguentados a saltarem da boca de uma geração depois de encaixar um belo rotativo; continuar a maravilhar-me com o processo de desfolhação das árvores da minha rua; oportunidade de matar saudades e tomar o pulso ao cinema francês, na sua décima festa (entre outras coisas, há um Agnès Jaoui inédito por cá, para ver); continuar a contagem decrescente para voltar a ver os Black Lips. Embora esta última corra o sério risco de não se realizar, porque, segundo um rumor posto a circular por um leporídeo, a partir de hoje faltam 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos para o fim do mundo. Temos tempo.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Mote Outonal
"Se nós somos "os chineses do Ocidente", nem um pouco nos assemelhamos aos japoneses. É porque não conhecemos o vazio nem por ele nos sentimos atraídos.
Há talvez uma barreira que contribui para isso, a fascinação-repulsa que sentimos pela ausência. A ausência não é o vazio, contraria-o mesmo, em certo sentido. A ausência diz-se de uma presença, enquanto o vazio não se reporta a um cheio. O vazio é primeiro, está aquém da ausência de tudo. Quando toda a presença desaparece e deixa de haver lugar a preencher por uma coisa, então surge o vazio primordial, de onde sairão as forças para, precisamente, criar, agir, pensar. Do vazio nascem os pensamentos únicos, nunca anteriormente pensados, como dele nasce a obra (eventualmente, de arte) absolutamente original.
Para que ocorram, é preciso saber produzir o vazio."
em PORTUGAL, HOJE - O Medo de Existir, de José Gil
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
As míudas desejam ardentemente a vida
São, por estes dias, a mais perfeita expressão de música que mais do que instigar à adoração, incita à criação. Girls, de San Franfuckingcisco.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Quilometragem
O acto eleitoral, seja ele executado em privado, numa auto-fornicação abstencionista, ou como no meu caso, a 300 quilómetros de distância, tem sempre o seu quê de interessante. Passando por cima de todas as questões sobre direitos e deveres cívicos ou até validação ideológica das barbaridades que se debita com ar de entendido o ano inteiro, uma das principais vantagens do meu acto eleitoral é exactamente a quilometragem que me separa dele.
São 600 quilómetros no total que me permitem acertar o calendário com aqueles álbuns que, por uma razão ou por outra, andavam fugidios. E ainda por cima, com a implacável justiça crítica que só o som de um ipod num carro preto a rasgar a noite alentejana permite.
Resumida a campanha, posso anunciar que os Golden Silvers e o seu True Romance venceram o sufrágio deste fim-de-semana com uma maioria absoluta. Chamem-lhe asfixia democrática, chamem-lhe o que quiserem, mas há muita mais música naqueles meninos do que o single True Romance, de que já tinha gostado bastante, me tinha inclinado a achar, e os rapazes são dignos herdeiros da melhor veia pope britânica.
Em segundo lugar ficam os Japandroids, com Post-Nothing, superando o álbum homónimo dos xx, por uma unha negra, e só por uma razão muito simples: não fizeram metade do alarido durante a campanha. Nenhum dos dois me cativou especialmente, um apontamento aqui e ali, mas pouco, muito pouco a dar corpo às por aí apregoadas ideias frescas. E se parece um critério injusto, este o da cobertura mediática, é porque andaram distraídos nos últimos tempos. Felizmente, vêm aí as autárquicas e respectiva campanha, para corrigirem a desatenção, e outros 600 quilómetros, para eu acertar contas com mais uns quantos disquitos.
Em segundo lugar ficam os Japandroids, com Post-Nothing, superando o álbum homónimo dos xx, por uma unha negra, e só por uma razão muito simples: não fizeram metade do alarido durante a campanha. Nenhum dos dois me cativou especialmente, um apontamento aqui e ali, mas pouco, muito pouco a dar corpo às por aí apregoadas ideias frescas. E se parece um critério injusto, este o da cobertura mediática, é porque andaram distraídos nos últimos tempos. Felizmente, vêm aí as autárquicas e respectiva campanha, para corrigirem a desatenção, e outros 600 quilómetros, para eu acertar contas com mais uns quantos disquitos.
domingo, 27 de setembro de 2009
sábado, 26 de setembro de 2009
(Don't) Stop me if you think you've heard this one before
É verdade que estéticas e devoções tão inequivocamente assumidas raramente dão grandes resultados. Regra geral, porque servem quase sempre para camuflar a falta de ideias próprias ou de coragem. Não é o que sucede com os Cats on Fire, e aquele que tinha tudo para ser só mais um caso de seguidismo inócuo, transforma-se, quase miraculosamente (se considerarmos a combinação grandes músicas + grandes letras, um milagre), num caso sério de fazedores de elegantes e viciantes canções pope. Como tão bem resume, Mattias Bjorkas (do alto da sua melhor pose morriseyana), em Letters From a Voyage to Sweden: "I can confirm, it's blood, sweat and sperm".
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
A ti, não retirou Darwin a santidade
Não dás gargalhadas, só uma risadinha afectada. Não tens fome, tens apetite. Não andas, pairas. Não chegas, apareces. Não gritas, levantas a voz. Não suas, humedeces. Não dizes, sugeres. Não comes, petiscas. Não te embebedas, alegras-te. Não discutes, discordas. Não envelheces, amadureces. Não danças, deslizas. Não amas, gostas. Não tens piada.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Caça ao voto
Mesmo em tempo de campanha eleitoral é inacreditável a bipolarização das temáticas de conversa. Não, ainda não tenho página de facebook, e não, ainda não fui ver o Inglourious Basterds.
Mas já faltou mais para chegar o ano novo, e montadas no seu dorso, novas resoluções.
Mas já faltou mais para chegar o ano novo, e montadas no seu dorso, novas resoluções.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Caem petas do céu
Guido: Boy, you know, droppin' a bomb is like tellin' a lie. Makes everything so quiet. Pretty soon you don't hear anything, you don't see anything.
em The Misfits, argumento de Arthur Miller
em The Misfits, argumento de Arthur Miller
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
sábado, 19 de setembro de 2009
Errata
Relembram-me, muito pertinentemente, que o já referido dueto Dina/Lena d'Água não foi o único que me levou à descoberta de segredos profundos do meu corpo neste último mês, já que fui também abençoado com a oportunidade de deleitar os meus ouvidos com um dueto entre Frank Sinatra e Bono Coiso da I've Got You Under My Skin. Foi num carro, mas felizmente não ia eu a conduzir. Indaguei por aí e parece que todo o álbum, Duets de 1993, é uma verdadeira desgraça, não passando de uma colagem da voz dos convidados em cima das velhas canções do Sinatra. Menos mal. Dizem-me também que é impossível não me lembrar desta prodigiosa canção quando saiu, tal foi a exposição que mereceu. Não comento, mas dou graças a Deus, não pelas nações e pássaros que foram coniventes com este assassinato, mas pelo inconsciente freudiano. Vão lá abrir o caixão do Old Blues Eyes, que ele já teve tempo mais do que suficiente para ganhar juízo e aquilo já deve estar tipo o do Carlos Paião.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Da economia dos afectos
No hora de elaborar o balancete analítico, se perceberá por fim, que o que equilibra e desequilibra a balança comercial, não são os sorrisos e os braços abertos a quem chega, mas sim a quem parte. Hey, that's no way to say goodbye.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
O amor a três
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
O enfarte
Ao contrário de muitos, cuja rentrée é marcada por um regresso às aulas, a minha este ano é marcada por uma espécie de fim de aulas, chegado que é o tempo de pôr em prática os ensinamentos colhidos durante o mês e picos que passou desde as últimas palavras dactilografadas neste blogue. E tanto que aprendi.
Aprendi que sim, é possível apaixonarmos-nos, não por uma, não por duas, mas por três pessoas ao mesmo tempo. Aprendi que ler primeiro o argumento do Synecdoche, New York e ver depois o filme é um dos melhores workshops de guionismo jamais disponíveis. Aprendi que o trilho Biberkopf não cessará de chamar por mim, e que os artigos da Alexandra Lucas Coelho no Público sobre Berlim foram das melhores coisas que se puderam ler este Verão. Aprendi que há homens e mulheres épicos à solta pelo pavimento lisboeta. Aprendi que o onirismo em alta definição do Michael Mann é "a linguagem que vamos andar todos a imitar daqui a dois anos". Aprendi que o cosmos é uma ilusão mas que a confluência cósmica é tão real quanto nós a desejarmos. Aprendi que o último do Bill Callahan não só é um dos melhores discos deste ano, como andava negligenciado cá por casa há uns tempos valentes e que agora que finalmente o abraçei não consigo desgrudar mais. Aprendi que há pilosidades eriçáveis em zonas do meu corpo que eu desconhecia, cortesia de um dueto televisivo entre a Dina e a Lena d'Água. Aprendi a relativizar a catalogação de pseudo-intelectual porque há quem seja catalogada/o de pseudo-hermafrodita. Aprendi que se não fosse o meo trocar-me as voltas poderia estar a seguir tranquilamente uma mistura perfeita de fumo, uísque e vestidos em balão, de seu nome Mad Men, que prova que mais do que o Elvis ou o Kurt são o Cheever e o Carver que estão vivinhos da silva. Aprendi que não faço parte da geração das amizades via net mas afinal faço, e porra, é um prazer. Aprendi, observando um grupo de rapazes em cima de um palco, que se há coisa que a música tem que ter sempre, é coragem, muita coragem. Aprendi que depressão pós-parto não é coisa exclusiva de mulheres de tornozelos inchados e seios volumosos.
Aprendi que sim, é possível apaixonarmos-nos, não por uma, não por duas, mas por três pessoas ao mesmo tempo. Aprendi que ler primeiro o argumento do Synecdoche, New York e ver depois o filme é um dos melhores workshops de guionismo jamais disponíveis. Aprendi que o trilho Biberkopf não cessará de chamar por mim, e que os artigos da Alexandra Lucas Coelho no Público sobre Berlim foram das melhores coisas que se puderam ler este Verão. Aprendi que há homens e mulheres épicos à solta pelo pavimento lisboeta. Aprendi que o onirismo em alta definição do Michael Mann é "a linguagem que vamos andar todos a imitar daqui a dois anos". Aprendi que o cosmos é uma ilusão mas que a confluência cósmica é tão real quanto nós a desejarmos. Aprendi que o último do Bill Callahan não só é um dos melhores discos deste ano, como andava negligenciado cá por casa há uns tempos valentes e que agora que finalmente o abraçei não consigo desgrudar mais. Aprendi que há pilosidades eriçáveis em zonas do meu corpo que eu desconhecia, cortesia de um dueto televisivo entre a Dina e a Lena d'Água. Aprendi a relativizar a catalogação de pseudo-intelectual porque há quem seja catalogada/o de pseudo-hermafrodita. Aprendi que se não fosse o meo trocar-me as voltas poderia estar a seguir tranquilamente uma mistura perfeita de fumo, uísque e vestidos em balão, de seu nome Mad Men, que prova que mais do que o Elvis ou o Kurt são o Cheever e o Carver que estão vivinhos da silva. Aprendi que não faço parte da geração das amizades via net mas afinal faço, e porra, é um prazer. Aprendi, observando um grupo de rapazes em cima de um palco, que se há coisa que a música tem que ter sempre, é coragem, muita coragem. Aprendi que depressão pós-parto não é coisa exclusiva de mulheres de tornozelos inchados e seios volumosos.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
terça-feira, 4 de agosto de 2009
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
domingo, 2 de agosto de 2009
sábado, 1 de agosto de 2009
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Soa o alarme santo
É urgente ir abraçar o novo James Gray numa sala escura. A redenção segundo São Ford.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
quarta-feira, 29 de julho de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
Pseudo-opinião
Poder, contra-poder, blogoconferências, fãs indignados, comunicados de clubes, muito adjectivação começada por pseudo. É impressão minha ou a blogosfera também anda a precisar de férias?
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Para abanar o esqueleto
Bradford Cox é um dos gajos mais fixes à face do planeta. Isto ficou inequivocamente provado no Lux há coisa de dois mesitos algures a meio da sua versão de vinte minutos de Neil Young, em conjunto com membros dos Haunted Grafitti que nunca tinham ouvido falar de tais acordes. E num raro momento de justiça divina, é também dos mais talentosos. Para além de frontman dos Deerhunter, é também o homem por trás do projecto Atlas Sound, cujo primeiro álbum Let The Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel de 2008, superou em muito a qualidade do trabalho até aí editado dos Deerhunter (situação prontamente rectificada ainda em 2008 com o magnífico Microcastle). Depois de, enquanto Atlas Sound, ter andado em tour com os Animal Collective (que passou pelo Lux), apaixonou-se pelo som destes e pelas inúmeras portas que lhe abriam. Vai daí, convidou Noah Lennox, o panda, para uma colaboração que é a primeira faixa a ser lançada de Logos, o próximo álbum enquanto Atlas Sound. Chama-se Walkabout, pode-se ouvir aqui, e tá cheia de boas vibrações. Dançai, minha gente, dançai!
domingo, 26 de julho de 2009
sábado, 25 de julho de 2009
Na Graça como no Lido
Ontem, quando passava pela Graça, do meio de um grupo de turistas, surge disparado o jovem Tadzio, serpenteando por entre torres eslavas como se a sua vida dependesse disso. Logo atrás, seguia a explicação para tão desenfreada correria. O bafo quente de Aschenbach no seu pescoço. Não parei para assistir ao desfecho. Foi melhor assim.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Message kids
Betty Schaefer: Hello, Mr. Sheldrake. Bases Loaded, I covered it with a two page synopsis.
Sheldrake: Thank you.
Betty Schaefer: But I wouldn't bother.
Sheldrake: What's wrong with it?
Betty Schaefer: It's from hunger.
Sheldrake: Nothing for Ladd?
Betty Schaefer: It's just a reash of something that wasn't very good to begin with.
Sheldrake: I'm sure you'll be glad to meet Mr.Gillis. He wrote it. This is Miss Kramer.
Betty Schaefer: The name is Schaefer. Betty Schaefer. Right now, I wish I could crawl in a hole and pull it in after me.
"Joe" Gillis: If I can be of any help.
Betty Schaefer: I'm sorry Mr. Gillis, but I just didn't think it was any good. I found it flat and trite.
"Joe" Gillis: Exactly what kind of material do you recommend? James Joyce? Dostoyevsky?
Betty Schaefer: I just think that pictures should say a little something.
"Joe" Gillis: Oh, one of the message kids. Just a story won't do. You'd have turned down Gone With the Wind.
Sheldrake: No, that was me. I said: "Who wants to see a Civil War picture?"
Betty Schaefer: Perhaps the reason I hated Bases Loaded is that i knew your name. I'd always heard you've had some talent.
"Joe" Gillis: That was last year. This year I'm trying to earn a living.
Betty Schaefer: So you take plot 27A, make it glossy, make it slick...
Sheldrake: Ah, ah, ah... Those are dirty words. You sound like a bunch of New York critics. That will be all Miss Kramer...Schaefer.
Betty Schaefer: Goodbye Mr. Gillis.
"Joe" Gillis: Next time, I'll write you The Naked and the Dead!
em Sunset Boulevard, argumento de Billy Wilder, Charles Brackett e D.M.Marshman Jr.
Sheldrake: Thank you.
Betty Schaefer: But I wouldn't bother.
Sheldrake: What's wrong with it?
Betty Schaefer: It's from hunger.
Sheldrake: Nothing for Ladd?
Betty Schaefer: It's just a reash of something that wasn't very good to begin with.
Sheldrake: I'm sure you'll be glad to meet Mr.Gillis. He wrote it. This is Miss Kramer.
Betty Schaefer: The name is Schaefer. Betty Schaefer. Right now, I wish I could crawl in a hole and pull it in after me.
"Joe" Gillis: If I can be of any help.
Betty Schaefer: I'm sorry Mr. Gillis, but I just didn't think it was any good. I found it flat and trite.
"Joe" Gillis: Exactly what kind of material do you recommend? James Joyce? Dostoyevsky?
Betty Schaefer: I just think that pictures should say a little something.
"Joe" Gillis: Oh, one of the message kids. Just a story won't do. You'd have turned down Gone With the Wind.
Sheldrake: No, that was me. I said: "Who wants to see a Civil War picture?"
Betty Schaefer: Perhaps the reason I hated Bases Loaded is that i knew your name. I'd always heard you've had some talent.
"Joe" Gillis: That was last year. This year I'm trying to earn a living.
Betty Schaefer: So you take plot 27A, make it glossy, make it slick...
Sheldrake: Ah, ah, ah... Those are dirty words. You sound like a bunch of New York critics. That will be all Miss Kramer...Schaefer.
Betty Schaefer: Goodbye Mr. Gillis.
"Joe" Gillis: Next time, I'll write you The Naked and the Dead!
em Sunset Boulevard, argumento de Billy Wilder, Charles Brackett e D.M.Marshman Jr.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
O trilho Biberkopf
Levantar o corpo maçado de um balcão lacerado. Deixar o sangue e as memórias para trás, em Potsdamer Platz. Lavar o rosto com as águas escuras do Spree e deambular pela Alex ao romper da madrugada. Encostar o ouvido no chão fumegante e escutar o pulsar do submundo, a sua lengalenga incessante. Já faltou mais.
terça-feira, 21 de julho de 2009
It's a wonderful life
O fotógrafo norte-americano Slim Aarons foi o cronista por excelência da good life dos aristocratas e dos ricos durante as décadas de 50, 60 e 70. Não havia lugar para tristeza ou melancolia nas suas fotografias. As mulheres e os homens, sempre belos, elegantes e bronzeados, eram retratados ora em posses informais, divertindo-se em conjunto ou expostos quase como naturezas mortas envolvidas pelo seu mundo deslumbrante de piscinas, palácios e glamour. Fotografou capas para a Life Magazine e outras publicações de topo da época e descreveu assim a sua carreira: "photographing attractive people doing attractive things in attractive places". Morreu em 2006, deixando-nos fotografias como esta aí em baixo, da sua mulher, Rita Aarons numa piscina no Natal de 1954 em Hollywood.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
domingo, 19 de julho de 2009
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